Palco Giratório Sesc tem início em Porto Alegre

Palco Giratório Sesc tem início em Porto Alegre

'Ensina-me a Fazer Arte' (RJ) e 'Sambaracotu' (RS) são as primeiras atrações do festival cênico

Vera Pinto

Tânia Alice divide o palco com Gilson Motta, também responsável pela cenografia do espetáculo 'Ensine-me a Fazer Arte'

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“O que um artista deve fazer hoje?” é a pergunta lançada por Tânia Alice, na performance que passou por diversas partes do mundo, cuja dramaturgia foi criada em residência artística em 2017, na Bélgica e que estreou no ano seguinte, na França. Com participação de Gilson Motta, surgiu da inquietação da performer/atriz sobre o papel do artista na atualidade, em um momento em que a censura abreviava a trajetória de montagens como “Caranguejo Overdrive”, por exemplo. Em Porto Alegre, “Ensina-me a Fazer Arte” virá acrescida de espetáculo, em sessão única hoje, às 19h, no Teatro do Sesc (Alberto Bins, 665), para a abertura do 16º Palco Giratório Sesc, que também contará com “Sambaracotu”, do Canoas Coletivo de Dança, hoje e amanhã, 21h, no Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307). 

Sentada por 2h com duas cadeiras, em algum ponto da cidade, Tânia convida os transeuntes a responderem à questão. Após coletar o resultado, junta a outras conclusões, obtidas em diversos países e continentes. Em Portugal, nos Espaços Mira (Porto) e Tojo (Lisboa) elaborou as respostas e partiu para a execução. Mas quando fez novamente, as pessoas perguntavam o que havia sido colhido em outros locais. A partir daí começou a costurar coisas da Bélgica, Índia e por último, Porto Alegre. 

A montagem híbrida passou pela Europa, Ásia e África, tendo sido vista no Brasil, no Rio de Janeiro e em festivais de São José dos Campos e de Curitiba. “Não notei nos lugares onde o espetáculo passou uma identidade segundo o país, mas o ponto em comum é a questão da alegria, porque tá todo mundo desencantado, sem saber encontrar a alegria”, diz Tânia. 

Slides contam a história do projeto ao longo dos anos com o impacto não só no seu trabalho, como de outros: a dificuldade de estar estudando e fazendo arte, a escassez de editais, verbas e patrocínios, entre outros tópicos. Tânia conta que no Festival de Curitiba, a peça-intervenção foi apresentada perto de uma praça com pessoas em situação de rua, onde estas disseram que o artista deveria ter a coragem de se candidatar à presidência para, com seriedade, mudar as coisas. 

Filha de mãe francesa com pai gaúcho, de Canela, Tânia mora há muito tempo no Rio de Janeiro, onde leciona na UFRJ. Possui pós-doutorado na França e fundou a plataforma Performers Sem Fronteiras. Com pesquisa focada na arte, saúde e espiritualidade, trabalhou em zonas de trauma, atentados, desastres naturais e pessoas esquecidas em instituições psiquiátricas. Desenvolveu ações com diferentes públicos, para ver como o artista pode fazer diferença e atenuar o sofrimento. “Os tempos estão difíceis para sonhadores”, como disse a Amélie Poulain. Eu sei que tá obscuro, mas tento não focar na possibilidade do fracasso. Tenho me conectado com aqueles que mantém a utopia”, declara a artista, que acredita na revolução de afetos através da performance. Sobre a atividade acadêmica, Tânia tem convivido com jovens que não viveram antes da digitalização, redes sociais e a felicidade artificial gerada por elas. “Para eles não afeta tanto este ‘antes’. Os mais velhos sentem mais. Eu sinto muito pelo que eles não irão conhecer e nem saber”.


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