Hela de Cate Blanchett amplia drama familiar de Thor e incendeia "Ragnarok"
Terceiro filme da série do herói estreia nesta quinta-feira
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Já havia uma complicação familiar em "Guardiões da Galáxia 2", um conflito entre pai e filho, mas não se compara aos estragos que Hela faz no clã dos deuses Aesir. Como Thor e Loki, Hela é filha de Odin e ajudou o pai a conquistar o domínio da galáxia. O problema é que Odin deixou de ser um deus sanguinário e baniu a filha de seu reino. Hela, a deusa da guerra, está de volta, e com um visual punk tão agressivo que... Espere, é Cate Blanchett, trazendo para o universo dos comics, e da Marvel, o extraordinário talento que já lhe valeu dois Oscars - melhor coadjuvante, por "O Aviador", de Martin Scorsese, e melhor atriz, por "Blue Jasmine", de Woody Allen.
Hela desestabiliza o universo de Thor. De cara, e como se fosse nada, ela destrói o mítico martelo do herói, o que projeta o deus do trovão numa espécie de crise existencial. O impasse se agrava ainda mais quando Thor, transformado em lixo espacial pela irmã, é resgatado por uma amazona renegada para virar atração na arena do Grandmaster, enfrentando... Hulk! Tudo isso já estava no trailer e, portanto, não é spoiler.
Só é preciso acrescentar que o título, "Ragnarok", vem da mitologia - Asgard, o Valhala de Thor, Odin e Loki, será destruído pelo fogo. É muito interessante ver como e por que a profecia se cumpre no novo filme, e o que significa a destruição do lar. Com a segunda chance, o retorno ao lar, de "...E o Vento Levou", o épico romântico do produtor David Selznick, a "E.T.", de Steven Spielberg, é um dos temas viscerais do cinema de Hollywood. "Thor: Ragnarok" confronta mitologias, portanto.
Na Marvel ou na DC Comics, há uma complexidade humana no universo dos super-heróis que muita gente ainda se recusa a admitir. É reducionismo considerar que filmes baseados em HQs sejam meras tolices, ou apenas invólucros para efeitos especiais. A série Batman de Christopher Nolan foi profética na abordagem de questões relativas a poder e segurança na internet. O perigo do furacão (Donald) Trump já estava lá. O Superman de Zack Snyder vive no centro
de uma tragédia familiar. Seu primeiro filme era sobre o pai, o segundo, dividindo a cena com Batman, sobre a mãe. A definição de tragédia não é excessiva. Zack Snyder costuma ser criticado pelo que alguns críticos consideram falta de humor. Pois com falta de humor e tudo, só apostando no pathos, ele consegue números extraordinários com seus blockbusters. E isso é um fenômeno.
James Gunn, pelo contrário, aposta no humor na série "Guardiões na Galáxia". O segundo, trabalhado por Snyder, seria uma tragédia. Com Gunn vira uma festa, e bate recordes de público. Como se explica que obras tão diversas sejam produzidas pela mesma máquina de sucessos? Tem a ver com os diretores, claro, e o nó górdio é aceitar que os Nolan, Snyder, Gunn sejam autores. O caso de Taika Waititi parece particularmente desconcertante. Comediante, ator, diretor, escritor e pintor da Nova Zelândia, ele veio de filmes pequenos, indies, antes de terminar à frente de "Ragnarok".
Como se faz a passagem para o blockbuster? No caso de Waititi, ele ainda faz um papel no próprio filme. É o gigante de pedra Borg, e tem feito tanto sucesso nas redes sociais que Kevin Feige, presidente da Marvel, já admite acrescentá-lo à franquia formando dupla com o alienígena insectoide Miek. Waititi já disse que topa, mas só se o pacote for completo, e ele seguir como diretor de um provável "Thor 4".
No terceiro, que é bem estruturado, todo esse arcabouço dramático - o desaparecimento do pai, a destruição de Asgard, os destrutivos laços familiares -, mas a própria veia cômica de Taika Waititi o leva a destensionar seu relato por meio do humor. A expectativa é de novo megassucesso e logo em seguida ainda virá, este ano, a "Liga da Justiça" de Zack Snyder.
Confira o trailer: