Colecionadores: um risco à saúde dos animais

Colecionadores: um risco à saúde dos animais

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A maior dor dos protetores de animais é o sentimento de impotência. Diariamente se deparam com cães e gatos nas ruas sem poder ajudá-los ou ter para onde levá-los. Nunca se falou tanto sobre o tema “animais”. Eles são assunto nas redes sociais, nos meios de comunicação e no dia a dia dos cidadãos. Por outro lado, quanto mais falamos sobre isso, mais nos deparamos com uma realidade devastadora.
Quando uma dezena de animais vive num ambiente limpo com água fresca e comida, é castrado e doado, estamos falando de um verdadeiro protetor de animais. Mas quando passa fome, sede e dorme nos próprios dejetos, trata-se de uma doença psiquiátrica bem séria, e o responsável, por não dispor de meios de oferecer abrigagem em boas condições, é conhecido como “colecionador de animais”.
O colecionador é aquele que, na tentativa de amparar animais abandonados, abriga mais do que as condições permitem e eles acabam doentes e muitos vêm a óbito. A pessoa acaba prejudicando a si mesmo e não percebe a situação-problema em que vive. Ela também evita esterilizar os animais e sempre arruma desculpas para mantê-los quando surge um doador em potencial. A doença já é reconhecida internacionalmente e é frequentemente associada a Transtornos Obsessivo-Compulsivos (TOC), depressão e ansiedade social.
De acordo com o médico psiquiatra e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Aristides Volpato Cordioli, o transtorno do colecionamento de animais é um estágio avançado do TOC, uma enfermidade crônica do cérebro onde a pessoa se encontra ligada a atos que não provêm de sua razão ou emoção e que sua vontade não pode interromper. “O portador desta patologia tem uma grande dificuldade de tomar decisões racionais e de cuidar de si próprio, até mesmo em relação ao básico. Também não consegue lidar com situações que não possam controlar. E uma pessoa que não se considera doente, não procura ajuda e é de difícil tratamento”, explica Cordioli.
Em quatro décadas dedicadas à ciência, Aristides Cordioli lidou com diversos casos ligados ao colecionismo de animais. Segundo ele, cada caso é único e deve ter abordagem diferente. O doente é identificado quando apresenta um vínculo excessivo com seus animais, mas não consegue dizer "não" a colocar mais um animal em casa, por mais que esteja superlotada ou que o cão ou gato esteja muito doente. “Ele acha que o bicho estará bem com ele, melhor do que em qualquer outro lugar e nega que seus animais estejam em condições precárias de saúde”, revela o psiquiatra.
Apesar de estudos indicarem difícil tratamento, Cordioli conseguiu obter avanços significativos com alguns de seus pacientes. Ele tratou de uma senhora muito humilde que chegou a abrigar 30 animais, entre cães e gatos. “Era uma pessoa que tinha um sentimento de culpa por qualquer animal que via na rua e o recolhia. Com a aceitação do tratamento, passou a entender a necessidade de parar com o acúmulo de animais, resgatou a importância dos cuidados com a higiene e deu a maioria deles para adoção”, conta o médico.
Normalmente, os colecionadores de animais demoram anos até serem descobertos, e, quando isso ocorre, muitos dos animais não podem ser salvos. Estudos mostram que a maioria deles morre em decorrência das condições em que estavam sendo criados. Por isso, torna-se necessário a colaboração de amigos e familiares desses doentes. Quando a situação foge do controle, causando sofrimento e comprometendo a saúde física e psicológica de pessoas próximas, a busca de ajuda profissional é a melhor forma de salvar os doentes e os animais em situação de risco.

Como ajudar um colecionador de animais

Informações que podem servir como apoio para uma ação de ajuda a acumuladores:

* Antes de tudo é preciso ter certeza de que se trata realmente de um colecionador compulsivo. Nem sempre um número alto de animais é sinal deste comportamento, mas cães e gatos apáticos, magros e com forte cheiro de urina e fezes são alguns dos principais sinalizadores de que algo está errado. Os vizinhos podem ser uma boa fonte de informação;
* O mais recomendável é formar uma equipe de ação em que alguns dos integrantes sejam próximos ao indivíduo. Um dos maiores desafios para amparar uma pessoa nessa situação é fazer com que ela mesma aceite auxílio. O primeiro contato deve ser sempre um oferecimento de ajuda. * Importante lembrar de estar sempre simpático para com a vítima do transtorno ou ela pode deixar de colaborar. Enquanto, do seu ponto de vista, a pessoa está causando sofrimento aos animais, a visão dela é de que está salvando vidas;
* Para dar os cuidados necessários aos animais, como passeios, melhoras no ambiente e tratamento veterinário, é importante ganhar a confiança do indivíduo e dar garantias de que eles não terão nenhum tipo de sofrimento. * Num segundo momento, com bastante conversa e uma relação mais próxima, pode-se começar a tocar na ideia de doar alguns animais. É preciso convencê-los a não pegar mais animais. Saber dizer “não” é essencial neste momento de recuperação;
* Buscar organizar nas comunidades grupos de discussão sobre os chamados colecionadores de animais. A partir daí, fazer campanhas de conscientização e cobrar do poder público políticas de fiscalização e tratamento para colecionadores de animais que não têm condições de custear o atendimento psiquiátrico particular.

(Fonte: SEDA)

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