Conheça o processo criativo por trás do figurino de “A Pequena Sereia”

Conheça o processo criativo por trás do figurino de “A Pequena Sereia”

Para criar o visual dos personagens, a figurinista Colleen Atwood realizou um extenso processo de pesquisa sobre o mundo náutico e marinho

Correio do Povo

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O live-action de “A Pequena Sereia” já está em exibição nos cinemas! A produção dirigida por Rob Marshall segue a história de Ariel, a jovem sereia de espírito aventureiro que sonha em descobrir o mundo além do mar. Com uma trama que mergulha nas profundezas do oceano e pisa em terra firme, Marshall liderou a criação de um universo estético para o público que é fã do original e para aqueles que vão fazer parte deste mundo pela primeira vez.

Um elemento fundamental desse universo criado pelo cineasta e sua equipe são os looks dos personagens que dão vida à história. Para torná-los realidade, Marshall se uniu à figurinista Colleen Atwood. Juntos, eles honraram os aspectos icônicos dos personagens criados em 1989 e ampliaram os limites criativos para enriquecê-los ainda mais.

Pesquisando no fundo do mar

Para criar o visual dos personagens, Atwood realizou um extenso processo de pesquisa sobre o mundo náutico e marinho, buscando inspiração na observação da beleza do mar e toda a vida que nele existe, assim como das diversas luminosidades e cores do oceano. “Tudo isso foi muito inspirador para mim; o simples fato de observar as cores do interior de uma concha poderia me trazer inspiração para as roupas de todos os criados do castelo”, diz a figurinista.

A partir de então, Atwood dividiu o universo estético em dois grupos principais: o da superfície (mais tradicional) e o subaquático – no qual a metade inferior do corpo dos personagens seria criada digitalmente. Este último foi mais desafiador e estimulante para a figurinista, que se inspirou não apenas na vida oceânica, mas também na mitologia grega.

Dando vida à Ariel

Como criar um visual de live-action para um dos personagens animados mais icônicos da Disney? Segundo Atwood, é preciso honrar o legado e expandi-lo. “Queríamos homenagear o filme original no que diz respeito à paleta de cores básica, mas também nos distanciar desse mundo, indo em direção a um mais novo e moderno”, diz Atwood sobre o visual de Ariel quando sereia.

O estilista e maquiador Peter Swords King e a cabeleireira Camille Friend também colaboraram para criar o visual de Ariel. Como a personagem é interpretada pela atriz afro-americana Halle Bailey, a equipe garantiu que seu visual fosse etnicamente correto, especialmente em relação ao cabelo. Além disso, deveria funcionar tanto dentro quanto fora da água. Assim, com Friend como principal condutora do processo, eles trabalharam no cabelo de Bailey com tons variados de vermelho escuro, vermelho claro, loiro acobreado e, em seguida, colocaram cachos soltos.

Em terra firme, Ariel usa um vestido azul água-marinha. “Para mim, esta tonalidade realçou a beleza natural de Halle e a fez se destacar nos dois mundos em que se encontra. As texturas que usei no tecido, formadas por dobras e costuras em direções opostas, transmitem uma qualidade aquática semelhante ao movimento das algas marinhas”, descreve Atwood

Para o desfecho da história, a protagonista usa um vestido que combina os mundos da cidade, da corte real e do oceano. Criado com um tecido feito de fibras de folha de abacaxi nativo das Filipinas, o vestido apresenta um bordado de flores de coral e de pequenas anêmonas do mar junto com flores terrestres. A confecção levou quatro meses.

Filha do Rei Tritão (Javier Bardem), Ariel vive no fundo do mar com suas seis irmãs: Caspia (Nathalie Sorrell), Indira (Simone Ashley), Karina (Kajsa Mohammar), Mala (Karolina Conchet), Perla (Lorena Andrea) e Tamika (Sienna King). Para criar o visual de cada uma, Atwood baseou-se na mitologia grega de Tritão e no mundo subaquático, relacionando as sete irmãs aos sete mares. Inclusive, a figurinista se inspirou em peixes exóticos para criar as caudas e os cabelos das sereias.

