Uma atriz com o vigor da criação e a energia de quem quer seguir na arte

Uma atriz com o vigor da criação e a energia de quem quer seguir na arte

Experiente nos palcos e nas telas, Renata Castro Barbosa fez série, comanda festival, atua em filmes e não quer para

Luciamem Winck

"Eu comecei a fazer teatro no colégio, aos 11 anos. Não tinha a menor ideia de que viraria minha profissão", diz Renata

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Renata Castro Barbosa está festejando 50 anos e 40 de carreira com muitas novidades. A atriz pode ser vista na série “A magia de Aruna”, na Disney+, como Teresa, a mãe da protagonista Mima (Jamilly Mariano). Até 3 de fevereiro, a artista comanda o festival “O humor contra-ataca”, no Quality Stage, no Rio. O evento, que tem sua curadoria, terá apresentação de diversos humoristas renomados, como Flávia Reis, Rafael Portugal e Yuri Marçal. Ainda neste ano estão previstas as estreias dos longas “Tudo por um pop star 2”, baseado em obra homônima de Thalita Rebouças, “Missão de Ulisses” e “Mallandro – o errado que deu certo” e da série “Matches”, da Warner, dos quais ela participa.

Seu mais recente trabalho no cinema foi “Ninguém é de ninguém”, baseado em obra homônima. A produção, com direção de Wagner de Assis, estreou em abril de 2023. No cinema, atuou em mais de 10 filmes, como “Ninguém entra, ninguém sai”. Nos palcos, esteve em mais de uma dezena de peças, como “Os famosos quem” e “Toalete”.

CS - Renata, como é viver há 40 anos de arte no Brasil?

Renata - É para festejar e muito! Em um país onde a arte é tão pouco valorizada e onde as grandes chances são pra poucos, chegar até aqui, vivendo só de arte é motivo de orgulho. São muitas batalhas, muitas vezes dá vontade de desistir, mas quando a gente é apaixonado pelo que faz, respira e segue em frente! Sou muito feliz com a minha trajetória.

CS - Aliás, como surgiu seu interesse pela dramaturgia ainda cedo? Teve apoio da família? Se fosse hoje, começaria tão nova numa carreira tão imprevisível?

Renata - Eu comecei a fazer teatro no colégio, aos 11 anos. Não tinha a menor ideia de que viraria minha profissão. Eu era extremamente tímida, quase um bichinho do mato. No meu primeiro dia de aula em um colégio novo o professor me faz levantar e falar na frente de toda turma. Quase morri. Daí pra frente me apaixonei pelo teatro. Anos depois fui chamada para fazer um teste para uma minissérie e acabei fazendo minha primeira novela e não parei mais. Minha família sempre me apoiou, incentivou, mas quando fiz 18 e acabei o colégio, minha mãe me perguntou que faculdade eu iria fazer, que tinha sido muito divertido até ali, mas agora era hora de escolher minha profissão! (risos) Mas não com uma pressão para eu não seguir. Ela achou mesmo que era um passatempo. Quando entendeu que não era, incentivou, mas sempre com muito medo, justamente pela instabilidade da profissão. Fiz vestibular, passei para Psicologia, mas tranquei para fazer uma novela. Anos depois, as coisas estavam bem difíceis. Um momento que todo artista sabe o que é, onde nada aparece… Fiz outro vestibular e fui fazer Jornalismo. Nem cheguei a cursar, apareceu outro trabalho irrecusável e tranquei a faculdade e não voltei mais. Se eu pensar com a razão teria feito a faculdade de Psicologia. Mas não consigo me ver fazendo outra coisa. Não me arrependo de ter começado tão nova. Então, provavelmente, faria tudo de novo…

CS - Com 40 anos de carreira, como você observa a importância das redes sociais para a exposição do artista e o contato com o público - o que não existia há alguns anos?

