Bebês reborn x vídeo-games: por que hobbies de mulheres são mais atacados?

Bebês reborn x vídeo-games: por que hobbies de mulheres são mais atacados?

Interesses tradicionalmente masculinos são mais aceitos na sociedade, alerta pesquisadora

Caroline Souza
Apesar da viralização de vídeos em que bebês reborn aparecem sendo cuidados como crianças de verdade, a maioria dos casos trata-se apenas de um passatempo

Apesar da viralização de vídeos em que bebês reborn aparecem sendo cuidados como crianças de verdade, a maioria dos casos trata-se apenas de um passatempo

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Com direito a nome, certidão de nascimento e até visita ao médico, os bebês reborn tomaram conta das redes sociais. As bonecas hiper-realistas, cuidadas por colecionadoras, artistas e entusiastas, despertaram curiosidade e dividiram opiniões.

Há quem considere um comportamento infantil ou inadequado, enquanto outros encaram a prática como uma forma de expressão artística, emocional e até terapêutica.

Por trás das reações, surge outro debate: a questão de gênero. Porque será que hobbies atrelados às mulheres geram tanta repercussão, enquanto interesses tradicionalmente masculinos, como jogar vídeo-game, são aceitos sem nenhum tipo de problema? O que isso diz sobre os papeis de gênero e a forma como diferentes comportamentos são socialmente interpretados?

Para a professora do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise: Clínica e Cultura e integrante do Núcleo de Estudos em Psicanálise e Infâncias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Milena da Rosa Silva, a polêmica abriu diversas camadas de discussão que se entrelaçam com a questão de gênero.

“A maior parte das mulheres que têm esses bebês parecem colecionadoras ou que tem como ‘um brincar’, e aí a gente se pergunta o porquê isso incomoda tanto. Eu não vejo tanta comoção com homens que gastem o mesmo montante de dinheiro com bonecos de heroi, ou coleções de carros reais. Eles não estão brincando de carrinho?” ressalta a psicóloga.

👉Maturidade forçada

Desde muito cedo, a maturidade é exigida das mulheres. Muitos até elogiam essa capacidade. Segundo Milena, apesar de ser entendido como um processo natural, na maioria dos casos é forçado socialmente, inclusive por meio da atribuição de responsabilidades, como o cuidado.

“Também tem a questão da desvalorização da maternidade, porque ao mesmo tempo que esse cuidado é cobrado da mulher, essa tarefa não é tão valorizada assim. Em muitos casos elas ouvem ‘tu só faz isso, só fica em casa’. Então talvez esse brincar também não seja bonito por isso.” destaca.

👉O cuidado até no brincar

Apesar da viralização de vídeos em que bebês reborn aparecem sendo cuidados como crianças de verdade, grande parte das “mães” das bonecas trata apenas como um passatempo.

Ainda que não haja problema em brincar, a professora chama a atenção para o fato de as mulheres novamente estarem associadas ao cuidado e ao maternar. Até mesmo nos momentos lúdicos.

Como diferenciar hobby e problema de saúde

Com a onda dos bebês reborn, muitas das críticas apontam para a prática como um sinal de problemas psicológicos. A professora explica que a brincadeira deve ser sinal de alerta se a prática ganhar grande dimensão na vida da pessoa. Como acreditar que a boneca tem sentimentos ou que precisa ir a uma consulta médica por que está com dor, por exemplo.

“Eu imagino que isso seja extremamente raro, mas as pessoas estão vendendo como se fosse a maioria dos casos”, afirma Milena.

Outro cuidado, alerta a psicóloga, é a necessidade imediata de relacionar situações do cotidiano com doenças.

“Parece que muito prontamente a gente diagnostica como algo ruim. Qualquer coisa que minimamente cause estranheza já é rotulado.”

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