Alga marinha é matéria-prima promissora para a próxima geração de tecidos na moda

Alga marinha é matéria-prima promissora para a próxima geração de tecidos na moda

Processo produtivo dos tecidos feitos a partir de algas é mais limpo, sustentável e não gera microplásticos

Correio do Povo

publicidade

A indústria têxtil é a segunda maior poluente do mundo, causando grandes impactos ambientais. Dados recentes mostram que seus processos são responsáveis por quase 10% do total das emissões de gás carbônico a nível mundial. Para se ter ideia, esse percentual é muito maior do que voos internacionais e transporte marítimo juntos, anualmente.

Outro dado impactante é que cerca de 35% dos microplásticos liberados no meio ambiente são provenientes dos têxteis sintéticos, como poliéster, poliamida, aramida, entre outros.

Pensando na redução desses efeitos, surge a tendência da moda sustentável. E a próxima geração de tecidos vem com base na ética e na consciência ecológica, gerando menos impacto ao meio ambiente durante toda sua cadeia de produção. Algumas empresas já investem em estudos e protótipos produzidos à base de proteínas, fungos, alimentos e, principalmente, algas marinhas.

É o caso de Thamires Pontes, mestre em Têxtil e Moda, estilista e CEO da startup de biotecnologia Phycolabs, que desenvolveu uma fibra 100% orgânica, feita a partir de algas marinhas.

O diretor de operações da startup, José Carlos Dutra Filho, afirma que a nova geração de tecidos biodegradáveis tem potencial para reduzir eficientemente os danos causados pela indústria têxtil, como acontece no Brasil, por exemplo, que descarta mais de 4 milhões de toneladas de resíduos. Além dos plásticos, que demoram centenas de anos para se degradar, também são descartados componentes químicos dos tecidos e tinturas.

“O processo produtivo dos tecidos feitos a partir de algas é mais limpo, sustentável e não gera microplásticos, sendo inúmeros os benefícios sociais, ambientais e econômicos”, diz Dutra.

Ele também destaca que os tecidos substituem produtos de origem fóssil, que utilizam recursos não renováveis cada vez mais escassos, permitindo a criação de uma nova cadeia de valor, “com o impulsionamento do cultivo de algas para as populações costeiras, onde normalmente existem atividades de pesca, que estão também sujeitas a sazonalidade”.

A fibra produzida com alga possui modelo de circularidade em todo o seu processo. Segundo Thamires, a matéria-prima tem alta capacidade de reprodução, não precisa de terras agricultáveis, desprezando o uso de pesticida e inseticida, é cultivada no oceano e precisa apenas de sol e CO2. Na fabricação e extração, é eliminado mais da metade do uso de energia, comparado aos diversos processos, como do algodão, por exemplo.

Por desenvolver e atuar na linha de frente junto a Phycolabs em todo o processo da fabricação das fibras, Thamires recebeu em junho deste ano o prêmio Global Change Award 2023, na Suécia, pelo projeto “PhycoFiber, desbloqueando a revolução das algas rumo a uma indústria da moda regenerativa”. O prêmio, que acontece anualmente e é promovido pela Fundação H&M, é conhecido como o “Nobel da Moda”.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895