Depois da chuva
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Ah, depois que a chuva passar, vou enxergar o horizonte todo e recordar das lindas manhãs de outubro, da claridade anilada do meu pago e sonharei com novas manhãs. Daqui não consigo mais ver aqueles sábados encantados, as luzes e as alegrias daquele tempo, quando pensava que tudo seria daquele jeito para sempre. Tinha meu cavalo Tostado, tinha meu cachorro Cacique, tinha o pequeno campo que para mim era uma imensidão, tinha as sangas, os caponetes, a passarada, as vacas de leite, minhas bolitas, meus livros de poesia, minha bola de couro costurada com tentos e ainda havia os olhos azuis da Belinha paras eu neles me perder e me apaixonar. Caramba, agora com as vistas encharcadas, vejo o pai sentado em sua cadeira, mateando, fazendo planos que nunca se realizavam, feliz em seu atavismo bárbaro e campeiro. Sinto um cerro na garganta quando enxergo a mãe quieta, em seu mutismo de mulher pampeana, desolada, olhando o filho partir para sempre, enxugando o choro em seu velho e encardido avental de pano.
Depois da chuva, quando as ruas secarem e o sol primaveril der as caras novamente por essas bandas, vou cevar um mate novo e arrastar este corpo cansado para a margem do grande rio. E de lá vou criar asas imaginárias e voarei por sobre tantas matarias, por tantos banhadais, vou cruzar montanhas e canhadas e como as aves de arribação vou pousar na querida terra colorada da minha Vila Rica. Com a manga da camisa foi secar as lágrimas e então serei de novo aquele guri que nunca deveria ter deixado de ser. Eu juro. Depois que a chuva passar...