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Planet Hemp se despede dos palcos em último ato em Porto Alegre

Marcelo D2 e Daniel Ganjaman falam sobre a turnê que passa pela capital gaúcha neste sábado, na KTO Arena

Planet Hemp se apresenta neste sábado, às 21h, na KTO Arena
Planet Hemp se apresenta neste sábado, às 21h, na KTO Arena Foto : Wilmore / Divulgação / CP

Por Camila Cunha

Porto Alegre é a terceira de dez capitais a receber, na noite deste sábado, dia 4, às 23h, no KTO ARENA (Av. Severo Dullius, 1995), um show da turnê “A Última Ponta”, que marca a despedida do Planet Hemp, banda carioca que há 32 anos mistura diferentes gêneros musicais e é conhecida por suas apresentações com muita energia e entrosamento com o público. Os ingressos estão disponíveis no site Eventim.

Criada pelos amigos Marcelo D2 e Skunk com a proposta de questionar o status quo, o Planet Hemp tem bases no punk rock e no rap e letras contestadoras que versam, entre outros temas de cunho político, sobre a legalização do consumo de maconha. O sucesso pouco depois do fim da ditadura militar e da censura fez os músicos ocuparem um espaço singular no contexto musical e social da época.

Nessa turnê, a banda toca uma extensa lista de hits dos seus cinco álbuns de estúdio - “Usuário” (1995), “Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára” (1997), “A Invasão do Sagaz Homem Fumaça” (2000), “Jardineiros” (2022) e “Jardineiros: A Colheita” (2023) - em shows que passam de duas horas. Em clima de expectativa, o vocalista Marcelo D2 e o guitarrista e diretor musical Daniel Ganjaman conversaram com o Correio do Povo sobre os aspectos que atravessam o debate da descriminalização da maconha, as memórias das passagens por Porto Alegre, suas influências musicais, as novas gerações de artistas e as emoções que os acompanham durante a última temporada juntos.

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Confira a entrevista na íntegra:

Correio do Povo O Planet Hemp ficou muito marcado nos seus primeiros atos, até o início dos anos 2000, por preconceito, acusação de apologia às drogas, perseguições policiais em shows que levaram a prisões da banda em duas ocasiões e, apesar disso, sucesso de público, de vendas e elogios da crítica. O que fica como pegada da história da banda agora, depois do retorno aos shows em 2012 e do disco Jardineiros?

Marcelo D2 – Eu acho que o Planet tem essa função de ser uma pedra no sapato desse sistema, sabe? Eu acho que o cerne, o começo do Planet Hemp é baseado nisso aí, numa ideia de que a gente veio desse lugar, principalmente quem escreve no Planet Hemp: eu, Bernardo [BNegão], Gustavo [Black Alien], Skunk [fundador da banda, falecido em 1994]. A gente vem dessa escola do punk rock e daquele rap do começo dos anos 90, final dos anos 80, de Public Enemy, N.W.A. De contestar o lugar que as pessoas acham que a gente tem na sociedade, sabe?

Me surpreendeu muito o sucesso do Planet Hemp, porque a banda não foi feita para fazer sucesso. A banda foi feita muito pelo contrário, para causar o caos. Mas eu acho que a gente soube equilibrar muito bem isso. E eu acho que tem a ver com os integrantes da banda. Desde o começo do Planet até hoje todos os integrantes são indivíduos muito fortes, sabe? Hoje estamos só eu e o Ganjaman aqui, mas tem BNegão, Black Alien, o próprio Rafael [Crespo, ex-guitarrista], que já saiu há muito tempo, mas é um cara super expressivo dentro da cena dele. Formigão, que é um ícone. Acho que todos que ajudaram a escrever essa história do Planet Hemp são personagens muito fortes, então, isso ajudou a banda a ter um ar pop, pop no sentido de popular mesmo. Mas eu acho que isso fez parte de uma conjunção de muita coisa que aconteceu. O fim da censura, ou pelo menos a luta pelo fim da censura. O fim da ditadura.

Parecia que a gente estava precisando de algo na música brasileira como o Planet Hemp, sabe? A gente foi muito necessário. Eu digo isso nem só para o público, mas para a gente também.

O Ganjaman acho que pode falar disso, porque o Ganja entrou depois e eu vi que ele quis fazer parte dessa parada também, tá ligado?

