Sem smartphone no mundo do Wi-Fi

Sem smartphone no mundo do Wi-Fi

Jovens abrem mão dos aplicativos e acreditam ter mais tranquilidade com uma vida sem sinal

Júlia Endress

De todas as pessoas que têm smartphone no RS, 87,3% estão entre os 25 e 35 anos

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Você sabia que hoje, só aqui no Rio Grande do Sul, 95,7% dos habitantes possuem um smartphone? Os dados foram revelados em uma pesquisa recente do IBGE, indicando que todas as faixas etárias estão ingressando quase que totalmente no universo digital. O aumento maior, contudo, ainda está ligado ao público entre 18 e 49 anos, com destaque para a galera de 25 a 35: líderes isolados dominando 87,3% do acesso. Ou seja, quase todo mundo. Quase.

A partir desses dados, é difícil imaginar como alguém faz para combinar um encontro com os amigos sem Whatsapp. E pedir um táxi pelos novos aplicativos agilizadíssimos, então? Ou, ainda, o que fazer quando se entra na rua errada e não tem o Google Maps ali, na mão, para salvar a pátria?

Pois bem, os 12,7% dos jovens que sobrevivem sem nenhuma dessas facilidades que já entraram na lista do “não vivo sem” de gente, avisam que estão muito bem, obrigado. E mais do que isso: revelam que não sentem a menor falta dessa tecnologia toda que já ganhou caráter essencial hoje em dia. Que ver como?

Visualizou e não respondeu
Imagine um casal que nunca brigou em função daquele clássico stress do Whatsapp: visualizar e não responder. Isso é que o acontece com os professores Mateus Ranzan, 30 anos, e Tiele Bertol, 29 anos (abaixo). Ele tem um celular antigo, daqueles que só ligam e mandam mensagem. Ela, por sua vez, até comprou um desses modelos novos há pouco em função do trabalho, mas confessa não ter se adaptado, tanto que esquece de sair de casa com ele. 

Sendo assim, eles não participam de nenhum grupo, muito menos passam o dia conectados conversando um com o outro para saber o que estão fazendo. Como vantagem, garantem manter a relação mais saudável e ter sempre assunto para falar quando estão juntos, ao vivo. “Durante nossos cinco anos de namoro não nos comunicamos por meio de aplicativos, nem através de programas de comunicação durante o dia e isso realmente não fez e não faz falta. Claro que, às vezes, não conseguimos falar, mas entre nós, que não somos dependentes desses meios, é tudo tranquilo”, conta ela.


A estudante de taquigrafia Magda Togni, 30 anos não possui celular desde 2006, quando foi roubada, e vive agora “semi-incomunicável”, encarando olhares incrédulos daqueles que lhe pedem o número do telefone e recebem como resposta um “não tenho”. Adepta só do e-mail e do Facebook, ela sente a cobrança da irmã para comprar um novo aparelho e baixar as mais diversas ferramentas para bate-papo. Apesar disso, ela ainda não pretende se render. “Eu noto que a maior parte das conversas são supérfluas, então, nesse caso, não sinto impacto algum em estar excluída, em não participar disso”, afirma.

Quem também convive com a insistência da família – e até brigou com uma amiga por causa disso -, é a produtora cultural Gabriela Saenger Silva, 36 anos. Com um celular mais “normalzinho”, ela também não dá bola para quem lhe pede para usar isso ou aquilo para se comunicar melhor. E tudo por um motivo simples: para ela, isso gera uma autocobrança de estar sempre disponível para responder rápido assuntos nem sempre relevantes. “Percebo que as pessoas consideram mais importante me acharem fácil do que efetivamente falar algo importante comigo”.

Vida de táxi sem app
Vamos combinar: quem já tentou conseguir um táxi em Porto Alegre em um dia de chuva sabe o quanto isso pode ser uma tarefa chata e cansativa. Porém, para o Mateus e para a Tiele essa incomodação é só uma pequena dificuldade do dia a dia. Há duas semanas, quando um temporal atingiu a cidade, eles passaram cerca de duas horas fazendo ligações para os serviços de táxi convencionais. Acreditem ou não, eles não se estressaram por causa disso, nem resolveram usar efetivamente o novo celular da Tiele e baixar um aplicativo específico. “Até pode ser que a gente deixe de ter algumas facilidades, como esses apps, mas isso não torna a nossa vida mais difícil. É tudo normal”, dizem.

Para Gabriela, que também usa os serviços de telefone convencionais ou caminha algumas quadras até achar o ponto de táxi mais próximo, isso também faz parte da mais absoluta normalidade. Na visão dela, esse jeito, que hoje já é visto como um padrão ultrapassado, não é nem um pouco absurdo para ser vivido, só requer um pouco mais de paciência e disposição. “E quando fica muito impossível, posso pedir para os amigos que usam os aplicativos”, brinca ela. 

Joga no Google (Maps)
Um grande facilidade dos smartphones, é bem verdade, é o serviço de GPS, que dá a localização exata de onde estamos. Dá até para ficar no ônibus tranquilo sem aquela tensão de saber se o cobrador vai lembrar de te avisar a parada certa para descer. Só que, quando não se tem nada disso, o jeito é planejar.

A dica vem da Magda, que conta que se organiza bastante antes de sair por aí desbravando locais desconhecidos porque sabe que, na hora, se tiver algum problema, não vai poder recorrer ao celular. Claro que ela não chega a carregar um mapa impresso, mas diz que perde um tempinho pesquisando no computador de casa os endereços que precisa ir. “Não depender de celular é uma questão de gerenciamento do meu tempo. Não quero passar meu dia digitando e nem olhando para uma tela pequena, com tantas coisas que já tenho para fazer e, ainda por cima, enchendo minha mente de informações, em sua maioria, inúteis”, defende.

Para a Gabriela, o fato de ter um smartphone não garante ter todas essas facilidades, como o GPS, porque as baterias parecem não durar muito. “Tenho a impressão de que os telefones de hoje precisam ser constantemente recarregados, algo que não é muito legal quando se usa, principalmente para quem precisa fazer ligações como eu faço. E claro que não quero ficar levando carregador na bolsa o dia todo e procurando tomada nos lugares para conseguir falar com alguém”. 

Ninguém vai saber que eu comi aquele sushi ontem...
Atualizar as redes sociais. O novo comportamento, já sacramentado, acompanha check-in, selfie e foto do prato ou do drink. Normal para uns, excessivo para outros. Para Magda, a situação incomoda, tanto que afirma que jamais deixou a comida esfriar porque aliou um almoço a conversas no celular. O problema estaria em não viver os momentos, pois as pessoas parecem não curtir a companhia real das outras. “Elas passam um show ou um jogo de futebol no celular, não prestam atenção quando os amigos lhe dirigem a palavra… Sendo que a maioria das coisas na internet pode esperar, enquanto aquilo que você está presenciando pode durar apenas instantes”, reflete.

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