Intercâmbio depois dos 40

Intercâmbio depois dos 40

As viagens de estudo, antes destinos de jovens estudantes, conquistam a cada ano esse novo público

Júlia Endress

Mayse fez o primeiro intercâmbio aos 44 anos, casada e mãe de três filhas

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Professora de inglês, a mato-grossense Mayse Duarte, de 46 anos, viveu em 2013 uma experiência ainda considerada por muitos fora do padrão. Na metade daquele ano, ela deixou a caçula, na época com cinco anos, sob os cuidados do marido e das filhas mais velhas e partiu para um intercâmbio de dois meses em Nova York. Com todo o apoio da família e uma bolsa do “Programa de Desenvolvimento de Professores de Inglês” para estudar na ST John’s University, ela decidiu escantear qualquer dúvida e aproveitar a oportunidade. “Antes disso, eu nunca havia pensado em fazer intercâmbio. Quando se tem três filhos há outras prioridades, e também rolava certo preconceito de que isso é coisa de adolescente, mas dessa vez eu não tinha como dizer não”, conta, revelando ainda que a cobrança dos alunos para conhecer um país de língua inglesa também pesou na decisão.

Mayse é só um exemplo entre as muitas pessoas que estão encarando o intercâmbio na fase adulta. Para se ter uma pequena ideia do que esse movimento representa, de acordo com pesquisa da Belta, uma associação do setor, a quantidade de programas para pessoas na faixa etária de Mayse pulou de 2,8%, em 2010, para 10% em 2013. Enquanto isso, a procura desse público também saltou de 6,3% para 19,7% no mesmo período. Segundo Paula Flores, gerente de vendas da agência de viagens STB Trip & Travel, os números que revelam o crescimento estão acompanhados de um perfil desses novos estudantes: preferem cursos de curta duração e hospedagem em casa de família.

Foi seguindo tal padrão que o aposentado Paulo Levigne, de 69 anos, buscou um intercâmbio. Depois de anos se dedicando às aulas de francês em Porto Alegre, ele achou que era hora de ir conhecer Paris. “Usei o curso como um passaporte para viajar porque sempre tive vontade, mas faltava impulso”, diz. Apesar de confessar ter ficado com receio de fazer a viagem em função da idade e das dificuldades com o idioma, Paulo garante que superou as preocupações ao se inserir na rotina da cidade. “O intercâmbio é muito enriquecedor, ao ouvir os nativos falando a nossa pronúncia melhora”, considera, salientando ainda que combinar o estudo de línguas com a viagem é uma forma de se manter ativo na chamada “terceira idade”.

Ana Flora Bestetti, supervisora regional da CI Intercâmbio, enxerga nesse depoimento do Paulo a significativa mudança de comportamento. “A sociedade entendeu que a vida não acaba aos 40 ou 50 anos e que há muitas possibilidades na fase adulta”. Ela também analisa que as facilidades e as informações dos dias atuais fazem com que as pessoas se sintam mais confortáveis para fazer este tipo de viagem, mesmo que signifique ficar um tempo longe dos filhos pequenos, como aconteceu com Mayse.

Esse cenário também acabou influenciando o intercâmbio de Elizabete Salimen Agrello, de 59 anos, que passou três semanas em Bath, no interior da Inglaterra, aprimorando seus conhecimentos em inglês. “Comecei a estudar o idioma tarde, com 57 anos, já depois da aposentadoria, mas como sempre gostei de viajar sozinha, achei que o intercâmbio seria uma boa oportunidade, até para aprender mais”, comenta. Com o desafio de ir pela primeira vez para um país de língua inglesa, ela ficou cerca de um ano organizando a viagem e se preparando para chegar lá segura e sem medo de conversar com as pessoas em outro idioma. O resultado? A viagem dos sonhos. A cidade era pequena, acolhedora, a pessoa que recepcionou a Elizabete foi uma exímia guia turística e as dificuldades passaram longe do percurso.

Manhã e tarde

Outro ponto em comum para quem investe em intercâmbio após os 40 é o método de estudo: aulas pela manhã, para ganhar a tarde livre. “Programas de cidades tradicionais como Toronto, São Francisco, Londres e a Europa, como um todo, já estão se estruturando assim, priorizando aulas pela manhã para atender melhor os adultos”, informa Paula. No entanto, a maioria das escolas não oferece cursos exclusivos para esta faixa etária. O que acontece é uma separação clássica de acordo com o nível de desenvolvimento do idioma. “Essa fórmula, na verdade, é muito positiva porque é determinante para a interação entre os alunos. Mesmo que se misturem com gente mais jovem, essa é a melhor maneira de conviver - e muitos adultos veem isso como uma forma de se reciclar”, considera Cristiano Simões da agência S7 Study.

Elizabete concorda, e aproveita para destacar que a troca de experiências em um intercâmbio vai muito além da idade, já que o contato com outros turistas oferece imersão em culturas distintas. Por isso, o saldo da viagem foi tão positivo que ela já planeja um novo roteiro no ano que vem. “Acho que todas as pessoas acima de 50 anos devem tentar fazer um intercâmbio porque é uma experiência de vida. A gente sai da zona de conforto e tem maturidade suficiente para vencer os medos”, conclui, com propriedade.

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