Renata - Acho a parte da aproximação com o público bem interessante. Hoje mesmo, uma pessoa me mandou cenas antigas minhas de uma série que eu não tinha. Não a conheço, mas trocamos várias mensagens e ela me mandou as cenas. Isso jamais aconteceria antes das redes sociais. Gosto dessa proximidade, dessa troca. Poder divulgar meu trabalho e até produzir coisas sem depender de ninguém é sem dúvida uma coisa maravilhosa. O que facilita para termos acesso a coisas incríveis e outras nem tão boas assim, mas ainda tenho receio da exposição excessiva. Não sou aquela pessoa que posta toda vida, mas já entendi a importância das redes sociais para meu trabalho e acho até que estou lidando bem com ela. Com um filho adolescente, minha preocupação com isso já vem de bastante tempo. Sempre fui atenta à forma como ele estava usando, com quem estava falando. Até hoje falamos bastante sobre isso. E confesso que agora é ele que fica de olho se perdi a mão, se está bom… (risos)

CS - Como é ter crescido como pessoa e como profissional diante dos olhares do público?

Renata - Com certeza tive que amadurecer mais cedo. A responsabilidade era grande e não só no trabalho, no dia a dia também. Saber que atitudes minhas podiam influenciar alguém, uma pessoa que fosse, me fez estar sempre atenta. Mas isso nunca foi um peso pra mim. Sempre fui tranquila, e nunca deixei de fazer nada do que eu queria por isso. Mas não ter crescido em tempos de rede social com certeza facilitou bastante. Eu tinha mais privacidade. Podia chorar um término de namoro em um aeroporto, por exemplo, sem que o mundo soubesse disso em tempo real.

CS - Você está fazendo curadoria de um festival de humor que vai acontecer no Rio de Janeiro, nos dois primeiros meses de 2024. Como está sendo fazer esse trabalho e o que podemos esperar dele? Como você observa o mercado de humor para as mulheres?

Renata - Eu estou apaixonada por esse projeto. É um desafio novo e eu adoro isso. Vai sacudir o Rio! Temos alguns dos melhores comediantes com a gente, como Rafael Portugal, Leandro Hassum, os melhores do mundo com o Hermanoteu na terra de Godá, Igor Guimarães, Paulinho Gogó, Fábio Rabin, Nany People, Flavia Reis, Yuri Marçal, Sergio Mallandro, Dadá Coelho, Babu Carreira e outros. Ter uma casa como o Qualistage, que normalmente só recebia música, recebendo humor, é uma abertura maravilhosa. Com tantos teatros sendo fechados, ter uma casa desse porte recebendo teatro, arte é animador! O mercado já melhorou para nós, mas ainda falta muito. Se você for olhar pelo famoso "algoritmo", ainda somos poucas com a mesma força dos homens, mas isso é só uma questão de tempo. Sempre tivemos mulheres incríveis fazendo o humor e que foram abrindo as portas pra as que estão chegando. Tivemos Dercy Gonçalves, Nair Bello, Claudia Gimenez, Marcia Cabrita e tantas outras que já não estão por aqui, mas deixaram seu legado. Temos Regina Casé, Deborah Block, Fafy Siqueira, e muitas outras… e agora somos cada vez mais tem toda uma nova geração fazendo humor, empoderadas. Mas lutar contra o machismo que está tão intrínseco, até mesmo em nós mulheres, demanda tempo, luta e paciência, porque o talento, esse a gente sempre teve.

CS - Somente agora, com 40 anos de carreira, você está estreando no streaming em “A magia de Aruna”, da Disney. Conte mais desse projeto e como observa o mercado para os artistas e técnicos com essa crescente presença do streaming?

Renata - A série é linda! Assisti dois episódios de lançamento e nem eu esperava que ficasse tão incrível! É uma série para toda a família e que aborda temas importantes, como a diferença, a exclusão, mas de uma forma lúdica, com muita magia, amores, amizade. Imperdível. Faço a Teresa, mãe da Mima, a protagonista. E é uma mãe de uma adolescente nada típica. Elas têm uma relação de parceria, de amor, mas ao mesmo tempo ela é super protetora com a filha. A entrada do streaming é fundamental para o aquecimento do nosso mercado. Abriu espaço pra muita gente e tem uma liberdade maior para contar histórias que a TV aberta ainda não se aventura. Quanto mais espaço melhor. Só espero que eles não caiam no mesmo erro da TV aberta de trabalharem sempre com os mesmos e o mercado se feche. Tem muita gente boa querendo trabalhar e se essa abertura continuar vai ser incrível. Toda concorrência é bem vinda. Move o mercado. E depois de uma pandemia, onde a arte foi fundamental para amenizar os momentos mais difíceis, quanto mais movimento melhor.

