“A Mula” coloca na tela a busca pelo tempo perdido

“A Mula” coloca na tela a busca pelo tempo perdido

Em “A Mula”, Clint Eastwood mostra sua capacidade de dirigir talentos, orientar dramaticidade, equilibrar densidades e envolver o espectador, com a simplicidade de quem tem algo a dizer

Drama, com suspense e pitadas de humor marca novo trabalho do ator e diretor Clint Eastwood em 'A Mula'

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O roteiro de Nick Schenk (o mesmo de “Gran Torino”) constituiu as quase duas horas, que passam rapidamente, de “A Mula”, dirigido pelo veterano Clint Eastwood, com seus 88 anos. A trama do filme nasceu de reportagem do New York Times sobre o Cartel de Sinaloa, que, nos anos 1990, recrutou um “mula” quase nonagenário para transportar suas “mercadorias”.

Do recrutamento até as viagens para transportar o material, o roteiro flui de maneira leve e suave. A densidade dramática vai aumentando com a mão certeira do diretor, que encarna também o protagonista, Leo Sharp. Trata-se de um produtor rural apaixonado por lírios, que emprega latinos, e segue o ritual  de veterano da Segunda Guerra Mundial de 90 anos, encontrando os colegas de flores e os de armas. Sharp enfrenta problemas no negócio das flores com a chegada da internet, detalhe que coloca o tema no centro da contemporaneidade tecnologica, mostrando, sem mostrar demoradamente, a resistência da personagem em atualizar-se na área. O resultado é mais tensão familiar, com laços que já foram rompidos e que se mostram marcados nos diálogos e encontros que vão costurando a trama. De forma quase natural, e sem perceber a imensão das transformações que estão surgindo, Sharp vai se dar conta, com a velocidade de seus reflexos, aparentemente vinculados à sua idade avançada, de que está transportando cocaína equivalente a milhões de dólares para o cartel de drogas mexicano.

E aí entra uma onda de bons momentos na vida do velho produtor de flores, que estava perdendo a família por um excesso de dedicação ao trabalho. A curva dramática leva a trama para um envolvimento intenso com as possibilidades da nova vida da personagem de Clint Eastwood, enquanto o espectador fica imaginando se a atividade ilegal vai ou não levar o velinho simpático para a cadeia.

Com Clint Eastwood compõem o elenco nomes estelares como Bradley Cooper e Michel Peña como agentes da Narcóticos, que perseguem os traficantes; Dianne Wiest no papel da ex mulher do protagonista; Andy Garcia, como o chefão do narcotráfico de Sinaloa; Laurence Fishburne, chefe dos investigadores da polícia, e a filha do diretor, Alison Eastwood, que vive na trama o mesmo papel da vida real, com a diferença de estar 15 anos sem falar com o pai sempre ausente. E além de todos estes elementos envolventes, "A Mula" tem, ainda  trilha sonora de Arturo Sandoval, inundando de ritmo uma trama inteligente, contemporânea, sensível e profunda... sem ser pesada.


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