Dois Estados: entre a liberdade e a responsabilidade

Dois Estados: entre a liberdade e a responsabilidade

A guerra entre Israel e Hamas traz à tona visões dicotômicas sobre os valores da ética, da responsabilidade e da tolerância.

Daniela Russowsky Raad

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É debatido o valor da vida humana e as divergências sobre o peso dessas palavras. Cria-se uma guerra de narrativas em que o antissemitismo ganha espaço e falsas acusações e a deslegitimação de Israel contribuem para um aumento da intolerância. Enquanto Israel busca desmantelar a capacidade militar do grupo terrorista e libertar reféns, o Hamas reafirma o propósito de destruição do Estado de Israel e da sua população. A busca por dois Estados exige responsabilidade e uma liderança comprometida de ambos os lados, assumindo o encargo de construir um futuro de paz. Israel persegue, há anos, a paz ao lado de um Estado vizinho, palestino. A inexistência deste, dentre outras razões, decorre da ausência de uma liderança capaz de fortalecer e organizar uma nação em prol desse objetivo maior.

Se o povo palestino almeja a criação de um Estado, deve assumir a responsabilidade de criá-lo, de forma organizada e civilizada, e isso depende de boas lideranças. Um grupo terrorista jamais será uma boa liderança para este propósito, por ser incompatível com o seu ethos. O apoio das lideranças internacionais para empoderar e criar um espaço seguro para o desenvolvimento de novas vozes é fundamental, mas só irá gerar um verdadeiro impacto se o protagonismo for assumido pelos seus agentes centrais: os palestinos.

A solução de dois Estados exige a coexistência dos dois povos e suas lideranças comprometidas com esse objetivo. No cenário atual, é falho esperar a paz sem que haja uma mudança cultural na sociedade, com a compreensão de que o radicalismo não é uma alternativa plausível, mas condenável.

São necessárias vozes altas e ações firmes que ecoem entre gerações que sofreram de doutrinação fanática, submetendo o próprio povo às mais degradantes condições. Está na hora, enquanto seres pensantes, (se) dotados de valores, lidarmos com a realidade e compreendermos que, para um futuro de paz, teremos um caminho longo, mas que deverá ter no centro a valorização da vida, da ética, da responsabilidade e da tolerância. Sem esses valores, a paz e a liberdade serão uma eterna busca.


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