Rap In Cena promove encontro de gerações do rap gaúcho em Porto Alegre

Rap In Cena promove encontro de gerações do rap gaúcho em Porto Alegre

Festival que ocorre neste fim de semana terá os 30 anos de carreira do Da Guedes e a novidade Cristal

Matheus Chaparini

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Porto Alegre recebe neste fim de semana a nona edição do festival Rap In Cena (RIC), um dos principais do país. No sábado e no domingo, o Parque Harmonia será tomado por mais de 70 atrações em três palcos, além de espaços de skate, basquete e breakdance. Entre as atrações, grandes nomes do rap nacional como Racionais MCs, Negra Li, Djonga, Veigh, L7nnon e Marcelo D2, em show inédito com o filho, Sain.

Quem for ao Harmonia será convidado a uma viagem por várias gerações do rap gaúcho. O palco principal do evento recebe, no sábado, às 14h35, o show da cantora Cristal, uma das principais revelações recentes do Estado. 

No domingo, às 19h, quem sobe ao mesmo palco é o Da Guedes. Com 30 anos de atividades, o grupo é uma das maiores referências do hip hop gaúcho. O rap daqui estará representado ainda por outros nomes de destaque, como Negra Jaque, DJ Saulit e Jô, entre outros. 

Da Guedes: 30 anos de rap

O grupo se formou da gurizada que se reunia para andar de skate na rua Guedes da Luz, no bairro Partenon, em Porto Alegre, em 1993. Naquele tempo, o hip hop dava os primeiros passos em Porto Alegre, com grupos como Lords, que tinha o Dj Piá na formação, mas principalmente com grupos de Bboys, como Hackers Crew, herdeiros de uma tradição de bailes black, que era forte na cidade nos anos 80. Mano Délcio e o Grupo Jara eram alguns dos nomes dessa cena.

Esse caldo cultural, misturado com referências musicais que chegavam por alguma fita K-7, pelos primeiros vinis de rap nacional e pelos clipes gravados em fita VHS no programa Yo Rap nas madrugadas da MTV encorajaram um grupo de jovens a cantar as coisas do bairro, como faziam os rappers do centro do país e os norte americanos.

“Era quase uma utopia sair do partenon e conquistar o mundo”, recorda Nitro Di, um dos fundadores do grupo. Era necessário abrir a trilha e criar uma cena.

“O hip hop nos deu coragem para fazer várias coisas, para botar a cara pra rua com a auto estima resgatada. Começamos a nos apresentar fora da comunidade e a chegar com toda a força que a atitude do hip hop nos trazia. Para a juventude da minha época, foi um grande pilar, de criar nossos próprios princípios e ideias. Foi muito além do que só música, mas uma cultura que podia oferecer algo diferente para a comunidade, que o Estado não oferecia”

A formação original contava com os MCs Baze e Nitro Di e o DJ Deeley. A formação de três décadas depois ganhou o reforço de Spawn e Bira Mattos. Com 30 anos de atividades, o Da Guedes se mantém ativo e criando. Além disso, Nitro Di valoriza a sintonia dessa “velha guarda” com a gurizada que chegou depois. 

“Se a gente está interagindo com as novas gerações é sinal de que a gente está vivo e está no jogo. Se a gente não tivesse o respeito deles e esse carinho, a gente nem estaria junto nesse festival.”

Lançamentos marcam o aniversário

Para celebrar as três décadas de existência, o Da Guedes preparou algumas novidades. Além de uma turnê pelo Sul do país até o meio de 2024, o grupo tem alguns lançamentos em vista. 

O primeiro deles é uma versão do clássico Dr Destino com a participação de 13 MCs. A faixa, produzida por Nitro Di, é resultado de um concurso realizado pelas redes sociais do grupo e que desafiou artistas a criarem seus próprios versos para a música. O lançamento será no show do RIC, com um QR Code no palco que dará acesso à faixa.

Em dezembro, sai o primeiro single de um EP que será lançado no começo de 2024. Com quatro faixas inéditas, o lançamento trará participações de artistas locais e nacionais. Outra parte da celebração de aniversário do Da Guedes será um show com a participação de uma orquestra, previsto para a metade de 2024.

Nitro Di afirma que o rap gaúcho tem bons nomes surgindo e os melhores beatmakers do país. Para ele, o próximo passo é distribuir o som produzido no Estado com cada vez mais qualidade de produção e finalização. “Acredito muito na cena, a gente tem muito o que mostrar.”

Nome de rua

Se o nome da banda surgiu do nome da rua onde os integrantes se encontravam, a Guedes da Luz, agora a história se inverte. No festival, a banda é que vai ser nome de rua. A organização do evento criou uma rua para negócios locais batizada de Rua Da Guedes.

Para Nitro Di, o reconhecimento tem forte valor simbólico. “Essa rua é como se fosse o que a gente pavimentou até aqui junto com outros artistas contemporâneos nossos”, afirma.

Idealizador do Rap In Cen, Keni Martins justifica a escolha. “Da Guedes é um dos grupos de maior referência do nosso rap gaúcho. O festival tem alguns nomes da nova geração, mas damos o mesmo valor e importância para quem nos deu base para chegarmos aqui.”

Inspiração do quintal de família

Cristal, de 21 anos, traz em suas músicas uma inspiração genuína de quem canta as próprias vivências, as coisas do seu quintal. Suas principais referências musicais são influência de família, dos sambas e da MPB que se ouve nos encontros, dos raps que a mãe escuta em casa.

“Meu primeiro hit eu fiz num quintal de família”, cantou a jovem em 2020, em participação no disco Histórias da Minha Área, de Djonga - que também é atração no festival. A própria equipe da artista é bastante familiar. O produtor e beatmaker MDN Beats é primo de Cristal e a produtora é a mãe da cantora.

Criada na Vila Nova, Zona Sul de Porto Alegre, aos 15 anos, começou a frequentar eventos de slam, competições de poesia falada. E dali em diante não parou, participando de saraus e eventos culturais. 

“Eu já flertava bastante com o rap, porque minhas composições sempre tiveram muita musicalidade. Como o meu primo, que hoje é meu produtor [MDN Beats], já trabalhava com música, ele começou a me pilhar para botar as poesias dentro do beat. Foi assim que aconteceu, de uma forma muito natural, curtindo mesmo.”

No palco do RIC, Cristal contará com a participação do músico Paulo Dionísio.

Disco novo em 2014

O primeiro single foi “Rude Girl”, em 2019. Logo em seguida, veio o hit “Ashley Banks”, com mais de 1,6 milhões de plays no Spotify. Em 2021, Cristal lançou o disco Quartzo. Em 2024, Cristal lança o disco Epifania, que está em fase de produção e sairá pelo projeto Natura Musical.

“É um álbum de soul, um álbum-filme, que conta uma história maravilhosa, com participações lindas e elementos orgânicos. É uma homenagem a todos os artistas negros do soul, da black music, que fizeram e fazem história no Brasil. Sinto que eu sou uma extensão deles e que eu precisava contar minha história a partir dessa inspiração.”


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