O fim da ingenuidade

O fim da ingenuidade

Jovens devem evitar aventuras perigosas como as do aventureiro e seu cão

Renato Rossi

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Não tardou muito para que a chuva de ofensas com raios e palavrões caísse sobre o jornalista depois da postagem crítica em relação à viagem do aventureiro do Fusca e seu cão, que tiveram uma morte trágica nos Estados Unidos. Nada surpreendente numa mídia que se tornou antissocial e bipolarizada, onde a missão de aproximar seres humanos pela conscientização não é mais possível. É muito fácil viralizar numa mídia digital que vende a imagem e não vende o contexto. Mas ficou óbvio que narrativas pessoais, por mais irrealistas que sejam, viram realidade ou “histórias de vida”. 

Mas, sem dúvida, este aventureiro, como tantos outros que desafiam o desconhecido sem um planejamento consistente, era fruto da subcultura de trânsito no Brasil. Onde carro velho vira mito. Aí estão nos rachas de rua em todo o Brasil os velhíssimos Chevettes e Fuscas que chegam aos 250 por hora. Mas entre o Fusca 1978 e os carros de 2022 há o gasto de bilhões de dólares em desenvolvimento de sistemas de segurança que salvam vidas como ABS, controle eletrônico de estabilidade, estruturas com áreas de deformação programada, bancos ergonômicos com apoios de cabeça, que evitam o efeito “chicote” nas colisões, sistemas de direção com auxílio elétrico e suspensões que garantem manobrabilidade precisa. 

Os vídeos nas mesmas mídias sociais que seguiam o viajante mostraram o ferro retorcido, com corpos destroçados dentro. Então, passaram à condição de heróis. Com certeza, os pais, a família, os amigos não pensam assim. Restou como sempre a imensa dor da perda. Também o alerta para que jovens evitem as aventuras perigosas, improvisadas. Acabou a era da ingenuidade. Ficou lá nos anos 70.

 


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