Mulheres levarão 33 anos para ter participação igual a dos homens no mercado de trabalho, diz estudo

Mulheres levarão 33 anos para ter participação igual a dos homens no mercado de trabalho, diz estudo

Pandemia da Covid-19 causou mais atraso na corrida pela equidade de gênero, diz o Women In Work Index, produzido pela PwC 


Camila Souza

publicidade

A luta pela equidade de gênero no mercado de trabalho global encontrou um entrave na pandemia. De acordo com o Women In Work Index, produzido pela PwC, a Covid-19 atrasou em, pelo menos, dois anos os avanços desta agenda. O estudo ainda aponta que serão necessários 33 anos para que a taxa de mulheres empregadas, hoje 69%, seja equivalente ao índice atual de homens, 80%, nas economias da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). 

No Brasil, o Benchmarking de Capital Humano da PwC, levantamento com empresas que representam 1/3 do PIB brasileiro, indica uma tendência similar: até 2019 houve um crescimento médio de representatividade feminina de 14% ao ano. A partir de 2020 e com um cenário de pandemia, a representatividade passou a retroceder na ordem de 12% ao ano – com uma maior queda no percentual de mulheres na liderança: -14%. Isso porque, conforme os indicadores de desligamentos, no período da Covid-19 as mulheres tinham 7% mais chance de pedirem demissão e 28% mais chance de serem dispensadas pelas empresas. 

Projeções para equidade salarial

O Women In Work Index indica que serão necessárias mais de seis décadas - 63 anos - para que a remuneração das mulheres seja igual à dos homens. Além disso, são estimados nove anos para que a taxa de desemprego feminino caia para o patamar atual masculino. Ao comparar o desemprego com o crescimento das ocupações previstas antes da pandemia, descobriu-se que havia 5,1 milhões a mais de mulheres desempregadas e 5,2 milhões a menos de mulheres participando do mercado de trabalho do que seria a realidade, caso a pandemia não existisse. 

A discrepância de realidades se acentua de maneira mais intensa quando se coloca sob perspectiva grupos étnicos minoritários. O mesmo estudo mostra que no Reino Unido, por exemplo, no terceiro trimestre de 2021 mulheres desses grupos estão, em média, mais de uma década atrás das mulheres brancas em termos de desemprego e estão proporcionalmente piores do que estavam em 2011.

“Após uma década de ganhos lentos, mas consistentes, para as mulheres no mercado de trabalho em toda OCDE, vimos queda pela primeira vez. Essa realidade constatada pelo estudo se reflete também no cenário brasileiro. Por aqui, nossas mulheres foram mais atingidas pelos cortes e pela necessidade de deixar o mercado de trabalho, afetando objetivamente a representatividade de gênero nas empresas”, diz Amanda Pinheiro, diretora da PwC Brasil.

De acordo com ela, há perspectivas de uma recuperação mais acelerada nos próximos anos do que foi visto na última década. “Ainda assim, serão necessárias políticas públicas e privadas para voltarmos a patamares pregressos de inclusão.”, afirma. A décima edição do Women in Work Index avaliou resultados de empregabilidade feminina em 33 países da OCDE com base em disparidade salarial, participação delas no mercado de trabalho, taxas de desemprego e emprego em tempo integral. 

Rotina doméstica e desemprego na pandemia 

Cuidar dos filhos e da casa contribuiu de forma significativa para que mulheres deixassem o mercado de trabalho. Um relatório da OCDE, objeto de pesquisa para o Women In Work Index, mostra que as mulheres assumiram mais responsabilidades não remuneradas durante a pandemia, o que as levou a deixar o trabalho mais que os homens. 

De acordo com o estudo, as mães eram três vezes mais propensas do que os pais a assumir a maioria ou a totalidade do trabalho doméstico por conta do fechamento de escolas e creches. “O cenário nos provocou a refletir ainda mais sobre a necessidade de mais flexibilidade no trabalho para equilibrar a rotina entre homens e mulheres no que tange aos cuidados domésticos e com filhos, inclusive acerca de licenças de parentalidade iguais”, pontua Amanda. 

Movimento Net-zero pode aumentar disparidade

A transição para movimentos de neutralidade de carbono, como o Net-zero, pode ampliar a distância entre homens e mulheres na próxima década, segundo o Women In Work Index. O estudo analisa que haverá mais empregos em 2030 em 15 dos 20 setores das economias da OCDE, principalmente, em serviços públicos, construção e manufatura, onde 31% da força de trabalho empregada é masculina, ante 11% de mulheres.

A PwC estima que a disparidade de empregos entre homens e mulheres nas economias da OCDE aumentará em 1,7 pontos percentuais até 2030, passando de 20,8%, em 2020, para 22,5%.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895