O circo: do picadeiro à adaptação ao ambiente virtual

O circo: do picadeiro à adaptação ao ambiente virtual

6º Sesc Circo oferece em 2020 cinco dias de programação on-line gratuita, para todos os públicos


Vera Pinto

Grade tem 17 atividades, entre oficinas para crianças e adultos, bate-papos, espetáculos e mostra fotográfica de Ronald Mendes

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Transpor o Sesc Circo da Estação Férrea de Santa Maria para a web foi a maior provocação que o Sesc RS encontrou em tempos de pandemia, na realização da 6a edição do evento, desta quarta até domingo, reunindo artistas de todo o Brasil. Feito em parceria com a prefeitura daquela cidade e Corsan (patrocínio), o festival em 2020 contará com 17 atividades gratuitas, entre oficinas para crianças e adultos, bate-papos, espetáculos interativos e uma exposição. A transmissão se dará no YouTube e Instagram @sescrs, além da plataforma Zoom. Informações no site https://www.sesc-rs.com.br/sesccirco.

“Como estabelecer a programação, quanto tempo, como sensibilizar um público através de uma tela? São esses desafios maiores. A arte circense, mais que tudo, precisa do jogo com a plateia e como fazer esse jogo através de uma tela?”, questiona Jane Schoninger, coordenadora de Artes Cênicas e Artes Visuais do SescRS. Formatos mais curtos (entre 3min a 30min) foi a melhor opção, assim como a manutenção da diversidade de linguagem, como nas edições presenciais. Deixar evidente todos os movimentos considerados fundamentais no festival de circo, como as ações de formação, trocas e intercâmbio; encontros; espetáculos, eventos voltados à família e escola foi a prioridade, segundo a gestora. E tudo isso, em uma programação bem reduzida, devido ao próprio caráter virtual.

A palhaçaria feminina, que é recente no Brasil e remonta há 30 anos, ganhou evidência, em performances de mulheres palhaças; registros de profissionais da área de todo o país, no segmento “Escuta as Palhaças”; residência artística e através de roda de conversas para reflexão, assim como a negra e LGBT+. Neste sentido, Jane destaca que a “grade de um festival pode pode tornar-se responsável pela sensibilização de novos públicos, novos olhares, descobertas e até mudança de paradigmas pelo público participante. Para entrar no clima, a mostra do fotógrafo Ronald Mendes, de Santa Maria,  que acompanhou as três últimas edições do evento, traz um registro da magia, encantamento e beleza que o circo leva às comunidades. 

Programação
A abertura, hoje, às 14h, será com a oficina infantil de Bambolê, com Camila Matzenauer, que a partir de jogos propõe a descoberta do corpo, do movimento e suas potencialidades, de forma lúdica. Às 17h terá vez “Ensinar Brincando”, com Natália Dolwitsch mostrando o bambolê como recurso pedagógico para crianças e adolescentes, que estimula a imaginação e coordenação motora. Às 20h terá vez “Telepatia Argumentada”, com Ricardo Malerbi (SP). Em uma narrativa de caráter investigativo, o ilusionista faz simulações de fenômenos como telepatia e teletransporte, sem recursos de câmera ou edição. Ele explicita as diversas possibilidades de provar que não está trapaceando, enquanto admite a existência de um truque invisível, que torna possível executar os efeitos de mágica. Uma caixa trancada com cadeado fica em cena o tempo todo, sendo aberta apenas no final. Neste momento é revelado o seu interior, que coincide com as escolhas feitas pelo público, em tempo real, através de comentários da transmissão ao vivo. Em cena, efeitos como objetos que se teletransportam, levitam, desaparecem e se multiplicam.

Já o encerramento, dia 6, traz outro sucesso de edições anteriores, ”O Carteiro”, com André Sabatino, da Cia Irmãos Sabatino (SP), às 19h, é repleto de acrobacias múltiplas e inusitadas, palhaçadas, dança e improviso. Ambos estarão no Youtube e serão seguidos de uma conversa com os artistas. Para a comunidade escolar serão oferecidas seis oficinas, para as crianças aprenderem a brincar com bambolê, conhecer a construção de um personagem, fazer exercícios de expressão corporal, construir máscaras, trabalhar a improvisação e conhecer a história da palhaçaria. Já os educadores poderão conhecer formas de usar o bambolê e o malabarismo como recursos pedagógicos, a partir de ações e brincadeiras lúdicas, que estimulam a imaginação e a coordenação motora. 

A palhaçaria feminina
No dia 3, às 19h, no Curta Palhaças, Odetta Simonetti dará vida a Rarley Davidson (www.instagram.com/sescrs), uma espécie de anti-heroína, que busca saber quem é e seu lugar no mundo, com muito humor. A atriz que iniciou sua trajetória em 1998, em Garibaldi, em um grupo de teatro de rua, quando se mudou para Caxias do Sul passou a atuar com palhaços que se apresentavam em um hospital. A partir da percepção de que há uma grande diferença na arte de fazer rir através do palhaço, no trabalho feito por mulher e por homem, que dominava este universo, criou em 2008 um núcleo para estudar a palhaçaria feminina. 

Odetta explica que o palhaço se dá no erro e inadequação e o grande desafio da palhaçaria feminina é perceber e entender qual é a narrativa feminina dentro do erro. “As mulheres foram criadas para serem dóceis, gentis, pacíficas. O erro nunca foi permitido, até em relação a padrões sociais, muito injustos: na intolerância aos quilos a mais, celulite, etc. Já que o palhaço explora o ridículo, o quanto de ridículo eu posso explorar para provocar a identificação no outro e o riso?”, pondera. As mulheres tem trazido suas inquietações em relação à maternidade, vida doméstica e profissional. “Olhamos para estes temas caros para nós com uma lupa crítica, mas também do ridículo, de constatar o quanto nos submetemos a conceitos pré-estabelecidos”, declara. 

“Pra mim, o palhaço é talvez, a figura mais exigente nas artes cênicas, pois o bom palhaço vai te fazer rir, encantar, refletir e emocionar. Ele é como uma cebola, cheio de camadas”, diz. Sobre a evolução das mulheres nesta arte, ela afirma que se formos pegar as pequenas cenas entre um número e outro, o protagonismo feminino praticamente não existia, ocupando um lugar questionável. Algumas exerciam esta função, no passado, mas imitando o palhaço homem. “Ela ocupava um lugar complicado: ou era alvo de disputa ou de deboche, como a desejável, ingênua ou burra”, completa. 

 


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