Conheça a professora gaúcha que virou referência falando de ciência na internet

Conheça a professora gaúcha que virou referência falando de ciência na internet

Além de divulgar informações com linguagem acessível, a biomédica Mellanie Dutra quer que outras mulheres tenham referências na ciência

Brenda Fernández

Mellanie comunica para 105,5 mil seguidores no Twitter e 30,3 mil no Instagram

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Uma pesquisadora gaúcha tem se destacado na internet falando de ciência com uma linguagem acessível. Quando iniciou a pandemia, Mellanie F. Dutra deixou temporariamente o laboratório na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e foi para as redes sociais falar sobre Covid-19 e vacinas em um momento de descrédito na ciência e desinformação sobre saúde pública.

Traduzindo informações para uma linguagem mais próxima das pessoas, a biomédica, neurocientista e professora da Unisinos logo se tornou uma referência. Além disso, idealizou a Rede Análises – que antes se chamava Rede Análises Covid-19 –, um grupo multidisciplinar de cientistas comprometidos em coletar, analisar e divulgar informações respaldadas na ciência sobre a pandemia. Agora, passado o ápice da Covid-19, mas com a pandemia ainda em andamento, ela segue comunicando para 105,5 mil seguidores no Twitter e 30,3 mil usuários no Instagram.

"Eu achava que precisava de um grupo, de especialistas de diferentes áreas contribuindo. É um assunto que impacta populações mais vulneráveis, então precisava do pessoal das humanidades, dos epidemiologistas, dos físicos, dos matemáticos”, conta Mellanie sobre a formação do Rede Análises, que chegou a ter 100 pesquisadores de diferentes áreas analisando e discutindo os rumos que a pandemia estava tomando.

“Havia uma vontade de querer fazer algo a respeito dentro daquilo que era possível, e a nossa voz era a voz online, das redes.” O trabalho coletivo, conta, abriu portas para os integrantes migrarem de áreas, se projetando também para fora do ambiente virtual.

A voz que Mellanie tem hoje dentro e fora das redes é uma resposta às angústias que sentiu quando escolheu a ciência. “Meus pais falaram 'mas eu não conheço uma mulher bem sucedida que é só cientista'. Eu fiquei com muito medo, mas minha mãe dizia 'vai lá, tem que botar muito empenho. Nenhuma profissão é fácil'”.

Logo que entrou na graduação em Biomedicina, na Ufrgs, encontrou novas referências femininas que se juntariam àquelas que já possuía, de “desenhos animados de cientistas fazendo coisas mirabolantes”, como lembra com carinho. “Ao passo que eu não via mulheres cientistas no meu dia a dia, quando entrei na Ufrgs boa parte dos meus professores eram mulheres. Aí eu vi onde as minhas referências estavam escondidas.”

Encontrar a resposta para uma pergunta, no entanto, desencadeou outra: por que não estava vendo estas mulheres no jornal, no rádio, em ambientes fora da academia? “Depois de algum tempo amadurecendo, discutindo, entendendo toda essa questão do machismo que existe dentro da academia, percebi que não bastava só conseguir um lugar onde eu pudesse sobreviver nesse trabalho de cientista. Precisava ir além e tentar ajudar a desconstruir um pouco esse cenário.”

O espaço acolhedor fez com que a pesquisadora só saísse da universidade federal – mas ainda mantendo muitas colaborações e vínculos – 10 anos depois, já com o título de doutora.

Uma das grandes motivações hoje da Mellanie é que outras meninas possam ter referências na ciência, sem precisar dar um ‘passo no escuro’, sem a insegurança ou a sensação de estar desbravando um caminho desconhecido. É um trabalho coletivo, ela lembra: “se uma vence, todas nós vencemos”.

Essas meninas, futuras cientistas, devem encontrar um cenário ainda mais firme na ciência - diferente daquele do auge da pandemia. "Dá para ver que algumas pessoas que acompanharam, por exemplo, o desenvolvimento das vacinas, entenderam mais sobre o que é, a complexidade, a importância, e se surpreenderam. Entenderam, sobretudo, que muito desta resposta é o investimento em ciência. Elas passam a cobrar que os governantes invistam mais nesta e em outras áreas”, analisa a pesquisadora sobre a credibilidade na produção científica.

Para equiparar a presença de mulheres nos espaços dominados por homens, Mellanie acredita que tem que haver maior visibilidade para mulheres cientistas, principalmente às negras e indígenas, programas que deem oportunidades e qualificação, e um profundo ‘mergulho’ nas disparidades para pensar políticas e ações mais certeiras.

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