Perdidos
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Alguns segundos depois não vi mais o cão e fiquei pensando nos outros cães que vagam sem rumo por todas as cidades. Vira-latas, mestiços e até cachorros de raça que antes eram tratados, tinham o pelo lavado e se alimentavam de rações caras. Sei que existem muitas entidades e até instituições oficiais que cuidam de muitos deles, mas ainda é pouco, claro, porque animais se perdem toda hora, não só cães, mas gatos, cavalos e outros bichos de estimação. Além de se perderem, muitos são despejados de casa, mandados embora, enxotados. Não dá para acreditar que um dono faça isso, mas a maldade humana não tem limites. Contaram-me que muitos turistas ao chegar nos seus destinos ficam sabendo que não podem ficar com seus animais em hotéis ou pousadas. Então se livram deles jogando-os na rua, assim, sem dó nem piedade. Como essas pessoas conseguem dormir depois?
Vendo esses párias perambulando, sem ter o que comer, com sede e sem lar, me dei conta de que a cidade está cheia de perdidos. Muitos de nós também andam assim, como os cuscos abandonados, sem saber para onde ir, desatinados, moribundos. É gente que chegou do interior com um sonho emalado, mas que aos poucos vai percebendo que tudo era apenas um sonho mesmo. Depois, nem pode mais voltar. Falo porque sei como é, já senti na carne a dor da solidão, já me senti assim, perdido como um cachorro sarnento e sei como isso é triste. Felizmente encontrei meu rumo, hoje tenho um rancho para dormir, uma família para me amparar. Ah, meus amigos, estar perdido na vida é a pior coisa do mundo.
Esta manha, ao acordar, lembrando da dor daquele cusquinho, fiz uma prece a todos os perdidos, os desamparados, os miseráveis, sejam eles bichos ou gente. E rogo a vocês que ajudem, não atropelem, não maltratem e. se possível, ajudem. A maior felicidade, para quem está perdido, é encontrar uma mão estendida.