“Não há inspiração mais bela do que os oceanos e os peixes que nele vivem. Então, tê-los como base e transformá-los em uma versão aquática de um vestido foi um desafio criativo fantástico”, diz a figurinista. O cabelo de cada irmã está relacionado com sua personalidade. Algumas usam tranças e rabos de cavalo, outras têm cabelos lisos e compridos até a cintura, e outras têm o cabelo caindo sobre os ombros.

Já para criar o visual do Príncipe Eric (Jonah Hauer-King), Atwood trabalhou com referências históricas do mundo dos marinheiros, usando camisas, coletes de linho, calças de linho e botas de couro. O maior desafio, no entanto, foi vestir os 50 marinheiros que acompanham o príncipe em seu navio. A equipe criou 250 peças de roupa para a tripulação. “Filmamos à noite no navio durante um mês, o que desgastou muito as roupas, pois havia muita ação, tempestades e fogo”, explica Atwood, acrescentando que as roupas foram pintadas à mão para não parecerem feitas em fábrica. Porém, ao mesmo tempo, elas precisavam parecer desgastadas e sujas, então a equipe de tingimento da figurinista também se concentrou nisso.

Por outro lado, durante a pesquisa, Atwood descobriu que a maioria dos marinheiros sabia costurar, pois passavam longos períodos no mar, assim, sua equipe bordou à mão grande parte dos figurinos dos marinheiros. “Muitos marinheiros eram muito habilidosos com agulha e linha, e seus bordados contavam histórias dos lugares por onde passaram”, conta.

Uma armadura e uma coroa dignas de um rei 

A criação do look do Rei Tritão se baseou em duas peças-chave: sua armadura e sua coroa. A armadura foi esculpida em argila e depois moldada com placas de abalone cortadas em finas camadas para refletir a água do oceano. “Esculpimos a armadura para que tivesse um aspecto de madeiras orgânicas e marinhas que pudessem ser banhadas a ouro. Acrescentamos lâminas inspiradas em caramujos para dar a aparência de algo que veio do fundo do oceano com elementos de algas marinhas e outras texturas seguidas por uma camada de revestimento de ouro”, descreve Atwood. 

Quanto à coroa, ela foi inspirada em algas marinhas e dentes de tubarão, com detalhes de pequenos caramujos e partes de abalone. No que diz respeito à maquiagem, Swords King se inspirou em clássicas esculturas gregas e no filme Sem Destino de 1969. “Sua barba é totalmente inspirada nas antigas estátuas gregas. Seu cabelo, por outro lado, é de influência hippie”, diz o artista.

O polvo e a noite como inspirações para Úrsula

Vestir a carismática atriz Melissa McCarthy para interpretar a icônica bruxa Úrsula foi um desafio especialmente tentador para Atwood, que se inspirou principalmente no polvo e nas roupas de gala para criar seu look. O vestido da vilã é feito de lantejoulas roxas cobertas com camurça cortada a laser, o que dá uma aparência de polvo, pois parece mudar de cor. Ele também tem pequenos tentáculos cintilantes ao redor do pescoço.

A figurinista imaginou Úrsula em trajes de noite durante o dia inteiro, realçando o glamour com um espartilho que acentua as curvas e a volúpia de McCarthy. “A versão de Melissa McCarthy dessa personagem é apaixonante e extremamente interessante. A sensação é de que ela pega a pele e as características do polvo e as expressa como um vestido de veludo preto; então, este é mais como um vestido de noite do que um traje de polvo”, diz Atwood.

Em relação ao cabelo, as referências ao visual da Úrsula da animação são claras, mas Swords King também usou uma referência singular: “A Úrsula é uma malvada bruxa do mar, mas também é um pouco cafona, então pensamos nela como uma representação da música lounge, daquelas artistas dos anos 50 e 60 que tocavam em hotéis, o tipo de pessoa que andava com uma piteira e um coquetel na mão”, diz, acrescentando: “Criamos uma peruca branca para Melissa, mas não totalmente branca. É branca com toques de lilás na raiz, o que combina perfeitamente com sua maquiagem e contorno facial em tons de lilás”.


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