Modelo congolesa em Hong Kong contra os cânones de beleza asiáticos

Modelo congolesa em Hong Kong contra os cânones de beleza asiáticos

Desde o início de sua carreira, Harmony "Anne-Marie" Ilunga percebeu que dificilmente havia modelos como ela nas revistas de Hong Kong

Rose Troup Buchanan, de AFP

Aos 22 anos, a modelo resolveu lutar para romper os clichês da moda chinesa

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Desde o início de sua carreira, Harmony "Anne-Marie" Ilunga percebeu que dificilmente havia modelos como ela nas revistas de Hong Kong. Então, essa mulher negra de 22 anos resolveu lutar para romper os clichês da moda chinesa. 

A onda "Black Lives Matter" trouxe o debate sobre a representação das modelos nos Estados Unidos e na Europa. Mas, na Ásia, a moda ainda é dominada pelo ideal da mulher magra e de pele clara, distante da realidade da região.

"Quando ia às agências, diziam-me que preferiam modelos brancas às negras", conta Ilunga, que chegou como refugiada da República Democrática do Congo em Hong Kong.

"Eu tinha 17 anos e foi muito difícil".

Nesta cidade de 7,5 milhões de habitantes e cerca de 600 mil pessoas que não são de origem chinesa, reina o cânone das modelos "altas, de pele clara e magras", explica Ilunga. Uma tendência que também ocorre na China continental.

"Comecei a usar produtos de clareamento da pele, só para seguir a norma", diz. 

Rejeitada aonde quer que fosse, Ilunga decidiu fundar sua própria agência em 2018 para dar visibilidade às modelos independente de sua origem.

"A representação tem um peso enorme", afirma. Ilunga vê a moda como uma arma para mudar mentalidades para que as mulheres não sintam a necessidade de se adaptar a uma norma.

Cabelo crespo

Sua agência representa 32 modelos, homens e mulheres de países tão diversos como Ruanda, Burundi, Paquistão, Índia, Sri Lanka, Nepal ou Filipinas.

Porém, mudar os cânones não é tão simples, reconhece Ilunga ao detalhar o tipo de cliente que busca escapar dos estereótipos da moda chinesa.

"Costumam ser marcas locais que buscam se expandir internacionalmente", explica. 

Os modelos masculinos negros têm mais aceitação porque são vistos como "estilosos e elegantes", mas para as mulheres é mais difícil.

Ilunga lembra de um encontro com uma cliente em que apresentou uma modelo mestiça com traços africanos e asiáticos. 

"Tinha feições asiáticas, mas cabelos crespos e isso, para o cliente, não era aceitável", conta Ilunga.

Mas os cânones asiáticos tradicionais não são apenas a cor da pele. Agora que nos Estados Unidos ou na Europa a moda começa a mostrar corpos normais, na Ásia ainda são obcecados pela magreza.

"Manter-me magra"

Segundo Laurence Lim Dally, da consultoria Cherry Blossoms Intercultural Branding, que assessora empresas internacionais em suas campanhas chinesas, o consumidor local continua esperando que as marcas estejam em conformidade com seus padrões de beleza.

"Estar gordo é percebido como aquela pessoa não se cuida, ao contrário do que diz o preceito confucionista sobre o desenvolvimento pessoal", afirma.

Mia Kang, uma modelo eurasiana que cresceu em Hong Kong, viveu com essa pressão.

Ela ficou anoréxica e bulímica, tomou remédios, "tudo ao meu alcance para me manter magra".

Segundo Kang, a pressão sobre os modelos é muito forte em todos os lugares, mas na Ásia é pior. 

Em seu livro "Knockout", Kang conta como, ao voltar da Europa aos vinte anos, foi informada que precisava perder peso.

"O ideal de uma mulher na Ásia é muito mais estrito do que no Ocidente", explica, e de acordo com seu relato, o sucesso não veio até que deixou Hong Kong.

"O mercado asiático começa timidamente a se abrir e a trabalhar para que haja mais diversidade", afirma.


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