Daniel Ganjaman Totalmente.

D2 Teve momentos no Planet que foram essenciais para isso. Tu falou do ato inicial, então vamos falar do ato final. Nesse ato final, essa coisa tem começado a dar mais sentido na minha cabeça, sabe? Esses momentos clássicos, como a morte do Skunk, que foi uma coisa muito dura, perder um amigo com quem você compartilha um sonho. Quando você é jovem, é muito difícil. Quebrou um pouco daquele sonho ali, mas ao mesmo tempo, deu uma legitimidade muito forte, sabe? Eu falei: "Ah, cara, nada vai abalar a gente mais do que isso”, tá ligado? Nada vai mudar o nosso ideal. Deu um sentido de propósito ali muito grande. Eu acho que acho que o Planet tem isso, né, Ganja?

Ganjaman Eu acho que a história do Planet Hemp tem essa coisa de ter sido um sucesso de público e de crítica muito grande, mas ter incomodado muito nesse lugar da inserção cultural e social no país. Acho que o Planet ajudou muito a botar a ideia de legalização da maconha na mesa de jantar, saca? Tomou uma proporção do pai conversar com o filho, com a mãe, ver no Jornal Nacional. O pai falando assim: "Pô, que absurdo esses caras falando sobre isso". E aí o filho falando: "Pô, mas pera aí". Quer dizer, essa é uma discussão saudável, entendeu? Você poder trazer isso para esse lugar é um negócio que é importante.

D2 É muito mais que só maconha, né, cara?

Ganjaman – Exatamente. Porque isso esbarra em muita coisa, esbarra em comportamento. E, musicalmente, o que o Planet Hemp trouxe para a música mainstream na época foi um negócio muito inédito. Os anos 90 foram uma época de muita experimentação e o Planet trouxe elementos que não faziam parte da música popular brasileira. De música popular brasileira lida como música popular brasileira de fato, não como um estilo. Então, isso foi muito legal, porque naquela época todo mundo absorvia muito as influências de todo mundo. E isso ajudava muito a coisa ser autêntica. Todo mundo se alimentando um pouco do que estava acontecendo ao redor, sabe?

D2 E eu acho que a gente pode terminar essa resposta falando uma frase do Bernardo [BNegão], que não tá aqui, mas ele falou uma frase que acho que marca muito isso, que é a coisa do Planet Hemp ser uma banda underground que habita o mainstream. Isso pra gente foi essencial. A gente sabe de onde a gente veio, do que a gente gosta. Nós somos esses mesmos caras até hoje. A mesma árvore genealógica do som ainda tá aqui. A gente ainda tá ouvindo Lee Perry, Public Enemy, hip hop, punk rock.

CP Pois então… Quando a banda iniciou as atividades nos anos 90, o país tinha uma democracia frágil, poucos anos depois do fim de um regime militar. Hoje a vemos sob constantes ameaças. Quando vocês abordaram assuntos que até então não eram discutidos abertamente, foram acusados de fazer apologia às drogas. Hoje temos visto um movimento de liberação da maconha para uso medicinal, a diferenciação de usuário e traficante, enquanto também acompanhamos neste ano a prisão do MC Poze do Rodo por apologia ao tráfico e as propostas de PL “Lei Anti Oruam” em diferentes cidades.

Enquanto uns anunciam que o futuro é canábico na medicina, na indústria textil e até na construção civil, ainda há uma força apontada como racista da proibição do uso de drogas para fins recreativos. Vocês vêem que o debate evolui ou apenas andamos em círculos?

D2 – Eu acho que o começo do papo todo é isso que você falou, sobre o racismo. Acho que a ilegalidade da maconha, ela vem muito em cima disso daí, sabe? Tem um pouco da política do medo, essa coisa de controlar a população com medo. “Cuidado, a maconha vai acabar com a sua família… O comunismo…” Sei lá, todos esses medos que põem, né? Você falou sobre democracia frágil. Eu acho que a gente tem uma democracia frágil desde que acabou a ditadura, sabe? Ela passou momentos mais fortalecida ali com o governo Lula, mas a gente viu a fragilidade dela quando uma mulher assume o país e aí a gente tem um golpe em cima. Eu acho que essa discussão no Brasil ainda vai dar muito pano pra manga porque o Brasil ainda é um país fácil para manipulação, sabe? A gente viu essa extrema direita se aproveitar disso. Eles podem estar tomando uma surra nesse momento, mas o cachorrinho do fascismo, a gente tem que ficar de olho nele sempre, né?

