O resgate da memória de um legalista

O resgate da memória de um legalista

Landro Oviedo

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O movimento dos gaúchos em defesa da Constituição federal na década de 60 foi marcado pela resistência da população à armação contra João Belchior Marques Goulart para impedir sua posse após a renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961. Esse movimento antidemocrático encontrou em Leonel Brizola um contendor à altura. Foram dias de muita tensão, principalmente por conta da indecisão do general Machado Lopes, que comandava o III Exército, cujo comando ficava em Porto Alegre.

Nesse entremeio, durante a Campanha da Legalidade, houve uma determinação da cúpula militar para que os aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) bombardeassem o Palácio Piratini, em cujo entorno se davam as manifestações. Não é difícil prever a carnificina que isso ocasionaria. Foi então que o gesto de um oficial corajoso ficaria para sempre na história do Rio Grande do Sul e do país. Junto com seus comandados mais fiéis, o oficial Alfeu de Alcântara Monteiro impediu que a ordem ilegal e cruel fosse cumprida. Os ditos revolucionários de então jamais perdoariam seu ato de bravura. Tão logo adveio o novo regime de 64, a vingança viria com o assassinato do coronel Alfeu, morto pelas costas na guarnição de Canoas. Ele seria a primeira vítima do sistema recém-instalado. Levado ferido para o Hospital de Pronto Socorro, sua última frase foi ilustrativa de seu civismo e arraigada convicção democrática: “Morro no cumprimento do dever”. O dever a que se referia incluía o de defender a Constituição em vigor.

Para que seu exemplo não pereça nas brumas do esquecimento, num tempo em que ameaças de rompimento institucional rondam o cotidiano do país, haverá um ato de reconhecimento desse grande itaquiense, gaúcho e brasileiro. O evento ocorrerá neste dia 13 de abril de 2024, sábado, às 14h, na Biblioteca Pública do Estado em Porto Alegre (Riachuelo, 1190). Estão confirmadas as presenças de Jair Krischke e de alguns familiares. A atividade está sendo capitaneada por alguns itaquienses e por outras pessoas que se associaram para tal fim neste ano emblemático que assinala os 60 anos do seu assassinato. Recentemente, um processo que tramitou na Justiça Federal, promovido pela Procuradoria da República, obteve uma sentença recolocando a verdade dos fatos relativos ao episódio de sua morte, inclusive reabilitando-o, ainda que de forma parcial, perante a memória nacional. Resgatar sua história e a veracidade do ocorrido é um pequeno começo para que o Brasil, que tanto tem injustiçado seus nacionais, a exemplo de Frei Caneca e João Cândido, possa olhar para o passado com um sentimento de serenidade e de mínima reparação.


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