Alegoria para pensar sobre o país

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"Bacurau" traz uma história crítica, com muitas camadas de significação que podem gerar inúmeros debates

Adriana Androvandi

Pequeno povoado no no sertão brasileiro descobre que não consta mais em qualquer mapa

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O filme "Bacurau", do diretor Kleber Mendonça Filho e codireção com Juliano Dornelles (Brasil), traz uma história crítica, com muitas camadas de significação que podem gerar inúmeros debates. A narrativa se passa em uma localidade do sertão pernambucano, daqui a anos futuros.

Bacarau é um pássaro que dá nome à localidade, um distrito da cidade de Serra Verde. O povoado vive à míngua, pois a água foi cortada. Há uma clara discordância entre os moradores do local e o prefeito, que volta e meia chega com mantimentos, mas a generosidade logo se mostra falsa: são alimentos com prazo de validade vencido e doação de livros que contém listas telefônicas no meio, largados da caçamba de um caminhão sem nenhum cuidado. Esse ambiente nos mostra uma comunidade que se organiza por conta própria, pois não pode contar com o governo constituído. Esse quadro já carrega em si uma crítica social, mas o pior ainda está por vir.

O olhar do espectador do filme é introduzido a Bacurau acompanhando o retorno de Teresa (Barbara Colen) ao local para um enterro. Lá ela encontra as pessoas da comunidade, entre elas a profissional de saúde Domingas (Sonia Braga). A mistura de gêneros é uma marca deste filme, que traz referências a produções norte-americanas dos anos 70 e a cinematografia brasileira, como "Brasil Ano 2000", de Walter Lima Jr (1969).

Essa distopia traz originalidade e selvageria. Uma das sequências iniciais certamente é daquelas que deve ficar na memória do cinema brasileiro: enquanto está num caminhão para retornar à cidade natal, Teresa vê caixões vazios ao longo da estrada. Os caixões caíram de um caminhão e acabam sendo atropelados por outro veículo. Esta cena já dá a tônica do que se pode esperar a seguir.

O lugar começa a ser espionado por um objeto, que num primeiro momento deixa o espectador em dúvida se é um disco voador ou um drone. Esse contraste presente na narrativa, que reúne elementos tecnológicos em meio a um ambiente simples e rural, gera um estranhamento instigante. Frente a forasteiros que aparecem de forma ameaçadora, Bacurau precisará se defender. Desta forma, uma das muitas questões levantadas pelo filme é que a resistência pode ser mais forte e definitiva se contar com a união de grupos e comunidades frente a inimigos mais poderosos.

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