A gente tem um avanço nessas questões da legalização no mundo todo, mas aqui no Brasil eu acho que ainda está engatinhando muito, sim. A gente ainda tem muito a aprender, a discutir. Mas eu acho que a primeira coisa é uma discussão sem hipocrisia. É muito difícil lidar com esse tipo de conversa enquanto sociedade quando você tem um lado que se baseia toda em hipocrisia, sabe? Nazistas que não assumem que são nazistas, fascistas que não assumem que são fascistas, uma extrema direita que não assume que é uma extrema direita. E aí você fica dando murro em ponto de faca.

Esse caminho da cannabis medicinal, para mim, é um pouco hipócrita também, mas ele foi um jeito que as pessoas acharam para… “Tá, então você é bem hipócrita por aí, eu vou ser um pouco hipócrita por aqui. Vamos pela medicinal, que você tá falando que faz mal. Olha aqui, isso aqui não faz mal nenhum”. Mas não tem sentido. A cannabis recreativa também é medicinal. A gente tem que saber que a recreação também é medicina, sabe? Cuidar da cabeça, cuidar do bem-estar também é medicinal.

Ganjaman – É importante também saber que não existe maconha medicinal e maconha recreativa. Tudo é maconha.

E indo na base da tua pergunta… Como muitos termos são deturpados aqui no Brasil, o racismo estrutural também acabou virando uma forma de passar pano para muita situação. O cara é racista em situações cotidianas e bota culpa no racismo estrutural, sabe? Mas eu acho que o racismo estrutural, o entendimento disso como ele é de fato, é um elemento constituinte desse país, porque essas questões que você levantou na sua pergunta esbarram no racismo. O aborto esbarra no racismo.

E na verdade o que tá liberando a maconha no mundo todo é uma ótica totalmente neoliberal, é uma parada totalmente voltada para grana. Viu-se que aquilo gera muito dinheiro e que o prejuízo em torno da liberação não é nada maior do que tantas outras coisas. Nos Estados Unidos há um monte de remédio [controlado] que compra [sem restrição] em farmácia, sabe? Analgésicos fortíssimos você compra na farmácia sem receita. Eles quase vendem cigarro na farmácia. Eles vendem Coca-Cola. Viu-se que aquilo dá muito dinheiro e que o prejuízo social e cultural não é tão grande.

Acho que no Brasil a gente precisa entender, primeiro de tudo, o racismo. Porque a questão da liberação das drogas esbarra muito na segurança pública, entre aspas. A maconha é praticamente legalizada para quem mora aqui na zona sul do Rio de Janeiro e é branco há muito tempo. Ou quem mora em São Paulo no Jardins. Ninguém é preso por conta disso há muito tempo. Agora, o moleque preto de periferia, no subúrbio, ele não precisa às vezes nem estar portando para ser preso por conta disso, entendeu? Então, é hipocrisia, no final das contas.

D2 Só tem uma coisa que eu queria falar também. Essa prisão do Poze e Oruam e tudo isso, sabe? Eu tenho uma certa pena desse… Eu posso chamar de garoto porque eu vou fazer 60 anos e esse menino tem idade para ser meu filho, tá ligado? Aquela cena do Poze saindo da prisão e Oruam subindo no ônibus é de cortar o coração, sabe? Eu não conheço o Poze pessoalmente, nunca vi ele, nunca apertei a mão dele, mas assim, eu conheço mil Pozes por aí, tá ligado? MCs que sonham em cantar sua realidade, representar o que ele vê dentro da sua favela. E aquilo cortou o coração porque é um jogo midiático, sabe? Aí volta aquele papo do racismo estrutural, da hipocrisia. Botar um menino naquele lugar ali não é um papo sincero. Não é “Ó, isso aqui tá errado, isso aqui tá certo”. Aquilo ali é um jogo midiático sujo. É sujo fazer isso com a vida de um moleque e com os sonhos de tanta gente. Eu entrei no rap porque eu acho que o rap dá voz para essas pessoas. Eu vivi num ambiente muito musical, a minha vida inteira, mas o rap foi o que me deu voz, sabe? O rap que falou: "Você faz parte do mundo, o mundo é teu também". Tenho certeza que é essa a função do rap, sabe? E nesse jogo midiático eu vejo muita manipulação da situação.

