Tentilhão’ traz à cena texto da dramaturga alemã Caren Jeß

Tentilhão’ traz à cena texto da dramaturga alemã Caren Jeß

Elenco feminino e personagens pássaros marcam o espetáculo, que utiliza o humor, a poesia e a reflexão para abordar questões do universo humano

Vera Pinto

Atriz Hayline Vitória no quadro "Flamingos"

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elo Festival Palco Giratório Sesc, “Tentilhão” é a montagem concebida e dirigida por Thiago Silva, a partir do texto da alemã Caren Jeß, que transita entre linguagem teatral e audiovisual, através de parceria entre o Coletivo Nômade e a Nós em Arte - Produtora. Questões humanas, como vaidade, identidade, exclusão e gênero são alguns dos temas abordados, na narrativa em forma de fábula, que estreia pelo projeto Transit, iniciativa do Instituto Goethe junto com o Sesc. A transmissão ocorre gratuitamente hoje, às 20h, pelo Youtube do Sesc RS. 

Um elenco feminino leva à cena um prólogo, quatro quadros independentes entre si, com elementos em comum e um epílogo. Ana Cecília Reckziegel, Bruna Johann, Cleo Soares, Hayline Vitória e Jennifer Ribeiro foram submetidas a um intenso trabalho corporal para dar vida ora a aves, ora às próprias atrizes. Para Hayline Vitória, o que chamou atenção inicialmente no texto, foi a escolha em trabalhar com animais, em especial, aves. “E como ela (Caren) conseguiu trazer uma característica específica para cada quadro - para cada um deles ela trouxe uma linguagem, uma reflexão, conseguiu apontar estereótipos que existem na nossa sociedade e relacionar com aqueles animais. Assim como conseguiu desmistificar alguns estereótipos e nos fazer questionar sobe estes marcadores que são colocados até mesmo nas aves”, afirma. 

Nos personagens, um pavão encardido rejeitado pela mãe, que cresceu em uma floresta escura sozinho, para falar de exclusão, minorias políticas e pertencimento. Um falcão que vive isolado em um galpão de concreto atrai a atenção de pesquisadores do mundo todo, intrigados com o fato dele não sair daquele lugar. Um corvo que detém dois flamingos, para sempre dançar, tematiza a opressão. E uma perua que faz discursos a outros perus, negando a ciência, assunto bastante atual. “O trabalho circula entre o poético, uma fotografia visceral e o cômico. Trata-se de uma obra voltada muito mais a perguntas do que a respostas”, pontua Thiago. 

O Correio do Povo conversou com o diretor e uma das atrizes, sobre o trabalho que estreia hoje. Confira:

Como foi a concepção e processo do espetáculo? 
Thiago Silva - O Transit existe há cinco anos e consiste em montar um texto alemão sob a perspectiva de dois diretores, com seus olhares e linguagens e em 2021 o escolhido foi "Bookpink - O Tentilhão" de Caren Jeß, a partir do edital proposto pelo Instituto Goethe. Em julho aconteceu o processo de seleção, no início de agosto saiu o resultado e imediatamente a equipe começou a trabalhar na montagem híbrida. Não temos a pretensão de fazer cinema, mas também não é o teatro que a gente conhece. Setembro foi dedicado ao processo de criação e gravação e a estreia é agora, pelo Palco Giratório. O processo foi bem curto, geralmente é bem mais longo, entre quatro e cinco meses. 
Foi bastante desafiador ao lidar com o audiovisual, que não é necessariamente a nossa área, mas nestes tempos de pandemia, migramos pra este lugar. Foi rápido, mas bastante intenso: a dramaturgia da Caren é em forma de fábula e todos os personagens do texto são aves - falcão, pavão, andorinha, cotovia, flamingos, corvos - todos eles falando de questões humanas, como gênero, pertencimento, identidade, exclusão social,desiguldade. Tudo isto está diluído. O processo de criação focou muito na direção de elenco, para tentar trazer este espaço para o corpo das atrizes  e processo de fotografia, nas escolhas de enquadramento. Como fazer este híbrido entre o personagem animal e a própria atriz? Porque nem sempre é a ave em cena. 

