Mostra Internacional de Teatro inicia nesta quinta em São Paulo

Mostra Internacional de Teatro inicia nesta quinta em São Paulo

Evento terá 24 espetáculos que discutem a diversidade, com diferentes olhares temáticos

Luiz Gonzaga Lopes

"By Heart" discute bastidores do teatro sob a visão do ponto, profissional que sopra as falas

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 A 7ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo inicia sua programação nesta quinta, 5 de março, às 20h, com “Multidão” (Crowd), da diretora e coreógrafa franco-austríaca Gisèle Vienne, que mostra 15 jovens em uma ciranda de emoções numa festa Techno, no Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, em São Paulo. A mostra segue até o dia 15 com 24 espetáculos, 12 internacionais e 12 nacionais, além de uma vídeo-instalação, performances, atividades reflexivas e pedagógicas em diversos espaços da capital paulista. 

Com os eixos Mostra de Espetáculos, Ações Pedagógicas, Olhares Críticos e MITbr - Plataforma Brasil, a MITsp, em seu sétimo ano consecutivo, mantêm a ideia original de reunir em um festival espetáculos que buscam a experimentação e a investigação da linguagem cênica, sendo uma antena do mundo teatral e também do real.

Com os idealizadores Antonio Araújo (Teatro da Vertigem) e Guilherme Marques (Ecum - Encontro Mundial das Artes Cênicas), como diretor artístico e diretor geral de produção, a Mostra segue em busca de diferentes olhares para a diversidade. 

Conforme Antonio Araújo, a Mostra é sim um lugar de posicionamento político, de resistência e de tratar de temas que no Brasil estão sendo maltratados.

“Os espetáculos que compõem a Mostra não caem na diversidade abstrata. Saímos da vertente do teatro documentário para espetáculos, ações e performances que discutem os temas necessários, mas com mais teatralidade, não tão realista, com elementos poéticos e lúdicos, como é o caso de ‘Farm Fatale’ (Alemanha/França) ou ‘Contos Imorais – Parte 1: Casa Mãe”, no qual a Phia Menard, discute a questão dos refugiados, com elementos cenográficos que vão sendo construídos em cena a partir de uma estrutura de papelão”, destaca o diretor artístico Antonio Araújo.

Araújo lembra que os espetáculos internacionais têm propostas variadas de investigação cênicas e de proposta dramatúrgica, como é o caso do Artista em Foco, o ator, diretor e dramaturgo português Tiago Rodrigues, que apresenta os espetáculos “By Heart” e “Sopro”. O primeiro nasceu da relação de Tiago com sua avó Cândida, que decorava trechos de livros. Assim, ele memoriza versos enquanto fala de sua avó quase cega.

Teatro e seus bastidores

No segundo, ele homenageia o teatro e seus bastidores, com peça construída a partir de Cristina Vidal, que há quase três décadas trabalha como ponto (pessoa que sopra fala para os atores) no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. “O Tiago Rodrigues trabalha com o uso das suas próprias memórias, mas não é documental, constrói o lúdico, o metafórico por sobre estas passagens reais. A tradição vai para outro lugar”, ressalta Araújo.

O diretor artístico da MITSP também lembra que a questão de gênero, das mulheres, dos trans, é objeto de olhar atento da mostra. “A própria Phia Menard discute o tema trans. Temos também ‘Burgerz’, da inglesa Travis Alabanza, que trata da transfobia, as montagens inglesa e brasileira do ‘Evangelho Segundo Jesus...’, a performance mexicana ‘Cicatriz’ com Lia Garcia, além de uma ação que vai integrar o que sofrem as indianas e as paulistanas, com uma caminhada noturna por lugares inseguros de São Paulo, com Malikka Taneja, de Nova Dehli, cidade que junto com São Paulo são as piores em segurança nos espaços públicos para as mulheres, e também ‘Sábado Descontraído’ que trata do genocídio das mulheres em Ruanda ”, afirma Araújo.

Questões como a dos refugiados e do outro como inimigo serão tratadas em “O Pedido”, uma situação que poderia acontecer em qualquer lugar nos dias de hoje: um congolês tenta entrar na Inglaterra e fica submerso no muro burocrático e xenófobo das grandes nações europeias e também em “Tu Amarás”, do grupo chileno Bonobo. “Ele é africano, negro, fala francês. Tem um muro imaginário pela frente. No espetáculo chileno, os outros são alienígenas, que sofrem preconceitos, tudo que é diferente as pessoas não aceitam”, revela.

Diálogo com outros eventos

A MITsp ainda abriga espetáculos seminais nacionais na MITbr, como “Gota D´Água {Preta}, de Jê Oliveira (SP), uma releitura de transposição da tragédia de Medeia, do musical de Chico Buarque e Paulo Pontes, para o subúrbio do Rio de Janeiro, com elenco todo negro, lidando com todas as questões do negro na periferia e a performance sobre o feminino ‘Stabat Mater’, com Janaina Leite (SP), além da artista em foco da MITbr, a cearense Andréia Pires, que apresenta dois espetáculos “Fortaleza 2040) e “Pra Frente o Pior”, com a Inquieta Cia.

“Os festivais e mostras de teatro tentam se manter e se reerguer neste cenário dos últimos anos, com cortes de verbas, patrocínios e editais. Conseguimos sobreviver e manter a qualidade. Temos interesse em dialogar cada vez mais com os outros eventos para podermos resistir. Tentamos fazer isto no Núcleo dos Festivais”, finaliza Araújo. 


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