Eu me senti muito manipulado quando a gente foi preso, porque falei "Pô, eu tô tentando fazer uma discussão sincera aqui, um moleque de 20 e poucos anos tentando fazer uma discussão no país enquanto tem deputado falando que eu sou contra a família. É papo muito absurdo. Esse lugar cansa demais, tá ligado? Esse lugar hipócrita, essa conversa, sabe? Coincidentemente, hoje eu estava vendo um debate e eu fico ainda percebendo isso, sabe? Uma pessoa tentando falar com dados enquanto o outro está gritando e falando falácia e tal.

É doloroso demais ver esses moleques passando por isso. Sinto que estão usando muito eles para fazer esse jogo midiático, sabe?

CP O momento vai exigir ou forçar uma maturidade em cima deles para conseguir lidar com a situação?

D2 Tomara! Tomara que dê um estalo na cabeça deles e fale assim "Eu estou sendo usado por isso, eu vou falar sério aqui, sim, vou falar da minha realidade mesmo”, tá ligado?

A gente passou por um momento muito difícil. Eu e o Ganja, a gente pode falar isso porque de 2018 para cá, o que a gente fez na internet, de combater, de falar sobre isso... As pessoas vão ficando cansadas! Pode parecer brincadeira, mas esses atos da extrema direita, eles cansam. Tu quer respirar também, tá ligado? Tu quer amar, sabe? Tu quer ir no bar tomar cerveja sem ninguém falar: "Ô, comunista". Você quer botar uma foto, como diz a nossa amiga, “Quero botar uma foto de biquíni” [se referindo ao meme “me dava um trabalho ser cidadã no Brasil” da atriz Luana Piovani], tá ligado? E num momento desse eu senti que os moleques ficaram muito sozinhos, sabe? Eu mesmo podia ter falado mais, mas é cansativo e eles ganham nesse cansaço. O Bolsonarismo ganhou nesse cansaço. Levaram todo mundo para a lama, que é o lugar deles, o campo deles. E aí, no final, você não tem força para falar coisas que realmente são profundas.

CP Num show do Planet Hemp no Bar Opinião anos atrás o público ganhou a surpresa da participação do Edu K da banda DeFalla, de Porto Alegre. Vocês já afirmaram que eles são uma forte influência para vocês. Podem nos falar mais sobre isso?

D2 – Acho que o DeFalla é a ponta de um iceberg de toda a cena do rock gaúcho. Júpiter Maçã, Os Cascavelletes, Os Replicantes. A Rádio Ipanema era uma parada que a gente amava. Se a gente ia para o Rio Grande do Sul, eu queria ir na rádio, mesmo que não fosse pro ar, eu queria só ir lá falar com a galera, ficar ali nos corredores da rádio.

E eu vou dar um spoiler aqui, tá? A abertura do show, não só em Porto Alegre, mas no Brasil inteiro, tem uma citação grande do DeFalla. Porque foi uma banda muito, muito importante para nós. Foi a primeira vez que a gente viu alguém fazendo rap rock, sabe? O Edu K é um cara que até hoje eu fico muito inspirado nele. Talvez por essa inquietude artística, essa ambição artística, de dizer ‘Eu vou fazer reggae. Agora eu vou ser cantor romântico. Agora eu vou fazer samba. Agora eu quero ser punk”. De ninguém te botar numa caixa e falar o que você é, mas ser o que você quer ser, tá ligado? Ser o que você é de verdade, sabe? E, musicalmente, rock gaúcho tinha uma pegada de agressividade, essa coisa que, pô, pra gente foi influência demais, né?

Ganjaman – Nossa, sim! Eu, pelo menos, acho que o DeFalla influenciou todo mundo do Planet, individualmente e como banda. Eu lembro de mim moleque pirando com o DeFalla. Além de ser uma banda que tava ali no começo da história de toda uma coisa nova que tava acontecendo na música brasileira nos anos 80. O disco Kingzobullshit [Kingzobullshitbackinfulleffect92, de 1992] foi um disco que eu lembro de quando ouvi a primeira vez. Um negócio muito à frente de tudo!

