Escola Scorcesa

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Anúncio publicitário do jornal The New York Times afirma que foram esperados 30 anos para se ver o tal filme. O redator esteve hibernando neste período ou a frase foi tirada do contexto, querendo ele dizer ter esperado três décadas para se ver filme similar a "Taxi Drive". Bem, "Drive", direção do dinamarquês Nicolas Winding Refn, lembra fortemente o clássico de Martin Scorsese e Robert de Niro, de 1976.
O canadense Ryan Gosling (Tolerância Zero e Tudo pelo Poder), o novo queridinho da América e namorado de Eva Mendes, vive um jovem solitário que sobrevive trabalhando como mecânico e dirigindo carros em filmes de ação de Hollywood. E nas horas vagas fatura mais auxiliando em assaltos - ele apenas pilota os carros, sem nunca envolver-se com os ladrões. Metódico e solitário, seu personagem tem forte ligação com Travis Bickle, de Roberto de Niro em "Taxi Driver", por seu estilo distante e reflexivo, não pela doideira (Bickle era um veterano do Vietnã sem noção). Já o personagem de Gosling, chamado simplesmente de o motorista, circula por Los Angeles com uma estilosa jaqueta de couro decorada com um escorpião e contando os dias para sair daquela vidinha.
E a exemplo de Bickle, que se enamora de uma jovem cabo eleitoral, a bela Betsy (Cybill Sheperd) e decide ajudar uma jovem prostituta, Iris (Jodie Foster), o motorista se encanta com a vizinha Irene (Carey Mulligan, de "Educação" e "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme") e resolve ajudar o marido dela, um ex-presidiário, endividado até o pescoço. O motorista e o marido de Irene, Standard (Oscar Isaac), decidem praticar um assalto, que dá errado. Ou seja, aquela política de distanciamento com os outros vai para o espaço, e ele começa a ser perseguido implacavelmente pelos capangas do dono da grana, um sádico mafioso interpretado com convicção por Albert Brooks, mais conhecido por comédias românticas como Laços de Ternura. Ele, aliás, estreou no cinema em "Taxi Driver". Um dos diálogos de Drive é delicioso. Seu personagem, Bernie Rose, é apresentado ao motorista, que está consertando um carro. Rose estende a mão para Gosling, que recusa o aperto dizendo: "Minhas mãos estão sujas". Rose devolve: "As minhas também".
As semelhanças de "Drive" com o filme de Scorsese são intensas. Relembrando o momento em que Bickle adentra o bordel para libertar a prostituta Iris - o motorista e a ajudante Blanche (a gata Christina Hendricks, de "Mad Men") sendo atacados em um motel à beira da estrada. Mas Drive nunca é uma cópia. São citações, uma homenagem justa e bem feita. Porém não é tão espetacular como se esperava, apesar das boas atuações de Gosling, Brooks e de Bryan Cranston (dos seriados "Malcolm in the Middle" e "Breaking Bad"). Carey Mulligan, que a cada filme fica mais a cara de Katie Holmes, talvez por isso mantenha o cabelo curtinho e loiro para tentar se diferenciar, tem fraco desempenho. Ela é uma gracinha, mas sua carinha de sofrimento está tornando-se repetitiva.

Por Chico Izidro

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