O rock gaúcho por duas gerações

O rock gaúcho por duas gerações

Dia do Rock foi criada a partir do ‘Live Aid’ (1985); Duas bandas representam a época no A&A

Carol Steques* e Luiz Gonzaga Lopes

Banda Nenhum de Nós lançou seu primeiro disco em 1988 e em 1989 já recebia o Disco de Ouro por ‘Cardume’

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No dia 13 de julho de 1985, foi realizado o festival de rock "Live Aid", para arrecadar fundos contra a fome na Etiópia. Foram mais de 20 atrações em questão beneficente. O evento foi transmitido ao vivo pela TV, arrecadou 36 milhões de dólares para a causa e uniu gerações do rock. A data é o Dia Mundial do Rock. Desde 1985, o rock gaúcho teve a sua grande explosão. Com eventos como o Rock Unificado, realizado pela primeira vez em 1985, no Gigantinho, o rock gaúcho chegou ao grande público, coisa que bandas anteriores como Liverpool e Bixo da Seda não conseguiram de forma abrangente. As bandas Engenheiros do Hawaii, TNT, Os Replicantes, Astaroth, Garotos da Rua, Taranatiriça, Júlio Reny e KM 0, Prise, Banda de Banda e Os Eles foram atrações para 10 mil pessoas a lotar o ginásio. Antes, em 1984, três bandas que estavam no Rock Unificado, Taranatiriça, Replicantes e Garotos da Rua, já haviam participado da coletânea Rock Garagem, produzida por uma rádio.

Do Rock Unificado, que teve 2ª edição em 1996, o resultado foi a coletânea Rock Grande do Sul, com quatro grupos que participaram do primeiro festival (Engenheiros do Hawaii, Garotos da Rua, Os Replicantes e TNT) e outra que estava no 2°, a DeFalla. Com o sucesso dos dois discos, as bandas começaram a gravar seus LPs individuais por gravadoras locais como e nacionais. Nos anos 1990, outras bandas se destacaram, com destaque para Graforréia Xilarmônica, Bidê ou Balde, Cachorro Grande e Tequila Baby. Nesta matéria, falaremos de duas gerações do rock gaúcho, com Nenhum de Nós e Tequila Baby.

Em 1988, uma representante dos anos 1980, o Nenhum de Nós estreou em disco homônimo (BMG, selo Plug). Junto com Engenheiros do Hawaii era a da banda gaúcha de maior sucesso comercial no país, com o sucesso “Camila, Camila” e depois “Astronauta de Mármore”. Com “Cardume (1989), recebeu o Disco de Ouro. O vocalista da banda Thedy Correia lembra que durante as décadas de 80 e 90, o RS foi considerado um dos grandes berços do rock, trazendo a tona importantes nomes do gênero musical e lançando músicas que fazem sucesso até hoje ao redor do país. Na Capital Gaúcha, essa época foi marcada pelos amantes de rock se reunindo para curtir e tocar seu som na Avenida Osvaldo Aranha e Bar Ocidente. 

Thedy conta que o Nenhum De Nós começou através de uma parceria entre ele, Sady Homrich e Carlos Stein - fundador do Engenheiros do Hawaii - e seu primeiro grande sucesso foi "Camila, Camila", no final da década de 80. "No início, quando percorremos aquele caminho de tocar em bar, nós tocamos no Ocidente e gravamos uma fita com o Bowie. Nessa fita tinha a canção 'Camila, Camila'. O Antônio Meira, que é nosso empresário até hoje, levou a fita na gravadora e os caras piraram ouvindo Camila e quiseram gravar o nosso primeiro disco", explicou o cantor.

"Eu acho que uma das coisas mais legais que tem na questão do rock gaúcho é que não tem e não tinha uma cara só. Ou seja, tu ouvia o Nenhum De Nós que é completamente diferente da Ultramen - em relação à característica sonora - que é diferente da Comunidade, que é diferente do Tequila Baby, que é diferente do Cachorro Grande. Então o rock gaúcho é muito legal porque ele é diverso. Tem muita coisa boa que surgiu através disso", contou Thedy.

Tequila Baby em live de rock

Tequila Baby, importante banda de punk rock do sul do país, realiza hoje, às 20h30- min, a sua segunda live desde o início do isolamento social, diretamente do Super Carros, em Gramado, para homenagear esse grande dia. O público de casa poderá assistir à transmissão ao vivo através do YouTube e Facebook da banda, com duas horas de muita música, bate-papo e conversa com os espectadores.

