Com maturidade vocal, saudação à brasilidade da música e a tradicional exaltação das facetas femininas, Vanessa da Mata apresentou na noite desta sexta-feira, dia 3, a turnê do álbum “Todas Elas” a mais de 2 mil pessoas no Auditório Araújo Vianna. O show, que começou intimista e seguiu com a sua animação e gingado singulares, trouxe, durante cerca de duas horas, as recentes composições e os sucessos já decorados pelo público.
Com uma coroa na cabeça, vestindo um reluzente manto dourado e prateado, a mato-grossense fez uma entrada triunfal no palco às 21h30, posicionada em uma espécie de altar, personificada como uma figura divina. Com voz suave, mas dominante, Da Mata iniciou com canções do novo álbum, começando por “Sobre as Coisas Mais Difíceis", iluminada sob um feixe de luz que mostrava só a sua sombra. O toque da percussão levou à segunda música, “Eu te apoio em sua fé”, seguida de “Ciranda”, ao som do saxofone.
"Todas Elas", recém-lançado nas plataformas digitais com 11 canções autorais, é o 11º álbum de Vanessa da Mata, disco que a própria cantora já afirmou ser um dos melhores da sua carreira, que já soma mais de 20 anos. O álbum que mescla diferentes gêneros conta com participações especiais de artistas como João Gomes, Robert Glasper e Jota.Pê. O trabalho vem após seu último projeto "Vem Doce", indicado ao Grammy Latino na categoria de "melhor álbum de música popular brasileira".
Ao soltar o manto, Da Mata deixou à mostra um vestido azul também reluzente, que girava junto em seus rodopios. O jogo de luzes foi um show à parte, que marcava a silhueta da cantora, mudavam conforme o batimento de um coração e transformavam o palco do Araújo em balada. Em meio ao canto, sambas, movimentos de dança afro e rebolados marcaram sua performance, potencializada pela banda e backing vocais da turnê, com direção de Jorge Farjalla.
Ainda do disco “Todas Elas”, foram cantadas “Demorou”, com participação de João Gomes; “Me Adora, Mas”, “Quem Mandou”, “Esperança” e “Troco Tudo”, canção com Jota.pê.
O repertório majoritário do mais recente trabalho também contou com clássicos esperados pelos fãs, principalmente os mais antigos. Canções como “História de uma Gata”, do disco Essa Boneca Tem Manual (2004); “Você Vai me Destruir”, “Amado” e “Boa Sorte”, do álbum Sim (2007); "Vê se Fica Bem”, de Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias", lançado em 2010; “Só Você e Eu”, do disco Quando Deixamos Nossos Beijos na Esquina (2019), entre outros, também passaram pelo setlist.
Se o público já não estava animado o suficiente, foi com “Boa Sorte”, canção com Ben Harper, que ninguém mais permanecia sentado, acompanhando em coro e o ritmo nas palmas, seguindo de pé por seguidas canções, como em “Não me Deixe Só”, do seu álbum de estreia (2002), “Banho de Chuva”, e “É Por Isso que eu Danço”, do novo álbum. Por mais que vários bancos estivessem vazios, a voz de Da Mata contagiava diversos presentes que dançavam e cantavam em pé nas laterais.
A cantora trouxe seu próprio estilo, ritmo e timbre a "Você Vai Ver", de Zezé Di Camargo & Luciano, além de “Nada Mais”, canção da eterna Gal Costa, de 1984, que levou o público ao delírio.
Outro momento mais marcante da apresentação foi quando Vanessa da Mata enjambrou sua voz de ópera. Como um sonho de criança e desafio admitido, cantou “O Mio Babbino Caro", considerada uma das principais obras de Giacomo Puccini. Enquanto cantava, um feixe de luz amarela cobria a cantora, e mal se via o seu rosto. Era como se ela quisesse que toda a atenção fosse voltada para a sua voz – o que era inevitável. A aprovação se deu logo após: com o público a aplaudindo de pé e a ovacionando.
Sabrina Moraes, 47 anos, veio de São Sebastião do Caí para ver a cantora pela primeira vez em um show só dela, mas já a acompanha há décadas, desde que ganhou um ingresso para uma apresentação no início da sua carreira. Ainda guarda todos os CDs. "Ela é uma compositora excepcional. Uma cantora fora de série", afirma. Michele Carvalho, de 48 anos, é fã da mato-grossense desde 2004, e levou ao show com sua filha Manuela Fattore, de 14. “Fui no primeiro show, e desde então, não parei de escutar”, conta a empresária. “Minhas filhas desde a barriga escutam, e hoje elas vêm comigo, têm até foto da Vanessa com elas no colo”, completa.
Depois de duas horas de show, o “bis” se deu com “Nada Mais”, encerrando a apresentação com sua energia íntima, múltipla e pulsante. Mais uma vez, Vanessa da Mata provou que suas canções que falam de ilusões, desilusões e as facetas femininas dentro de si ainda sustentam seu sucesso e sua ode à música brasileira.
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