Toyota Corolla quer manter o reinado, surge o BYD King

Toyota Corolla quer manter o reinado, surge o BYD King

Comparativo mostra os pontos fortes dos sedãs que ainda lutam contra hegemonia dos SUVs

Renato Rossi

Duelo de luxo no segmento

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Embora o consumidor brasileiro prefira os SUVs, que constituem 80% do mercado, convém lembrar que há ótimos sedãs com conforto de marcha e capacidade de porta-malas que seduzem consumidores, oferecendo conforto, praticidade e status, é lógico. O consagrado Corolla e o novato King da BYD são opções pra lá de razoáveis num mercado coalhado de SUVs, nem todos com a mesma efetividade. Os SUVs entraram na moda faz tempo e ainda não saíram. Para tirar as dúvidas, CM testou dois sedãs competitivos: o campeão mundial em vendas, o Corolla, na versão híbrida, e o chinês ambicioso que quer ser o "Rei" do mundo, o belo e insinuante King. Afinal, qual é o melhor?

O Corolla tem uma longa trajetória no CP, na editoria de Carros e Motos, que iniciou suas atividades automotivas em 1985. O Corolla foi lançado no Japão em 1986 e no Brasil no final de 1998, já com produção local. Tantos testes foram realizados por uma Toyota que valorizava a imprensa automotiva e convidava para eventos globais. CP foi a convite para um simpósio de montadoras japonesas em Tóquio, naquele festival de confraternização e amizade entre os principais dirigentes da Mitsubishi, Honda, Mazda, Toyota, Suzuki e Nissan. Era o final dos anos 90 e os japoneses "reinavam". Hoje, os chineses e seu King aspiram ao reinado. Em parte, já conseguem, na medida em que a chinesa BYD é a líder global em eletrificação.

Num dia, o Corolla Altis, ano 2024, cedido pela Savarauto Multimarcas na versão Altis, esteve com CM. Ao rodar os primeiros quilômetros, os "bons tempos voltaram". Ali estava o ótimo sedã que já teve mais de 55 milhões de unidades comercializadas no mundo. Desta vez, foi testado o Corolla Altis na versão híbrida, que incorpora um motor 1.8 aspirado Flex com 101 hp e torque de 14,5 kgfm. Há mais dois motores elétricos que proporcionam mais 72 hp e torque de 16,6 kgfm. A potência combinada dos três motores é de 122 hp. Não é pouco, considerando o torque da combustão ampliado pela força elétrica. O Corolla Altis é muito ágil no trânsito urbano e não decepciona em rodovias. O Altis faz de 0 a 100 km/h em 13,5 segundos, o que mostra que a engenharia da Toyota "amansou" a performance em favor da redução do consumo. O Altis híbrido faz uma média de 19 quilômetros por litro na cidade e 16 quilômetros por litro em rodovias. Um pé direito leve pode ampliar esses números em até 30%.

Corolla é mais sóbrio | Foto: Renato Rossi / Especial CP

Os motores elétricos no sistema "mild hybrid" ou "híbrido leve" funcionam sozinhos em baixas velocidades ou podem trabalhar em conjunto com o motor 1.8 a combustão. No uso rodoviário, em velocidade mais elevada, com necessidade de maior torque nas ultrapassagens, o torque elétrico é subsidiário ao torque a combustão. Os sistemas informatizados do Corolla definem se os motores elétricos ou a combustão serão mais ou menos utilizados, e o motorista não participa dessa transição.

Com suas 55 milhões de unidades comercializadas, nem precisa elogiar em excesso o Corolla, já que o mundo o consagrou. Convém lembrar que o poder de sedução do Corolla vem de seu conjunto mecânico, que mostra uma notável performance. O Corolla integra um alto nível de rigidez torsional, e sua plataforma historicamente é um acerto. Em retas e curvas, o sedã se comporta como um mestre japonês que ensina a seus discípulos os movimentos corretos e acrobáticos das "artes marciais" que os japoneses dominam há séculos. Desde 1966, o Corolla subjuga o motorista com sua grande arte de carro superior. O Corolla é o "familiar" no conforto de marcha, mas, ao mesmo tempo, é o "esportivo" grudado ao solo, que faz curvas de qualquer raio em velocidade elevada. Há um alto nível de estabilidade direcional e lateral. Complementa o prazer de condução o volante com "peso" exato, que permite esterços precisos, e o motorista tem sempre o pleno domínio do sedã. Outro ponto rememorado no teste refere-se à capacidade das suspensões que inserem "multibraços" na traseira para absorver as irregularidades do terreno, o que preserva a suavidade de marcha. O acabamento interno segue a "lendária" sobriedade dos japoneses. O Corolla é fruto da filosofia do "mais por menos". Sua contenção na forma, que é atemporal, pode se transformar em forte esportividade, garantida pela superioridade do conjunto mecânico. A dualidade no comportamento dinâmico demonstra que os japoneses não estão vencidos nem convencidos de que a tecnologia chinesa irá vencê-los. Será?

