No coração costeiro do Uruguai, onde o Atlântico encontra as colinas e a história se mistura ao presente com um charme quase mítico, o Piriápolis de Película celebra sua 22ª edição com o vigor de um festival que já se consolidou como um dos encontros mais autênticos e provocativos do circuito audiovisual latino-americano.’ Mais do que uma mostra de filmes, trata-se de um ponto de ebulição cultural, em que se cruzam linguagens, trajetórias, gerações e geografias. Todas pulsando com a vitalidade de quem entende que cinema é, antes de tudo, olhar. E é justamente esse olhar que se volta cada vez mais ao sul, ao leste, ao interior do continente.
O Brasil, com sua potência audiovisual reconhecida internacionalmente, reafirma sua presença no evento com a exibição do longa “Oeste Outra Vez”, do diretor Erico Rassi, uma ficção que dialoga com o western e o realismo, enquanto provoca reflexões agudas sobre fronteiras simbólicas e concretas. Um filme que chega a Piriápolis depois de vencer o Festival de Cinema de Gramado 2024. É representante nacional e, sobretudo, símbolo de nova leva de obras brasileiras que entendem que os ventos criativos sopram forte não só dos grandes centros, mas de suas margens. Ao mesmo tempo, o cinema uruguaio vive um momento de visibilidade crescente, abrindo-se com firmeza para o mundo sem perder sua raiz local. O país, que historicamente abraçou o teatro e a literatura com paixão, vem conquistando espaço no cenário audiovisual com produções sensíveis, ousadas e de identidade forte. O Piriápolis de Película não é apenas reflexo, mas motor dessa virada. E nesta edição, reafirma seu papel de vitrine e fórum de consagração para os talentos que fazem do Uruguai um território cinematográfico em expansão.
Luciano Cáceres foi o grande nome da abertura oficial do festival, na última sexta-feira. O ator argentino, cuja carreira transita com maestria entre o teatro alternativo e as grandes produções televisivas e cinematográficas, apresenta em estreia “Adiós, Madrid”, de Diego Corsini. Com quase 100 obras no currículo, Cáceres representa uma Argentina criativa e inquieta, que continua alimentando o imaginário latino-americano com personagens densos e histórias que não têm medo do conflito, nem da ternura. A programação também reverencia os pilares que sustentam a memória cultural da região. E é nesse espírito que o festival celebra os 40 anos de “Esperando la Carroza”, o clássico absoluto de Alejandro Doria, com Antonio Gasalla e China Zorrilla. A obra virou referência do humor ácido e da crítica social disfarçada de piada doméstica. Retorna agora restaurada, pronta para conquistar uma nova geração que reconhecerá. Talvez com desconforto, talvez com gargalhadas, a atualidade de seus diálogos cortantes. Porque o tempo passa, mas hipocrisia familiar e tensões de classe raramente saem de moda.
Em sua vocação de honrar trajetórias que atravessam décadas com relevância e arte, o Piriápolis de Película homenageia César Troncoso, um dos grandes nomes da atuação no Uruguai e na América Latina. Possui um percurso que vai do teatro em estações de trem aos palcos europeus, das telas de festivais internacionais aos sets das séries contemporâneas como “El Eternauta” (2025). Troncoso, premiado, reconhecido e homenageado também no Festival de Cinema de Gramado, é um ator de entrega visceral e presença marcante. A homenagem é não apenas merecida, mas urgente: sua carreira é um mapa das possibilidades do ator latino-americano em tempos de transformação.
A atriz, cantora e ícone Cecilia Rossetto também foi celebrada nesta edição do Festival. Com trajetória que uniu cinema, teatro e música, foi vista em filmes como “Sol de Otoño” e na série “Un Gallo para Esculapio”. Recebeu muitos aplausos e saiu emocionada.
