Tchekhov, Tolstói e Kafka são revisitados no teatro virtual

Tchekhov, Tolstói e Kafka são revisitados no teatro virtual

“Moscou para Principantes”, “Sônia, um Ato por Tolstói” e “Colônia Penal” são as atrações cênicas desta terça-feira

Correio do Povo

“Colônia Penal”, da Cia Carne Agonizante apresenta "Colônia Penal", baseado na obra homônima de Fraz Kafka e na ditadura militar brasileira

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Com texto e direção de Aline Filócomo, integrante e uma das fundadoras da Cia. Hiato, “Moscou para Principiantes” visa a reflexão sobre os sentidos atuais do trabalho a partir do ponto de vista da mulher, relacionando o tema com questões como o “desejo e a capacidade de criação” e “o impulso de concretização de outras realidades possíveis”. Transitando entre as linguagens teatral e cinematográfica, o experimento on-line com Fernanda Stefanski, Natacha Dias e Rita Grillo pode ser conferido no Youtube, de hoje a quinta e de 20 a 22 de abril, sempre às 17h. 

Publicado em 2020 pela Editora Javali, o texto surgiu da transcrição poética de conversas estabelecidas entre as artistas a partir de temas presentes em “As Três Irmãs”, de Anton Tchekhov e, do registro de encontros entre a dramaturga e um grupo de mulheres da terceira idade. Tangencia discussões importantes do atual momento político brasileiro, que pôs fim às seguranças trabalhistas e previdenciárias, o que atrelou a existência à capacidade humana de produzir: o tempo é transformado em matéria consumível e o ataque generalizado à arte e à cultura anulam o direito à criação e contemplação. 

A ideia surgiu há 5 anos, quando as artistas tiveram uma conversa profunda sobre o reconhecimento de certo esgotamento nos antigos moldes de relacionar o teatro às próprias vidas e o desejo de achar uma forma criativa coerente com a nova imagem de si mesmas que a meia-idade começava a construir. Elas também compartilharam o fim de certas expectativas cultivadas sobre a profissão e a urgência de reprogramar seus rumos profissionais e reinventar anseios pessoais. Alguns assuntos desse encontro tinham semelhança com a peça de Tchekhov e eram diretamente influenciados pela atual crise política brasileira, que começava a interferir de modo direto e impactante nas relações cotidianas e profissionais já naquele momento.

A atriz e bailarina Mariana Muniz estreia monólogo online sobre a vida de Sófia Andrêievna Tolstaia, sobre a viúva de Liev Tolstói, autor de clássicos universais, como “Guerra e Paz” e “Anna Karenina”, nesta terça, às 20h, com direção de Elias Andreato. Em “Sônia, um Ato por Tolstói”, os dois veteranos trabalham no texto do jovem escritor Thiago Sogayar Bechara, com carreira literária e editorial, mas ainda inédito nos palcos. A transmissão ocorrerá gratuitamente, pelo Youtube da MoviCena Produções. 

O solo apresenta Sônia a partir de uma visão feminina da relação conjugal que, desde o século XIX, é tema de discussão na filosofia, na sociologia, na psicologia, na política e na literatura, onde Tolstói deu primazia biográfica para acontecimentos ligados ao seu casamento. Preparando-se para receber uma homenagem póstuma feita ao marido, a viúva Sófia Andreiêvna (Sônia) se debate contra as paredes de sua memória e acaba por revelar seu ponto de vista sobre um homem a respeito do qual o mundo inteiro pensava ter direitos. Para o autor, “dar voz à Sônia tem significado simbólico agregado, e funciona imediatamente como metáfora para a discussão de temas universais e contemporâneos, como respeito, tolerância, empoderamento feminino, lugar de fala, religiosidade, artes e, claro, amor. Não o amor idealizado em perfeição e equilíbrio estável, mas o amor concreto, construído e manutencionado dia após dia, reforçado com doses de concessão mas também de autoritarismo, ciúmes, posse, e todos os componentes da falibilidade humana que tornam uma relação, inevitavelmente, um laboratório de emoções e investigações sobre a espécie”.

Inspirado na obra homônima de Fraz Kafka e na ditadura militar brasileira, “Colônia Penal”, da Cia Carne Agonizante, faz temporada online desta terça até quinta, também às 20h, pelo Youtube do grupo de dança. Dirigido por Sandro Borelli, propõe que o insólito e o absurdo possam ser percebidos em várias situações: numa detalhada descrição de métodos de tortura dos regimes antidemocráticos abrigando e acobertando assassinos; na cruel e irônica omissão de um observador estrangeiro; na estranha relação entre o poder oficial e o condenado. No último dia haverá bate-papo pela plataforma Zoom, após a exibição.

A abordagem da condição humana e social implícita nas obras de Kafka é de uma atualidade desconcertante e nos dá uma visão ampla e original do indivíduo em relação ao meio em que está inserido. A opressão, o aprisionamento e a desesperança deste homem que traz em si as marcas de sofrimento de um mundo alienado são temas recorrentes em sua obra. O escritor tcheco faz uma análise crítica sobre o instituto da pena, analisando os seus limites, a sinistra imposição de sanções baseadas em castigos corporais pelo Estado e ilustra com clareza e precisão as barbáries que constituíam as técnicas medievais na aplicação dessas coações punitivas. É uma crítica aberta aos regimes despóticos, nos quais o processo judicial e o direito de liberdade são subjulgados. 

 

 


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