BYD King: rival à altura

Na saída do estacionamento interno da "renascida" revenda BYD Iesa, o Byd King olhou para os lados para ver se o inimigo estava por perto. Afinal, não seria agradável ver um Corolla por perto num momento em que o King se preparava para mostrar ao CM do CP que pode ser o substituto do Corolla na preferência global. As vendas ascendentes do King na Europa, mercado fundamental para a aceitação mundial da BYD, o definem como uma ameaça real ao "Rei" Corolla. Em um dia de avaliação, o King mostrou a notável evolução tecnológica dos chineses, que se estende praticamente a todos os segmentos em que atuam. Já nos primeiros quilômetros rodados, o King surpreendia o piloto de testes com sua rigidez torsional, que denotava uma plataforma bem desenvolvida e precisa dirigibilidade. Afirmava qualidade que ia muito além da beleza e originalidade do design "fastback", com traseira de "caída rápida" e esportividade. É lógico que o hibridismo da forma do King visa também aos SUVs de porte médio.

O objetivo é convencer o consumidor de que ele pode ter um carro seguro, veloz e com manobrabilidade superior, sem ser SUV. Mas, no mundo, o King mira no Corolla, até porque chineses detestam japoneses. A BYD comemora e envia para a imprensa dados de que o King deixou o Corolla para trás no forte mercado de São Paulo no mês de julho, já atrapalhando a vida do Corolla no mercado europeu. A competitividade do King inicia pelo design, que integra uma frente poderosa que impacta à primeira vista. Para o consumidor brasileiro, a frente deve chegar primeiro; é o "cartão de visitas". E a frente do King integra cinco filetes cromados horizontais que não chegam às laterais porque "param" e encontram mais quatro filetes que partem das laterais, "entremeados" por pequenos retângulos direcionados à área central.

Visual do King chama atenção | Foto: Renato Rossi / Especial CP

O impacto dessas formas gera tremendo dinamismo e seduz os sentidos. O capô elevado e os faróis estreitos e curvilíneos acentuam uma esportividade que será amenizada pelas laterais formais. Na síntese, não há contrastes que possam perturbar o olhar conquistado pela dianteira. Na realidade, prevalece a esperteza e sabedoria chinesa e o desejo de que o King conquiste um amplo público conservador que compra sedãs pelo mundo. A concessão à esportividade é a traseira "fastback" de caída rápida, que dá um tom esportivo ao King. E, bingo, acerta no "posudo" Fiat Fastback.

Por ter um conjunto mecânico super eficiente, o King mostrou uma performance muito rápida nas retomadas enérgicas de velocidade, típicas de carro elétrico. O King mostrou uma excepcional estabilidade direcional baseada na suspensão tradicional MacPherson na dianteira e multibraços na traseira. Em curvas, a opção pelo "conforto de marcha" acima de tudo gera oscilação lateral ou "rolling", que não prejudica a estabilidade, mas que exige um pouco mais de "cautela" do motorista. Aliás, o motorista comum deve praticar curvas cuidadosas que excluam a alta velocidade de risco. O sistema híbrido do King nada tem a ver com o sistema híbrido do Corolla, que é um "Mild Hybrid" ou "híbrido suave". A função do pequeno motor elétrico é auxiliar o motor a combustão. No King, há predominância do motor elétrico, com o equivalente a 197 hp e torque fortíssimo de 331,1 kgfm. Este motor pode ser utilizado na maior parte do tempo, já que a autonomia elétrica chega aos 120 quilômetros. Na ida e volta ao litoral, numa rodagem de mais de 250 quilômetros, o modo elétrico teve função preponderante. Na ida, o King era sentido como um carro elétrico, com forte torque sempre presente e tremenda agilidade de condução. Mas a velocidade máxima no modo elétrico fica muito aquém da velocidade máxima do Corolla, que bate nos 200 km/h. Na volta, no uso do motor a combustão, a velocidade podia ser ampliada. Não foi, obviamente, pela limitação legal e bom senso. Notável a ergonomia dos bancos, incluindo os bancos traseiros. Ao volante, o motorista tem ampla visão à frente, reduzida na traseira pelo formato "caída rápida". A câmera de monitoramento 360 graus amplia a visão traseira. O volante, como em todo veículo chinês, tem ester


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