Sozinho, Bob Dylan passeia pelas ruas de Copacabana

Sozinho, Bob Dylan passeia pelas ruas de Copacabana

Vestindo gorro e casaco, músico foi visto pouco antes do show no Rio

AE

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Procurar por Bob Dylan na tarde do Rio equivale a procurar pelo Eldorado no meio da Amazônia peruana. Como achar essa espécie de Greta Garbo do rock entre ciclistas e corredores marombados, mulatas sargentellianas, turistas franceses e alemães com rostos tão vermelhos que parecem o braseiro da churrascaria Porcão? Dylan nunca quis ser encontrado, por que iria facilitar agora? Ainda assim, por contingência profissional, não restava outra coisa a fazer a não ser buscar por ele quixotescamente pela estupenda tarde de domingo.

A estratégia era a mais óbvia: um giro pelos hotéis mais estrelados do Rio. Entre os locais visitados estão o Fasano de Ipanema e o Copacabana Palace. Nada encontrado, até que, pouco antes das 16h, saída pela esquerda, já abastecido de uma refeição que custava metade do couvert do Fasano, tomando o rumo da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, para o táxi final antes do show. Ao menos no show ele dará as caras, e a torcida é para que essa noite promova novamente um encontro com a sua música mutante que inaugurou uma nova perspectiva para a arte contemporânea.

"Aquele cara de touca e casaco ali parece o Dylan", ela diz, desencanadamente. Só o que me faltava, um sósia a essa hora, eu pensei. Mas aí o sujeito se virou para a avenida e o sangue gelou nas veias. "A máquina! A máquina! A máquina! É ele! É ele MESMO!" Os segundos pareciam horas, a avenida parecia mais larga, e Dylan olhava para um lado e para o outro sem se decidir, parado na frente da banca de jornais da Rua Inhangá. "No direction home", como sempre. Se for para o outro lado, vai pegar mal correr atrás dele, pensei. Mas aí ele veio para o nosso lado, tranquilamente, como se fosse parte da paisagem, sem causar nenhuma curiosidade dos velhinhos e dos cães de estimação de Copacabana. Caminhando resoluto, com as mãos nos bolsos. Fez uma careta quando viu a máquina fotográfica, mas não parou, continuou andando na direção da lente, e passou por nós aceleradamente.

"Hey, Dylan!" Ele já ia sumindo na rua quando se voltou e respondeu com um grunhido: "You are a f... paparazzi!" Não, não, não, eu jurava, querendo acreditar em minhas próprias palavras. "Para quê a foto?", ele perguntou. "Para o Facebook, para a gente mesmo", menti. Eu me peguei mentindo para Bob Dylan, minha alma estava ficando atormentada, ele era o primeiro ídolo e será o último. "Por quê?", ele ainda perguntou. "Porque você é um dos importantes artistas do século 20", respondi. E ele sorriu. Só aí ele relaxou. Pediu para a garota se aproximar, para que eu tirasse uma foto dele com ela. As mãos tremiam, o foco desapareceu, a rua desapareceu. Sorriu quando ela perguntou se estava se divertindo no Rio. "Eu adoro!" Não sabia mais como mantê-lo ali. "Você está com fome?", perguntei. Dylan acariciou a barriga com as mãos, fazendo o clássico gesto de bucho cheio. "Não mesmo." Eu apontei: "É que ali na rua de trás tem uma cantina italiana daquelas clássicas, sabe aquelas que parecem frequentadas pela máfia? Muito boa mesmo." Ele se interessou: "Para lá?" Sim, eu respondi. "Ok", ele disse, sorrindo de novo, e mudou a direção para a rua de trás. Resolvemos deixá-lo em paz (mas aposto que ele viu a gente pulando e se abraçando no meio da rua como doidos).

As informações são do repórter Jotabê Medeiros, do jornal O Estado de S. Paulo.

Bob Dylan está no Brasil para seis apresentações. O show no Rio aconteceu na noite desse domingo. Depois, o músico vai a Brasília, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre, onde encerra a turnê no dia 24 de abril, no Pepsi On The Stage. Para o show na capital gaúcha, não há mais ingressos disponíveis.

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