Quase 70% das mulheres já sofreram pressão estética no ambiente de trabalho, aponta pesquisa

Quase 70% das mulheres já sofreram pressão estética no ambiente de trabalho, aponta pesquisa

Entre os principais motivos apontados pelo estudo estão o peso, a falta de maquiagem e o tipo de cabelo

Camila Souza

Estudo mostrou que 45% das mulheres já modificaram a aparência para se adequar aos padrões de beleza no trabalho

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“Um chefe já me falou que eu deveria prender ou alisar meu cabelo porque ele é crespo. Dói muito ter que mexer no meu cabelo para aceitação dos outros. Hoje eu uso tranças para disfarçar o meu crespo.” Esse relato é de uma das mulheres entrevistadas pela pesquisa “Por trás da aparência”, feita pela The Body Shop em colaboração com o Instituto Plano de Menina, que investiga o impacto dos padrões estéticos no mercado de trabalho.

As consequências da pressão estética, cada vez mais impulsionada pela mídia, estão indo além das questões psicológicas e emocionais, impactando também a carreira das mulheres. Assim como a mulher que sofreu racismo e optou por usar tranças para disfarçar o cabelo crespo, a maioria das entrevistadas (69%) contou que já sentiu alguma pressão estética no ambiente profissional. Entre os principais motivos estão o peso, a falta de maquiagem, o tipo de cabelo, o estilo de se vestir, a cor da pele e a idade.

Indo muito além do desconforto com a aparência, esse problema levou as mulheres a duvidarem de seus potenciais. Para 56% delas, o desempenho no trabalho sofreu quedas significativas.

Outro dado revelado por esse levantamento é que 45% das mulheres já modificaram a aparência para se adequar aos padrões de beleza no ambiente profissional. Metade dessa pressão (50%) provém dos próprios colegas de trabalho, seguido por pressões internas, quando elas se comparam umas com as outras (31%).

Cerca de 40% acredita ter perdido oportunidades profissionais devido à aparência. “A pele tem que ser branca, a unha tem que sempre estar feita. Se é velha não serve mais, se é nova não tem experiência. Sempre vai existir um requisito que nós não estamos cumprindo”, desabafou uma entrevistada de 37 anos, de Santa Catarina.

A pressão estética prejudica ainda mais a saúde emocional quando somada à sobrecarga que as mulheres enfrentam no dia a dia, conciliando maternidade, tarefas domésticas e carreira. “Está na hora de normalizar que não são todas as mulheres que gostam de se maquiar. Eu acordo às 4h40 para pegar o trem e chego em casa às 20h. Eu não tenho disposição para me maquiar”, contou outra entrevistada.

O estudo também apontou que a maioria (65%) das mulheres não receberam suporte após a pressão estética sofrida no trabalho, o que mostra a urgência de se pensar não somente em estratégias de prevenção, mas também em formas de acolhimento para quem sofre essa pressão.

"Por meio dos dados obtidos através desta pesquisa, buscamos promover um debate sobre um tema de extrema importância, não apenas para as empresas, mas também para toda a sociedade”, afirma Paula Pimenta, General Manager Latam da The Body Shop.

Outro dado alarmante vindo deste estudo é que 60% das entrevistadas percebem uma falta de diversidade estética e racial nos cargos de liderança. Elas acreditam que pessoas que estão dentro do padrão estético imposto pela sociedade têm maiores chances de atingir cargos altos, pois a beleza conta como um fator de decisão. “Eu sou uma mulher preta e gorda, e nunca tive um chefe da minha cor”, disse uma das mulheres.

Viviane Duarte, presidente do Instituto Plano de Menina e CEO do Plano Feminino, ressalta a importância da união e do engajamento em iniciativas transformadoras. “Essa é uma transformação urgente para que o mercado acolha cada vez mais meninas e mulheres sem ferir quem são, adoecê-las e impactar o desempenho profissional, uma vez que muitas já enfrentam diversos outros desafios só para chegar nesses espaços.”

 


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