A apresentação será retransmitida pelas plataformas digitais do Correio do Povo (Facebook, YouTube e Twitter) e terá apresentação do editor de Cultura do CP, Luiz Gonzaga Lopes. “O que nos torna músico é tocar nos shows. Como isso não é possível por causa da pandemia, estamos fazendo esta segunda live para ficar mais próximo dos fãs. Além de criar uma rede de solidariedade para arrecadar alimentos para o projeto social Cozinheiros do Bem”, declarou Duda Calvin, vocalista da banda. Os Cozinheiros do Bem é um projeto social formado por mais de 300 voluntários que servem cerca de 1,5 mil pratos de comida por semana a moradores de rua de Porto Alegre.

Na primeira live, transmitida no dia 2 de maio, foram mais de 250 mil visualizações em quatro plataformas e mais de 1,3 tonelada de alimentos arrecadados, doados ao Hospital de Caridade de Canela e à Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae-Gramado).

Tequila Baby representa o rock gaúcho dos 1990

Nenhum de Nós e Tequila Baby são representantes do rock gaúcho dos anos 1980 e 90. Até hoje as suas canções continuam fazendo sucesso entre as novas gerações. Em 2019, a Tequila Baby completou 25 anos de carreira. Para celebrar a data, o grupo recriou um videoclipe com versão acústica de “Velhas Fotos” com a participação dos fãs, onde o público deveria enviar um vídeo “dublando música”, mostrando o que ela representa para o fã nesse momento. “As pessoas queriam uma versão acústica da música, com gaita, trazendo as origens gaúchas na canção. É uma música acústica, para as pessoas cantarem e dançar. Eu achei que o pessoal ia ficar um pouco envergonhado de fazer o vídeo e passar em um clipe, mas vieram muitos vídeos. Ficamos muito surpresos e felizes com a colaboração do público”, contou Duda Calvin.

Para alegria dos fãs, a banda de punk rock planeja lançar uma música nova em breve. “A gente queria fazer um DVD, mas não tem como fazer um evento ao ar livre agora. Espero que assim que tudo isso passar, a gente consiga lançar álbuns inéditos. Vamos aguardar os próximos capítulos dessa história que a gente está vivendo”, exclamou o cantor Duda Calvin. “Sem nos darmos conta, o Rio Grande do Sul tem uma grande veia do punk rock”, falou o vocalista da Tequila Baby. Ele conta que escolheram o estilo punk rock por ser um gênero com mais facilidade de tocar para quem está começando e que com poucas notas o músico consegue transmitir a sua canção e a sua ideia ao público. "A música 'Velhas Fotos', com duas ou três notas tu consegue tocar. É muito bacana para quem está começando no ramo e para quem faz música para divertir as pessoas", explicou.

De acordo com Duda Calvin, o punk rock é um estilo muito democrático e inclusivo, reunindo todas as classes sociais e etnias, e que o que realmente interessa é a música. "Se tu é nerd, gordo, feio, bonito, magro, ou qualquer coisa que tu ache que seja um empecilho, fica de lado na hora do show. A música é o que interessa, não a postura da pessoa, por isso acaba dando tão certo”, explicou. O vocalista de Tequila Baby conta que eles tentam trazer inclusão para os seus espetáculos e quebrar preconceitos de que precisa de uma condição para ouvir punk rock, como estar com uma blusa preta, por exemplo.

"Em todos os shows do Tequila há garantia de ingresso e espaço para pessoas PCDs, e para autistas também. Punk rock e inclusão e não exclusão”, falou Duda Calvin. Ele conta que no último show da banda em Porto Alegre, os artistas convidaram uma associação de autistas para cantar junto com eles. Duda Calvin conta que o primeiro show da Tequila Baby foi para seis pessoas, em 1994 e que após alguns anos de estrada, eles tocaram para shows com 60 mil pessoas. “Demora para a ficha cair. A música pode te levar a lugares que tu nem imagina”, falou.

Para Thedy, ‘todo o dia é Dia do Rock’ 

O Dia do Rock poderia ser comemorado no dia 5 de dezembro por causa do nascimento de Little Richard, mas foi institucionalizado como 13 de julho, por causa do “Live Aid”, de Bob Geldof em 1985. O vocalista do Nenhum de Nós, Thedy Corrêa, ressalta que para ele todo o dia é Dia do Rock. “Desde guri, eu sempre tinha um disco de rock. Eu estava sempre ouvindo o som. A gente vive diariamente e basicamente de rock”, explicou o músico.

Thedy ressalta que leva tempo até o músico ter sucesso, mas que deve sempre continuar batalhando pelos objetivos para um dia conseguir colher os frutos. “Nesse momento, é muito difícil saber qual caminho tomar. Mas nunca teve tanta ferramenta e nunca foi tão democrático o compartilhamento de música com as plataformas digitais e tudo mais. Mas é importante que saiba que música leva tempo. Os artistas que estouram com uma música, sucesso meteórico, está cada vez mais raro. Então tem que saber que, se tu quer entrar para a música, há uma longa estrada antes de começar a colher frutos."

*Sob a supervisão do editor Luiz Gonzaga Lopes 


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