Copenhagen Fashion Week: o novo padrão para moda sustentável e inovadora

Capital dinamarquesa abre a temporada global de moda com impacto para além das passarelas

A primeira edição da Semana de Moda de Copenhague de 2025 encerra amanhã, 31
A primeira edição da Semana de Moda de Copenhague de 2025 encerra amanhã, 31 Foto : James Cochrane / Copenhagen Fashion Week / Divulgação / CP

Iniciando o circuito das semanas de moda internacionais, a Copenhagen Fashion Week (CPHFW) se consolidou como um dos eventos mais inovadores e aguardados do calendário fashion. O motivo? Um compromisso inegociável com sustentabilidade, diversidade e pluralidade, princípios que não apenas moldam as coleções apresentadas, mas que também refletem no streetstyle do evento.

A moda que se vê nas ruas de Copenhague durante esses dias atrai olhares do mundo todo por sua autenticidade e também por representar um novo modelo de consumo e produção. Mais do que um evento de tendências, a CPHFW se tornou um marco de transformação para a indústria.

Diferentemente das capitais tradicionais, como Paris, Milão, Londres e Nova York, a Fashion Week de Copenhague já nasceu em 2006 com uma estrutura baseada em valores sustentáveis. Mas foi em 2020 que o evento deu um passo definitivo ao lançar um plano de ação com diretrizes essenciais para a participação das marcas, efetivamente implementadas em 2023.

Desde então, todas as coleções devem atender a 18 padrões que abrangem desde a diversidade e pluralidade na passarela até o cuidado com a cadeia de produção e vida útil das peças. “A gente fala de sustentabilidade na moda há muito tempo, mas foi a Copenhagen Fashion Week que, de fato, colocou tudo isso em prática”, afirma a pesquisadora em negócios de moda Symone Rech, fundadora da plataforma New & Now.

Entre as exigências, as marcas precisam demonstrar compromisso contínuo com práticas sustentáveis, evitando o greenwashing – uma estratégia de comunicação que maquia verdadeiros ideais e pretende passar a falsa imagem de que a empresa é respeitosa com o meio ambiente, quando, na verdade, não é. O termo é uma tradução de “lavagem verde”.

“A Copenhagen Fashion Week acompanha e cobra das marcas que [esse compromisso] aconteça o tempo todo”, reforça Rech. Além disso, não são permitidos o uso de peles, penas ou couros exóticos, e as embalagens plásticas de uso único foram completamente abolidas. A moda apresentada lá não é apenas uma vitrine estética, mas uma plataforma de impulsionamento para a real mudança na indústria.

No começo do mês de janeiro, o British Fashion Council (BFC), responsável pela Semana de Moda de Londres, anunciou que adotará a política dos requerimentos de sustentabilidade que Copenhague já segue, com estratégias e expectativas ajustadas de acordo com o tamanho das marcas. Essa decisão comprova a influência da capital dinamarquesa no cenário mundial, por confirmar Londres como a primeira das “quatro grandes” capitais fashion com real compromisso sustentável.

Inovação como protagonista

Seja visível na passarela ou presente na produção das peças, esse evento se destaca pelo pioneirismo em tecnologias e pelo incentivo à economia circular. A cada edição, são apresentados materiais regenerativos, técnicas de upcycling e modelagens disruptivas que influenciam a moda global. E o impacto se reflete também na estética e aparência das composições. A moda escandinava equilibra o minimalismo refinado com elementos modernos que trazem uma identidade visual forte, mas atemporal.

Essa semana de moda também promove novos talentos no mercado com o programa CPHFW NewTalent, que dá visibilidade a estilistas emergentes e reforça a diversidade na indústria. “Existem muitos projetos que ajudam jovens designers com visibilidade participando de uma semana de moda, mas e depois? E para continuar, para ir para o mercado, para vender, para faturar? Eu vejo que eles precisam melhorar nesse sentido e eu quero ver como isso vai sair do papel”, questiona.

Tendências para a próxima estação

Nesta edição, algumas tendências já começam a se desenhar para as próximas temporadas. O refinamento técnico das peças, a busca por tecidos de alta qualidade e a valorização de uma moda limpa e funcional são aspectos centrais. O streetstyle, por sua vez, reforça essa narrativa, com looks que transitam entre o discreto e o experimentalismo sofisticado.

Nas passarelas, a marca 66ª North apresentou jaquetas térmicas e impermeáveis feitas com fibras regenerativas, aplicáveis tanto para a moda outdoor quanto para o segmento esportivo urbano. Já a ⁠Alectra Rothschild foi destaque com a coleção “Give the Girl a Gun”, que aborda a violência contra pessoas trans, trazendo peças fortes, estruturadas e expressivas como forma de resistência.

As silhuetas dramáticas e referências aos anos 80 foram o objeto principal de marcas como Nicklas Skovgaard, que apostou no controverso: volumes expressivos, modelagens esculturais e, surpreendentemente, tecidos fluidos. “Parece que tem um desequilíbrio, que não combina, mas ele fez combinar.”

Já no estilo das ruas, Symone compartilha que percebeu a predominância de estampas vibrantes, cores intensas e primárias, como vermelho e amarelo. “Quando falamos de estampas, o padrão zebra é destaque.”

As semanas internacionais têm um “adiantamento” de seis meses devido às estações do ano. Logo, o que está sendo apresentado agora corresponde às apostas para o inverno brasileiro de 2026. Por isso, para os acessórios, a especialista nota o uso de “muitos chapéus, toucas e gorro”.

Pensando na tradução das tendências para o território tropical do Brasil, Symone indica os lenços, buckets e bonés feitos em materiais mais leves, como o linho e o algodão.

O Brasil na Copenhagen Fashion Week

Apesar de ter um espaço tímido no evento, o Brasil já começou a marcar presença na CPHFW, especialmente com o estilista gaúcho João Maraschin. Com sua estreia no evento no ano passado, Maraschin trouxe um olhar brasileiro para Copenhague e reforçou a relevância da moda nacional no cenário global, mas ainda há um longo caminho para consolidar a mudança no consumo brasileiro.

“Ainda temos que enfrentar os desafios no Brasil para depois ir para fora. São poucos os que conseguem se manter e fazer um nome como o João está fazendo. Vejo que é um movimento crescente, mas existem muitos desafios ainda. Se para as marcas que fazem um produto mais comercial já é desafiador, imagina para alguém que vai trabalhar a sustentabilidade”, reflete Symone.

Para a especialista, a conscientização é o melhor caminho para alcançar bons resultados com a indústria sustentável, algo que “lá fora já está muito consolidado”.

Confira os destaques da primeira edição de 2025 da Semana de Moda de Copenhague:

*Sob supervisão de Camila Souza