Um presente de Natal

Um presente de Natal

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Uma faquinha com bainha de metal foi meu primeiro presente de Natal. O pai me deu num dezembro escaldante quando assávamos uma costela de ovelha debaixo dos cinamomos, na minha antiga Vila Rica. Depois, uma bola de futebol, de plástico, que um tio ferroviário levou, também no final de ano. O primeiro Kichute, a primeira calça boca de sino, tudo foi por esta  época natalina.  Uma bicicleta aro 26 e até um petiço gateado. Tenho um apreço especial por esses dias, pois me remetem a um passado alegre, cheio de presentes infantis, tanto de Natal como de aniversário. Como as duas datas são muito próximas, ganhava sempre apenas um presente, mas nunca me queixei disso, ao contrário, sempre  lembrava que pelo menos um presente estava garantido.

Este ano, no último dia 11, ganhei o maior presente de Natal que um jornalista e cronista campeiro poderia esperar.  Veio me visitar, acompanhada do pai, Tairo Grandi, a minha mais jovem leitora, a Beatriz Grandi, que agora tem 10 anos, mas lê as "Campereadas" desde os 5. Na verdade, a Bia não lia, ela corria todos os domingos até a caixa de correspondência de sua casa, em Guaporé,  pegava o Correio do Povo e levava para o pai ler as histórias que tanto gosta. Isso eu já sabia, o Tairo havia me mandado um e-mail contando. Mas agora a Bia e o pai vieram pessoalmente conhecer o centenário prédio do jornal, me trouxeram presentes e a Bia escreveu à mão uma linda e emocionante cartinha, onde lembra os personagens e me pede para que escreva um livro infantil. Tiramos fotos na redação, a Bia deu entrevista e conheceu alguns colegas meus. Ela é uma graça de criança, feliz, muito educada, gosta de ler e escrever e já faz planos para o futuro.

A visita da Bia é dessas coisas que a gente guarda com todo carinho no escaninho mais secreto do coração. Ela representa os vários leitores jovens que tenho e comprova quer o regionalismo não é um gênero apenas para velhos. Tenho orgulho de ter leitores de todas as classes sociais, de todas as profissões, do campo e da cidade, de vários estados do país e, principalmente, de todas as idades. Na saída, a Bia ainda me fez uma pergunta:  se um dos cachorrinhos das histórias ainda estava vivo. "Sim, claro", respondi, "bem velhinho mas ainda vivo".  Sem dúvida, as pessoas e os animais que viram histórias não morrem nunca porque, como a amizade, a beleza, o prazer da leitura, como a arte, serão eternos.

Obrigado Bia, obrigado a você, obrigado ao amigos do Correio do Povo e a todos os leitores. De agora em diante, sempre que sentar na frente do computador,  vou pensar em ti e contarei muitas histórias de bichos e de gente. Ah, e  livro infantil já estou escrevendo. Porque quando leres, teus olhos estarão brilhando e eu apaziguado com este destino de escritor.

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