D2 – Eu e o Speed [Speedfreaks, rapper, falecido em 2010] vimos o show de lançamento desse disco no Circo Voador [renomada casa de shows do Rio de Janeiro]. A gente se abraçou e chorou no show. Eu falei: "Mano, olha isso que que tá acontecendo na nossa frente”! Era tudo o que a gente sonhava. E assim, não era só o Edu, né? Eu fui apaixonado pela Biba, tá ligado? O Fornaza… O Jacksom e o Mario Gildo [ex-roadies] são um pedaço DeFalla na nossa família musical. E a gente tem gaúchos na banda, né? O Jacksom [ex-roadie e guitarrista] e o Pedrinho [Pedro Garcia, atual baterista do Planet Hemp] são gaúchos. O Pedrinho é filho do Bebeco Garcia, outra grande influência.

O DeFalla foi para mim a primeira grande banda nacional, porque era o meu momento de descoberta de rock nacional. Já gostava muito do punk rock, mas o punk rock não tem essa idolatria, né? Mas o Edu… Eu ia a tudo quanto é lugar atrás do DeFalla, mano.

Ganjaman É, eu também.

D2 – O DeFalla faz parte de um descobrimento na música. Funkadelic? Tinha no DeFalla. The Clash tinha no DeFalla, Public Enemy tinha no DeFalla. Tudo que a gente amava o Edu K botava lá dentro! Os dois primeiros discos do DeFalla são um absurdo, eu demorei anos para entender aquilo. O Kingzobullshit me fez entender o que os caras faziam nos anos 80. Dez anos depois que eu consegui entender a genialidade daquilo ali, tá ligado?

Na última vez que a gente tocou em Porto Alegre, no ano passado, no Araújo Vianna, eu fui para Porto Alegre emocionado, cara. Eu fiz uma playlist só de banda gaúcha para tocar antes do show. Falei: "Não bota DJ, não, cara! Manda o cara embora! Eu fiz uma playlist só de rock gaúcho e quero que toque antes do show”! Eu acho que talvez a gente toque essa essa playlist de novo lá no show.

CP Porto Alegre sempre recebeu as turnês do Planet Hemp, em casas como o Bar Opinião, o Auditório Araújo Vianna, o antigo Pepsi On Stage (atual KTO Arena) e espaços abertos, sempre com público presente em peso. Quais memórias vocês guardam da nossa capital e o que o público pode esperar desse show de despedida? Já tivemos o spoiler que vai ter na abertura do show uma citação do DeFalla.

D2 – Tem essa empolgação de tocar em Porto Alegre por tudo isso que a gente falou, sabe? Como é o nome daquela rua ali em frente ao Araújo Vianna? Osvaldo Aranha! Já tive muitas ondas na Osvaldo Aranha! Namorei, tive balada, foi muito bom, sabe?

Tá rolando um saudosismo nessa turnê. Você começa a se conectar com a cidade, lembrar de tudo que você passou lá, sabe? Lembrar que vai ser a última vez que o Planet vai tocar em Porto Alegre, cara!

Ganjaman - É meio inacreditável, realmente! Você começa a lembrar das coisas que aconteceram. Aquele papo de camarim, papo de van ou papo de almoço, passagem de som, lembrando das coisas que rolaram e, pô, Porto Alegre é muito importante para a gente.

E o show tá muito forte. Acho que o que dá para esperar é o melhor show do Planet Hemp, sabe? Eu tô muito seguro de falar isso, porque, a gente trabalhou muito para esse show. Tá uma parada muito incrível!

D2 – O show tá muito bonito. Tem um saudosismo, mas tem um olhar para o futuro. Tem uma coisa interessante, que são quase duas horas de show e parece o que passou em meia hora! É muito rápido! Em Salvador [primeiro e único show da turnê té o momento da entrevista], quando eu saí, eu tocaria tudo de novo! Fácil, fácil.

Ganjaman Essa coisa de olhar para o futuro também tá muito presente. Um questionamento que a gente sempre houve é "Por que tá acabando a banda se está no auge, lançaram um grande disco foda, ganharam Grammy”, sabe? E tá acabando a banda, mas a gente tá olhando para o futuro nesse fim de ciclo. Porque é para abrir espaço também.A gente não vai deixar de trabalhar junto.

Todo mundo, individualmente, têm trabalhos que são muito representativos. Eu vou continuar trabalhando com o Marcelo, com o Pedrinho, com o Formiga. Por isso que eu acho que a gente não está com esse ar de luto em torno. Muito pelo contrário.

