"Les Misérables" ganha nova versão refletindo os dias atuais

"Les Misérables" ganha nova versão refletindo os dias atuais

Montagem brasileira do famoso musical é realizada por Claudio Botelho

AE

Ator espanhol Daniel Diges interpreta o protagonista Jean Valjea

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O diretor inglês Adrian Sarple acompanhou de perto a fervura política brasileira que culminou, no ano passado, com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Fiquei fascinado com o confronto entre apoiadores e opositores, na avenida Paulista. Aquele enfrentamento popular me convenceu de que trabalho com uma história ainda muito atual, mesmo se passando no século 19." Ele é o diretor associado da montagem de "Les Misérables", monumental musical que estreia no dia 10 de março, no Teatro Renault, em São Paulo.

O espetáculo que chega a solo paulista depois de ser visto por mais de 70 milhões de pessoas em 44 países é uma versão ligeiramente mais enxuta, portanto, mais ágil que o original, que estreou em 1985, em Londres. "As canções são as mesmas, criadas por Alain Boublil e Claude-Michel Schönberg, mas o produtor, Cameron Mackintosh, repaginou a produção para seu 25º aniversário, em 2010. E é essa versão que chega aqui agora", explica Sarple em conversa com a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, que também acompanhou parte do ensaio.

O diretor inglês, que também figurou na ficha técnica da versão cinematográfica de 2012, comenta que a evolução tecnológica, que reeducou a atenção das pessoas, tornando-as mais propensas a narrativas ágeis, foi decisiva. "A primeira produção era shakespeariana, musculosa, com muita tensão", observa. "Claro que era um trabalho excepcional, mas exigia muito do espectador, ao contrário dessa nova versão".

Inspirada no livro homônimo do escritor francês Victor Hugo, a obra acompanha as histórias cruzadas de Jean Valjean, ex-condenado que, no século 19, torna-se prefeito de uma cidade francesa. Lá, ele protege Fantine, uma de suas empregadas, que sofre por ser mãe de uma criança ilegítima, Cosette. Valjean é então obrigado a sempre fugir de Javert, inspetor de polícia que o reconhece como um ex-condenado, além de cuidar de Cosette quando morre sua mãe.

Como pano de fundo, a inquietação dos pobres, na iminência de armar uma revolta devido à morte do general Lamarque, único membro do governo que se mostra sensível à sua penosa situação. "As canções são poderosíssimas e, ao contrário de outros musicais, foram criadas em conjunto pelo letrista e pelo autor da melodia", conta o espanhol Alfonso Casado Trigo, supervisor musical. "Isso faz  uma enorme diferença, pois cada verso encontra uma bela resposta melódica. Daí a importância da versão brasileira, muito bem realizada por Claudio Botelho."

De fato, a missão de Botelho - responsável por grandes musicais montados no Brasil ao lado de Charles Möeller - foi encontrar a melhor versificação que se encaixasse na melodia, ao mesmo tempo em que mantivesse o naturalismo da oralidade brasileira. Enfim, manter uma linguagem coloquial de uma forma que não traísse o texto original.

Esse trabalho foi essencial para o também espanhol Daniel Diges, que assume o papel protagonista de Jean Valjean. Titular da montagem em seu país, onde sua surpreendente extensão vocal provocou arrepios na plateia, ele se tornou um obcecado em se adaptar à língua portuguesa. "Meu idioma é parecido, mas preciso descobrir, na língua dos brasileiros, os pontos que trazem emoção. Jean Valjean é um personagem fascinante, mas carregado de emoção. Não consigo sair de algum ensaio sem ter chorado muito", comenta.

Sentimentos exacerbados, aliás, são observados em quase todas as cenas. "Quando entro no palco, eu me lembro das mulheres injustiçadas, aquelas que, ainda hoje, são obrigadas a se prostituir para cuidar dos filhos", comenta Kacau Gomes, que vive Fantine. "Sou mãe de um menino de um ano e isso foi determinante para minha escolha na seleção: acredito que eles viram realidade na minha maternidade." Assim como o diretor, ela aponta também para a realidade do texto.

"As classes sociais estão gritando, no palco e nas ruas", diz. "O sentimento de injustiça é grande e as pessoas lutam por igualdade." Pelo mesmo caminho trilha Nando Pradho, que interpreta Javert. "A identificação é grande, o público sente isso, o que nos deixa emocionado", comenta o veterano ator.

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