Setor de eventos lamenta paralisação e aguarda retomada

Setor de eventos lamenta paralisação e aguarda retomada

Atividades culturais estão entre as mais impactadas pela pandemia do coronavírus

Jessica Hubler

Setor cultural é um dos mais impactados pela pandemia

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Entre os setores fortemente impactados pelas restrições provocadas pela pandemia do novo coronavírus, no Brasil e no mundo, está o de eventos e entretenimento. Dentro dessa cadeia produtiva, que envolve empresas de locações de espaços e materiais, artistas, produtores, operadores de som, técnicos de diversas áreas, entre outros, os prejuízos têm sido ainda contabilizados. Foi um dos primeiros segmentos a fechar, devido à característica que envolve invariavelmente a aglomeração do público.

Em Porto Alegre, o diretor da Opinião Produtora, Claudio Magrão Favero, responsável por administrar o Opinião, o Pepsi On Stage e o Auditório Araújo Vianna, não revelou os números do prejuízo, mas garantiu que é bem expressivo. Entre os mais de 70 shows que já estavam marcados, Magrão explicou que pelo menos três, que eram internacionais, precisaram ser cancelados por conta das incertezas em torno da pandemia, enquanto os demais, nacionais, foram reagendados.

“Conseguimos readequar agendas até o final do ano, até março do ano que vem temos shows reagendados. O grande problema é a janela, porque antes tínhamos nove meses para trabalhar, eles vão virar quatro ou cinco, onde vamos ter que contemplar todos os shows que já estavam marcados, então vai ter uma oferta muito grande de show no mercado”, afirmou. Segundo ele, essa oferta vai atingir praticamente os mesmos perfis de público. “Com muita demanda de shows, as pessoas talvez não tenham condições econômicas para irem a todos eles e vão optar por algum. Isso para nós também será um desafio”, reiterou.

Para a Impacto Vento Norte, empresa que atua no segmento de festas, shows e eventos, conforme o administrador Angelo Aita, pelo menos 200 eventos deixaram de ser realizados, sendo uma média de 70 mensais. O principal impacto da pandemia, segundo Aita, é a impossibilidade de trabalho. "Precisamos encontrar meios para se manter em dia com todas as obrigações mesmo sem ter trabalhos", afirmou.

Por conta da paralisação total do setor, Aita informou que muitas demissões ocorreram. "Tivemos de reduzir drasticamente nossos setores, uma vez que estão parados a 90 dias e não temos como arcar com os salários enquanto estivermos sem receita", explicou.

Shows já têm novas datas

Magrão comentou que alguns valores referentes a “sinais” de shows já foram pagos, outros pagamentos são feitos até depois dos shows, mas a maioria dos ingressos que já foram vendidos, não tiveram reembolso. “Entendemos que o público acredita muito na nossa empresa, temos uma credibilidade muito legal, eles sabem que realmente vamos entregar o que compraram. Com certeza vai poder ser em um segundo momento ou, se não for, vai receber o dinheiro de volta. Cerca de 90% dos shows já têm novas datas e tivemos pouquíssimas solicitações de devolução dos valores do ingresso”, afirmou. 

Segundo Magrão, é preciso também que o público entenda que a entrega, no caso do show, vai ser feita e também que isso é uma cadeia econômica. “No momento que devolve o ingresso, está prejudicando toda uma cadeia produtiva. É muito importante que as pessoas entendam isso, porque tu pulveriza uma bilheteria em duas, três mil pessoas, se tu faz uma devolução, tu pode acabar fazendo com que a empresa tenha maiores dificuldades”, destacou.

O maior impacto até o momento, de acordo com Magrão, é o emocional. “Somos ligados a trabalhar com encanto, fazer com que as pessoas fiquem felizes, no momento que tu olha para as casas vazias, ficamos tristes porque não movimentamos todo aquele encantamento, ele não existe”, desabafou. “Isso pra nós é o pior, economicamente falando é dolorido, mas temos certeza que vai voltar, estamos preparando uma retomada”, disse. 

A expectativa é de que as atividades, pelo menos no Auditório Araújo Vianna, possam ser liberadas a partir de julho, com 50% da capacidade do espaço. “No Araújo a gente tem um pouco mais de tranquilidade, como são assentos marcados, acreditamos que seja possível trabalhar com um percentual de capacidade, isso acaba podendo viabilizar o uso do equipamento”, afirmou. Para o Opinião e o Pepsi On Stage, Magrão afirmou que a expectativa é retomar o funcionamento a partir de setembro. “Mas a retomada, realmente, acreditamos que só vai acontecer quando tivermos algum elemento que nos dê tranquilidade, como vacina ou tratamento”, disse.

Retomada do setor deve ser com cautela e segurança

Apesar das expectativas de possibilidade da retomada do funcionamento das casas, Magrão ressaltou que tem convicção de que não haverá a mesma intensidade de vendas de ingressos ou de shows e festas. “Talvez em um primeiro momento sim, as pessoas até por estarem hoje praticamente sem nenhuma atratividade pra ir, pode ser que as pessoas tenham essa vontade, mas acho que as pessoas vão se retrair um pouco novamente”, afirmou. Caso as retomadas aconteçam, Magrão garantiu que as casas devem seguir todos os protocolos de saúde já colocados em prática em outras atividades, como em shoppings e restaurantes. “Mas isso é muito pautado em cima do que está acontecendo, principalmente pela área da saúde”, declarou.

“Não queremos simplesmente forçar uma abertura sem ter segurança, precisamos disse para que o cliente e o colaborador se sinta à vontade, acho que isso é o mais importante”, reiterou. Com relação aos colaboradores, Magrão comentou que são cerca de 60 com carteira de trabalho assinada e outros intermitentes mas, até o momento, não houve nenhuma demissão. “Estamos usando ainda a medida provisória do governo federal, mas a partir do mês que vem não sabemos o que vai acontecer. Ainda não houve prorrogação, estamos aguardando”, disse.

Com relação aos problemas financeiros, o administrador da Impacto Vento Norte, Angelo Aita, afirmou que a empresa conseguiu flexibilizar muitas das contas com fornecedores fixos, "assim como os programas do governo também ajudaram, porém mesmo assim os valores que agora não entraram farão muita falta no futuro e certamente teremos de nos readequar". Para a retomada, Aita afirmou que a empresa está buscando alternativas.

"Estamos estudando as possibilidades de atuar via lives e projetos como o Poa Drive-in Show, porém eventos de grande porte acreditamos que talvez apenas em 2021", destacou. Ele ainda disse que a retomada deve ser com responsabilidade. "Principalmente, visando a segurança do público que é o foco principal dos eventos, sem isso não se torna viável retomar", afirmou


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