D2 Tá rolando uma coisa muito legal de respeito à nossa história, de orgulho. Tem sido muito interessante olhar para os meus amigos, sabe? Eu conheço o Ganso há mais de 30 anos e ver Ganja onde ele tá hoje dá uma orgulho, tá ligado? Um produtor fazendo um monte de trampo maneiro! É muito maneiro! Eu acho que isso tem sido a base desse ato final, sabe? A gente olhar um para os outros e falar: "Caraca, a gente está terminando o projeto que a gente passou 30 e poucos anos! Ao lado desses caras! É maneiro para caramba!

CP A identidade do Planet Hemp é muito sólida e foi mantida firme inserindo sonoridades e batidas contemporâneas no último disco Jardineiros: A Colheita, como nas faixas com participação de Trueno e Tropkillaz. A banda está chegando no fim da última ponta, então, que artistas vocês recomendam que os fãs de raprocknrollpsicodeliahardcoreragga prestem a devida atenção?

Ganjaman A gente chamou Baiana System para o que vai ser o maior show dessa turnê em proporção de público, no Allianz Parque. E não foi à toa, sabe? O Baiana tá cumprindo um papel muito importante nessa continuidade de algo que tem um teor sociopolítico e musical, cultural, tudo entremeado. Não é simplesmente uma banda, tem um manifesto em torno da história toda.

Eu trabalho com Baiana, a gente fez o quarto disco juntos, e é muito legal ver que é claro para eles o quanto o Planet foi importante para o Baiana ser o que o Baiana é hoje, entende? Então, não tem como não ver uma continuidade acontecendo ali no trabalho do Baiana System.

E, assim, estamos vivendo um momento de muita coisa nova e, obviamente, quando você tem muita coisa acontecendo, você tem muita coisa ruim também. Mas tem muito trabalho vindo dessa molecada nova que é coisa muito interessante e que foge um pouco do mainstream. Eu acho que um erro que está acontecendo, ou uma coisa que me desagrada um pouco na cena atual, é que todo mundo que ser muito grande, sabe? Sendo que tem espaço para uma cena onde você não mire numa coisa gigantesca, mas que você consiga manter o seu trabalho acontecendo de forma honesta. Acho que as redes sociais trouxeram um pouco essa dinâmica de todo mundo querer sobressair, esse ranqueamento, um negócio meio esquisito.

D2 Uma parada, Ganja, que você falou essa semana que acho que a gente pode falar aqui, é o rap feminino. O rap feminino tá muito forte, representativo. Talvez o rap mais forte desse momento está na mão das mulheres, né, cara?

Ganjaman Eu acho. O fato das mulheres estarem com o protagonismo no rap atualmente é algo que me agrada muito, sabe? Nomes como a Duquesa, Ajuliacosta, lançando trabalhos novos e incríveis. E representatividade, acima de tudo. Essa geração, ela traz uma coisa que é diferente do que o que a gente fez e faz, mas ter uma representatividade feminina acontecendo no rap, que sempre foi historicamente um ambiente machista, é muito forte, sabe? É um negócio que diz respeito a todo um trabalho que vem sendo feito, né? Pô, você vê Tasha e Tracie, sabe? É legal demais ver essas minas ocupando esse espaço nesse momento.

D2 Tem muita gente boa aí. Eu gosto muito do Tim Bernardes, sabe? Eu gosto de tudo, não só da música dele, eu cuida muito bem da carreira dele, do jeitinho que ele faz as coisas. Acho interessante para caramba.

Ganjaman Eu gosto muito do Tim também. Acho ele um artista muito completo.

D2 Sabe uma coisa que para mim é primordial, cara? Na nossa geração a pior coisa era ser chamado de poser, tá ligado? E quando você vê que o artista é real, quando o cara tá em realidade na parada dele, não importa se é rap, samba, rock, se é preto, se é branco… Mas o cara tá lá, ele tá cantando a realidade dele, com muita verdade, eu acho isso muito interessante. Em qualquer tipo de arte, né? Cinema, artes plásticas. A verdade tem que estar na arte. Essa arte enquanto só entretenimento, ela não me fascina, sabe? Arte só para rebolar? Então tem que rebolar mesmo, tem que rebolar de verdade!

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