Morre aos 105 anos Manuela de Azevedo, a primeira jornalista portuguesa

Morre aos 105 anos Manuela de Azevedo, a primeira jornalista portuguesa

Ela trabalhou como repórter até os 85 anos, mas continuou escrevendo até o seu último dia

Correio do Povo

Entre seus grandes trabalhos está uma entrevista com o ex-rei Humberto de Itália

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A primeira jornalista portuguesa, Manuela de Azevedo, morreu nesta sexta-feira aos 105 anos, em Lisboa. Ela estava internada no Hispital São José desde terça-feira, informou o Sindicato dos Jornalistas do país em comunicado, que não revela a causa do óbito. Ela foi a primeira mulher a receber, em terras lusófonas, a carteira profissional de jornalista, quando já havia mais de 200 homens registrados. Além de repórter e crítica de teatro, também é conhecida pela criação da Casa-Memória de Camões, na cidade de Constância, e pela sua obra literária, entre elas o livro de contos "O pão que o diabo amassou", lançado há apenas dois anos.

Dona de uma lucidez invejável e de uma extraordinária capacidade de trabalho, Manuela nasceu em 31 de Agosto de 1911, e passou a adolescência na Beira Alta, onde fez o curso dos liceus em Viseu, ensinou Português e Francês num colégio privado daquela cidad. Muito do seu interesse pelo jornalismo deve-se ao pai, que era correspondente do jornal “O Século”, em Mangualde, onde viviam. Leitora assídua do diário matutino, começou carreira na comunicação como redatora do jornal "República", em 1935.

Depois, foi para o "Diário de Lisboa" e se aposentou aos 85 anos, no "Diário de Notícias". Um de seus textos mais icônicos é uma entrevista com o ex-rei Humberto de Itália, que se exilou em Portugal, depois da implantação de república italiana, em 1946. Para conseguir a façanha, ela se passou por empregada para conseguir ter acesso à residência onde ele estava. Entre muitas das personalidades que conheceu e entrevistou está também o Nobel de Literatura Ernest Hemingway.



Em 1952, quando foi pela primeira vez ao pequeno município de Constância, começou a construir uma paixão imensa por Camões. Durante mais de meio século, por conta disso, desenvolveu uma obra cultural notável, com destaque para a fundação da Associação e a construção da Casa-Memória sobre as ruínas da casa que o povo diz ter acolhido o lendário poeta durante a sua estadia na vila, a criação do Jardim-Horto Camoniano e a instalação do Monumento a Camões. Em 2015, foi agraciada pelo na época presidente português Aníbal Cavaco Silva com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade, em cerimônia no Palácio de Belém.

"A jornalista que desafia a natureza", escreveu Luíz Humberto Marcos, diretor do Museu Nacional da Imprensa, que editou a maior parte das publicações a partir de 2009. Ultimamente, Manuela de Azevedo estava trabalhando num livro com cerca de 200 cartas, a maior parte delas já comentadas. A centenária foi romancista, ensaísta, poeta e contista, tendo escrito também peças de teatro, uma delas censurada pelo regime de Salazar, tendo ainda enfrentado a censura num artigo que escreveu em 1935 sobre a eutanásia.

Logo após a Revolução de 25 de Abril, que tirou o ditador do poder, integrou o “grupo dos saneados” do “Diário de Notícias”, formado por profissionais que se opuseram ao regime. Seus livros são, além do último lançamento, em 2015, "Claridade" (1935), "Um Anjo Quase Demônio" (1945), "Filhos do Diabo" (1954), "À Sombra d'Eça e Camilo" (1969), "Guerra Junqueiro" (1981) e "Memórias de uma mulher de letras" (2009), que relembra os principais acontecimentos e as principais reportagens de sua trajetória profissional.

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