CS - Em 2024, você será vista em vários filmes e séries que já foram rodados. O que mais poderemos esperar de trabalhos com Renata Castro Barbosa?

Renata - Estou com a cabeça a mil. Cheia de ideias. Tem um monólogo para acontecer, algumas coisas na internet também. O festival deverá ser anual e aí já devemos começar a organizar com mais tempo para 2025… Enfim, quero trabalhar muito!

CS - Com 50 anos, como você se cuida? E como é lidar com a cobrança da mídia e do público pela eterna juventude?

Renata - Aos 50 resolvi me cuidar melhor, para envelhecer com saúde. Nunca fui uma pessoa vaidosa ao extremo, mas se disser que não me importava com a opinião dos outros estaria mentindo. Essas cobranças sempre existiram, elas só vão aumentando. Mais nova era se eu estava magra, ou gorda, se me vestia como a moda mandava… Aos 50, além dessas cobranças, vem a coisa de se estou muito velha, se fiz ou vou fazer plástica… É cruel. Claro que ser uma pessoa pública piora, mas toda mulher vive essa cobrança. O bom de amadurecer é que essas coisas já não me importam tanto. Estou preocupada com minha saúde. Hoje, faço ginástica todos os dias e me alimento melhor, mas porque quero poder brincar com meus netos lá na frente - bem na frente! (risos), quero me sentir ativa por mais tempo. Enfim, quero ter qualidade de vida, porque minha pele, meu cabelo, meu corpo não serão o mesmo de quando eu tinha 20 anos nem que eu faça todos os procedimentos do mundo e honestamente não tenho coragem de fazer esses procedimentos. Sou medrosa para isso e odiaria me olhar no espelho e não me reconhecer. Mas não vejo problema em quem faz. Temos que fazer o que nos deixar feliz. Se eu acho maravilhoso envelhecer fisicamente? Claro que não. Mas hoje me sinto mais produtiva, mais corajosa com a vida, mais feliz do que aos 20. O que mais me incomoda dessas cobranças é que a maioria delas vem de mulheres. Somos cruéis umas com as outras e isso não ajuda em nada a nós e ao empoderamento que tanto lutamos. Se estou envelhecendo é sinal de estou viva e isso é maravilhoso.

CS - Você é mãe de um jovem de 18 anos que estuda Cinema. Que dicas dá a ele e daria a qualquer outra pessoa que está sonhando em entrar para esse universo da arte e do audiovisual brasileiro?

Renata - Sempre disse e digo ao João e a quem quiser entrar neste meio, que é importante é ser um apaixonado pelo ser humano, que é nossa matéria prima. Observar, ouvir, estar atento ao outro. É daí que vamos tirar nossas ideias, nossa inspiração. O João desde pequeno vê que não são tudo flores. Que é ralado, conquistado, batalhado todos os dias e digo a ele e a quem escolher viver de arte que nem sempre vai ser fácil, que muitas vezes você vai querer desistir, mas se for isso realmente que você quer, não desista, insista. Quando você ouve o aplauso, as gargalhadas, quando emociona alguém com seu trabalho vale toda dificuldade! É mágico!

CS - Com 40 anos de carreira, do que se arrepende? E como se vê daqui outros 40?

Renata - Não sei se arrependimento é a palavra. Tudo que eu vivi e que acho que poderia fazer diferente, naquela idade era como eu sabia fazer. Sou grata até a quem não foi legal comigo. Afinal eu sou hoje o resultado de tudo que passei. As coisas boas e as ruins também. E sou bem satisfeita com quem me tornei. E daqui a 40 anos, espero ainda estar trabalhando, ativa e que falar sobre o espaço da mulher no humor seja coisa do passado!


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