A equipe já havia trabalhado antes?
Thiago Silva- Eu como diretor já havia trabalhado com todos da equipe - elenco e técnicos - mas creio que nem todos tenham contracenado juntos, daí fiz o meio de campo.  A maioria pertence ao Coletivo Nômadede Teatro e Pesquisa Cênica, que nasceu no Departamento de Arte Dramática (DAD) da Ufrgs no final de 2016, quando todos eram alunos. Eu, a Hayline, o Roger Santos (iluminador e cenógrafo) e Jennifer Ribeiro (maquiadora) somos membros efetivos. Tem a Ana Cecília Reckziegel, que é professora do DAD, as atrizes Bruna Johann e Cleo Soares e Régis Moewius (trilha sonora) como convidados. E a assitência de direção de Renata Lorenzi, com quem eu fiz a edição, que é da Nós em Arte, produtora parceira na realização com o Coletivo Nômade.  Todos são bachareis e licenciados em Teatro. 
Nossa produção se caracteriza  pela pesquisa de linguagem contemporânea, especialmente nas áreas para infância e juventude, teatro-documentário, relações entre teatro e história, construção dramatúrgica e ação e construção do ator em cena. O primeiro texto montado foi "Desterros: Sobre Restos que Não Importam Mais", documentário cênico sobre ditaduras militares na América Latina; depois veio venil "Junho: uma Aventura Imaginária". Estão em andamento, "Classe Cordial",  vídeo-teatro que estreou em agosto último, sobre a luta antimanicomial no Brasil; "Sim One Nina", sobre  a cantora Nina Simone e a infantil  "Pic-Nic, uma História de Fantasmas", com estreia prevista para 2022. Até aqui, todos os trabalhos do grupo foram autorais, assinados por mim, junto com Pedro Bertoldi. "Tentilhão" é o primeiro de um outro autor, a autoralidade está no processo de encenação: direção, estética, e na roupagem qu =e o coletivo deu à obra da Caren.

O que mais chamou atenção no texto da dramaturga alemã Caren Jeß? 
Hayline Vitória - Primeiro a escolha que ela teve em trabalhar com animais, em especial aves. E como ela conseguiu trazer uma característica específica para cada quatro - para cada um deles ela trouxe uma linguagem, uma reflexão, conseguiu apontar estereótipos que existem na nossa sociedade e relacionar com aqueles animais; assim como conseguiu desmistificar alguns estereótipos e nos fazer questionar sobe estes marcadores que são colocados até mesmo nas aves. Mas claro que quando a gente transpõem estes esterreótipos para o nosso cotidiano e consegue relacionar com a gente enquanto seres humanos, vemos as muitas camadas que o texto apresenta. Esta linguagem foi extremamente prazeirosa de ler e muito desafiadora de encenar.
Uma das escolhas do Thiago enquanto diretor foi priorizar o trabalho de atrizes, dentre elas, uma negra, uma lésbica e uma trans.

Sobre a estrutura e temática do texto, poderia detalhar um pouco?
Thiago Silva -  "Tentilhão" tem um prólogo, quatro quadros independentes entre si, com elementos que perpassam todos eles e um epílogo. Caren traz elementos de questões  humanas que ela discute através dos personagens-pássaros, que vão se retroalimentando nos quadros. Um pavão encardido, rejeitado pela mãe, cresceu numa floresta escura sozinho. A partir daí são tratadas questões de exlusão, minorias políticas, pertencimaneto. Um falcão que vive isolado em um galpão de concreto, atraindo a atenção de pesquisadores do mundo todo quer saber porque ele não sai daquele lugar. Ela usa metáforas pra falar de problemas que são nossos, humanos. Um corvo que detém dois flamingos, para sempre dançar fala de opressão. E pra fechar, uma perua faz discursos para outros perus, negando a ciência, assunto bastante atual. O epílogo tem fechamento com licença poética. O trabalho transita entre o poético, uma fotografia visceral e o cômico. Trata-se de uma obra voltada muito mais a perguntas do que a respostas. 

 

 


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