Rolling Stones lançam álbum que homenageia o estilo que os uniu

Com uma guitarra nas costas, o garoto de 17 anos viu, naquela estação de trem de Dartford, cidade no extremo leste da Grande Londres, outro rapaz com dois discos debaixo do braço. Keith Richards ficou encantado com os álbuns que Mick Jagger, aos 18, levava consigo. Um deles era uma coletânea de Muddy Waters, o pai do Chicago Blues, subgênero nascido do Delta Blues com a adição da eletricidade das guitarras e baixos, piano e até instrumentos de sopro. A história não é novidade, e assim nasceu uma das maiores parcerias da história da música e uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, os Rolling Stones.

Cinquenta e cinco anos após aquele encontro, depois de tantas pedras rolarem pela a voz de Jagger e a guitarra de Richards, eles novamente se encontram no mais puro blues. Os britânicos lançaram nesta sexta-feira um álbum de covers dedica ao gênero que os uniu. Intitulado "Blue & Lonesome", nome buscado na canção homônima de 1949 do pianista Memphis Slim, o trabalho reúne 12 regravações de clássicos do blues. A ideia era criar um álbum com músicas inéditas, tal qual o antecessor, responsável por trazer a banda em turnê para aquele que foi o maior show da carreira deles, na praia de Copacabana, para mais de dois milhões de pessoas.

"Just Your Fool", de Buddy Johnson, "Commit a Crime", de Howlin' Wolf e "All of Your Love", de Magic Sam estão no seleto repertório. A estes juntam-se "Everybody Knows About My Good Thing", de Miles Grayson e Lermon Horton, que Little Johnny Taylor celebrizou nos anos de 1970, "Ride 'Em On Down", de Eddie Taylor, "Hoo Doo Blues", de Otis Hicks e Jerry West, e "Little Rain", de Ewart Abner Jr. e Jimmy Reed, que fez a primeira gravação em 1957. Há também dois temas do "mestre da harmonia" Little Walter, que se consagrou entre as décadas de 1940 a 1960 - "I Gotta Go" e "Hate to See You Go". 

"Blue & Lonesome", disponível nos principais serviços de streaming, também saiu em CD, duplo vinil, e ainda terá uma edição deluxe que, além do CD, inclui um livro de 75 páginas sobre o processo de gravação do disco e vários postais da banda, assim como um código para download digital. A obra foi editada pela Universal, que garante que "a abordagem ao álbum foi a de que a gravação devia ser espontânea e tocada ao vivo em estúdio, sem efeitos posteriores". Para o trabalho, o quarteto contou com o auxílio dos colaboradores de longa data Darryl Jones, Chuck Leavell e Matt Clifford.

Este é o primeiro álbum da banda sem originais próprios. Em duas das 12 faixas, houve a participação de Eric Clapton, que, curiosamente, se encontrava, na mesma altura, no estúdio ao lado a gravar o seu próprio álbum. As sessões de gravações aconteceram em apenas três dias, em Londres, em dezembro do ano passado, segundo a Universal, e a produção foi de Don Was e The Glimmer Twins - nome da parceria entre Jagger e Richards.

Em meio a tanto acaso, há mais de cinquenta anos, entre tantos trens e plataformas pelas quais eles poderiam passar, Jagger e Richards se trombaram naquela manhã de outubro de 1961 para mudar o rumo da história. E se o blues não estivesse ali, na guitarra de um e nos discos do outro, a história seria outra. A homenagem pode ter tardado a chegar, mas chega com aquilo que os Stones sabem fazer de melhor: música de qualidade.