Advogado persistente

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“O Preço da Verdade”, com Mark Ruffalo, é daqueles filmes em que o conteúdo sobrepassa as possibilidades estéticas e narrativas, para que não interfiram.

Marcos Santuario

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A inspiração do filme “O Preço da Verdade”, dirigido por Todd Haynes, veio de uma história verdadeira. A trama do roteiro foi idealizada a partir do artigo publicado em 2016 no jornal The New York Times: “O advogado que se tornou o maior pesadelo da Dupont”. Para a dramatização, Haynes conta com Mark Ruffalo para viver o advogado corporativo Rob Bilott, que defende empresas químicas para sobreviver. E a escolha de Ruffalo não é a toa. Ele é pessoalmente envolvido com ativismo ambiental e, particularmente, com o caso DuPont, empresa que está no centro do drama, na vida real e no roteiro filmado.

No decorrer da trama, a transformação do personagem de Ruffalo de ser um aliado aos empresários do ramo químico,a tornar-se defensor do meio ambiente, se dá de forma crível. Sua esposa, vivida pela atriz Anne Hathaway é o suporte para suas escolhas e para os desafios que enfrenta, do início ao fim da trama. O elemento que desencadeia o início da transformação é a visita de fazendeiros da Virgínia Ocidental que acreditam que a fábrica local da DuPont oferece risco à comunidade por meio da contaminação da água. A indicação foi da vó do próprio Rob Bilott.

A partir desse encontro, Rob começa um lento envolvimento com a causa, agora sob a visão dos fazendeiros. Reúne provas contundentes e inicia um processo ambiental contra a Dupont colocando em xeque sua carreira profissional. Esta ação expõe uma longa história de poluição intencional, com aspectos que provocam reflexos até os dias de hoje. Ou seja, realismo com intensidade nas telas, com o roteiro de Matthew Carnahan e Mario Correa.

Ainda estão no elenco Tim Robbins (como chefe do escritório em que Bilott trabalha), Bill Camp (o fazendeiro que inicia a demanda contra a Dupont) e Bill Pullman (outro advogado que se alia à causa defendida por Bilott). Com fortes elementos para tornar-se um documentário sem muita repercussão, a trama levou o próprio Ruffalo a produzir, a partir dos fatos revelados no artigo do jornal, uma ficção, capaz de ganhar um público maior e ainda ter a liberdade para tocar os espectadores de uma forma mais indireta. E funciona, pois se torna envolvente à medida em que os fatos se revelam. “O Preço da Verdade” é daqueles filmes em que o conteúdo sobrepassa as possibilidades estéticas e narrativas, para que não interfiram. 

As questões envolvendo técnica cinematográfica e até as atuações parecem estar no lugar a elas designadas, sem sobrepor-se ao cerne da discussão que o roteiro propõe. Se torna clara a mensagem de persistência e de acreditar em uma vitória, ainda que a luta seja entre rivais com forças aparentemente descompensadas. Tal qual embate ao estilo Davi e Golias, não há idealização na luta de Rob Bilott (Mark Ruffalo), mas fica a ideia de que é preciso persistir e remar contra a maré. As imagens, capturadas por Edward Lachman, fotógrafo das principais obras de Todd Haynes, também em papel especial. Varia de tons para acompanhar a trama.E funciona bem, transmitindo uma mensagem proposta na concepção do filme.

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