RZO retorna aos palcos de Porto Alegre para mostrar que "o rap está vivo"

RZO retorna aos palcos de Porto Alegre para mostrar que "o rap está vivo"

Grupo paulista se apresenta no bar Opinião nesta quinta a partir das 23h

Eric Raupp

DJ Cia diz que o RZO vai "fazer uma grande festa e tirar uma onda" com o público da Capital

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Se em 2014 o RZO, um dos nomes mais expressivos do rap nacional, retomou suas atividades com uma grande performance na Virada Cultural, faltava uma confirmação para o público gaúcho de que o grupo estava mesmo de volta. Nesta quinta-feira, eles selam qualquer dúvida sobre o retorno com um show de “reapresentação” em Porto Alegre. A Rapaziada da Zona Oeste sobe ao palco do bar Opinião (José do Patrocínio, 834) a partir das 23h para interpretar seus grandes sucessos, como “O Trem”, “O Mensageiro”, “Rolê na Vila” e “Você Já Sabe”, além de músicas recém saídas do forno e que vão formar o novo álbum da banda, ainda sem nome. Os ingressos custam R$ 60 e podem ser adquiridos pelo site.

Trabalhando em projetos individuais desde 2003, quando lançaram “Evolução é Uma Coisa”, DJ Cia, Helião, Sandrão, que se apresentam na Capital, além da cantora Negra Li, seguiram rumos distintos e tocaram projetos solo. Decidiram voltar a pedido, e por pressão, dos fãs. “Fiquei bons anos na mente dos caras. A cobrança era muito grande, e isso é muito bom de saber, porque nossas letras causaram impacto e as pessoas querem que a gente continue a apontar o dedo nas feridas”, conta DJ Cia. "Tem muito moleque novo que não conhece nada de rap, não só o RZO, não conhece um monte de gente que abriu caminho para essa gente que está aí hoje", justifica sobre a importância do retorno.

Para marcar a reunião, os artistas criaram um projeto de crowdfunding a fim de produzir um álbum. Pela plataforma Kickante, uma ferramenta inexistente quando surgiram música, eles arrecadaram R$ 18.030,00 para “alertar, através do nosso som, as pessoas de todos os problemas sociais e ambientais que o Brasil vive hoje”. “O rap está vivo e é isso que vamos mostrar neste nosso terceiro álbum, que com certeza vai marcar nossa história, comenta o paulista de 43 anos, para quem o rap tem o poder de transformar vidas. "Nesse período de instabilidade e injustiça social no qual o Brasil vive, é preciso mostrar sua força de resistência", afirma.

E é isso que o RZO faz na faixa “Jovens A Frente do Tempo”, quando canta contra a marginalização dos bairros mais pobres: “Nóis não quer morrer, nem matar / Se marcá não há mais tempo pra discutir / A zó tá de volta e nóis tamo apostando / As chances na roda-viva”. Surgido como um movimento de expressão artística e de contestação e empoderamento dos guetos de Nova Iorque durante os anos 1970, o rap sempre teve atrelado a essa função social. E Cia acredita que hoje esse gênero está muito mais difuso e é produzido por pessoas que nunca colocaram os pés na periferia e vivem outra realidade, cantando, assim, sobre ela.

Entretanto, ele, que já discotecou e abriu shows para nomes como Snoop Dogg, Lost Boys e Ja Rule, acredita que isso não representa necessariamente algo negativo. “O rap é sobre contar histórias, então a gente tem que aplaudir quem vai à luta pra cantar a sua. Nós estamos mais maduros, mais experientes, mas nossas letras sempre vão mostrar a realidade de onde a gente vive”, explica. Ele ainda diz que se a música for feita com respeito à origem do estilo e à cultura na qual surgiu inserida, é sempre bem-vinda para ajudar a divulgá-la.

Novo disco tem participação póstuma de Sabotage

A faixa “Neural”, do novo álbum, traz uma participação póstuma de Sabotage e é considerada o primeiro rap do mundo criado a partir da combinação de um processo de inteligência artificial e da intervenção humana. A ideia foi proposta pelo Spotify, que convidou o grupo paulistano para fazer parte do projeto.

Para conceber os versos da faixa, uma rede neural idealizada pela empresa brasileira Kunumi gerou novas rimas a partir da análise de letras e manuscritos deixados pelo cantor morto em 2003, aos 29 anos. As primeiras semanas de trabalho foram de configuração e treinamento da ferramenta tecnológica. Após a formação de sentenças pela máquina, familiares e amigos do artista as validaram.

Em outra sala, ao mesmo tempo em que a outra equipe trabalhava, as frases qualificadas como possíveis de serem expressadas por Sabotage inspiravam o RZO a criar a nova letra e a nova música. O processo seguinte foi finalizar a letra e entrar em estúdio. “Sempre fomos bastante inovadores e gostamos de fazer umas paradas inovadoras, então aceitamos o projeto”, comenta. Ele ainda conta que se sentiu privilegiado ao receber o convite, porque o respeito e admiração entre os artistas sempre foi mútuo.

Outro destaque do disco é a participação dos americanos do Bone Thugs-n-Harmony na faixa “Paz em Em Meio Ao Caos”. A Rapaziada da Zona Oeste conseguiu contato com os músicos de Cleveland, Ohio, por meio de um amigo produtor que iria trazê-los ao Brasil para uma série de shows. “Pensamos que seria louco e da hora uma parceria com eles, então propusemos essa ideia, o produtor curtiu, passou pros caras e eles aceitaram a parada”, conta Cia. A banda brasileira então enviou a proposta aos yankees, que por sua vez, mandaram a gravação com sua parte. Depois, se reuniram para gravar o clipe.

Cia também acredita que a música é uma das inúmeras maneiras de encontrar a tal paz em meio ao caos. “Tem muitas formas de fazer, tem gente que joga futebol, mas pra nós a melhor maneira é o rap. Ele é isso, tentar fazer refletir e ser maior que os problemas do mundo, mostrar que tem outras alternativas”, comenta. No conturbado momento político do país, o DJ conta que é justamente esse sentimento de esperança que o RZO vai trazer para o show na Capital. “As pessoas do Sul sempre curtiram bastante nossas músicas, e a nossa intenção é cantar os clássicos e as novas, fazer uma grande festa, tirar uma onda. Estão todos convidados”, finaliza.

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