Alexander Volchkov: “A arte é um patrimônio universal que deve crescer em todos os lugares”

Alexander Volchkov: “A arte é um patrimônio universal que deve crescer em todos os lugares”

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Alexander Volchkov: "Amo o Brasil. Me sinto em casa neste país". Foto: Carlos Grossman / Divulgação / CP


Uma apresentação rara é o que os gaúchos devem presenciar na noite desta sexta-feira, em Porto Alegre. Integrantes dos balés russos Bolshoi, Mariinsky e Mikhailovsky, famosos pela projeção de grandes estrelas, oferecem a oportunidade de ver os principais solistas internacionais em um só espetáculo. “Joias do Ballet Russo”, que será apresentado no Teatro do Sesi, promete vigor técnico aliado à graça e à beleza, em gala com grandes nomes da dança clássica. O show reúne os melhores bailarinos dos principais teatros do velho mundo, em um repertório composto por trechos das obras “Lago dos Cisnes”, “Corsário” e “Quebra-Nozes”.  No elenco que virá ao Brasil, está Alexander Volchkov, um dos maiores dançarinos em atividade, membro da equipe principal do Bolshoi e há 20 anos integrante da companhia mais famosa do mundo, além de sete solistas consagrados mundialmente. Do Balé Mikhailovsky, as estrelas Oxana Bondarev, Anastasia Marchenkova e Mikhail Venshchikov. Do Mariinsky, o solista Boris Zhurilov e Tatyana Tiliguzova, que já fez parte do Balé Mariinsky, atualmente dança no Bayerisches Staatsballett, e será solista do Bolshoi a partir da próxima temporada. Integram esse espetáculo bailarinos dispostos a enfrentar uma rígida disciplina de treinos e ensaios, pois só assim as dificuldades da arte conseguem superar o físico – afinal, fazer pliês e botar os pés em meia-ponta numa sapatilha apertada não são tarefas para qualquer um. Toda esta dedicação confere a eles a graça e a sutileza em cada movimento, próprios de príncipes e princesas dos contos de fadas. Para falar de ballet, da Rússia, do espetáculo, do repertório de coreografia, o Correio do Povo entrevistou Alexander Volchkov.

Correio do Povo: O que podemos esperar deste espetáculo “Joias do Ballet Russo”?
Alexander Volchkov:  Devemos esperar um verdadeiro e belo encontro entre o ballet e o público. Tive a oportunidade de visitar seu belo país quando fiz turnê com companhias completas, com corpo de ballet, grande cenografia e outros detalhes que enriquecem este formato desde o projeto, e apresentamos outro ballet. Nesta ocasião, apresentamos uma gala com momentos apoteóticos de sete ballets distintos. É a oportunidade de mostrar ao público que somos capazes, os solistas, concentrando toda a sua atenção em nossos corpos, não no coro, cenografia ou mis-en-scène. Espero que juntos com meus companheiros, possa brindar ao público com uma formidável gala de ballet como foi a primeira noite no Rio, na terça, quando deixamos o público aplaudindo de pé por vários minutos antes de irmos ao camarim.

CP: O que mudou na estrutura dos ballets nacionais e grandes teatros e companhias como Bolshoi e Mariinsky após a abertura política (glasnost) em 1991?
Alexander Volchkov: Realmente o Ballet Russo não mudou muito nestes últimos 130 anos. Os princípios dos nossos mestres seguem sendo buscar a perfeição em cada minuto de ensaio e para os bailarinos, por a alma em cada peça sobre o cenário. Obviamente cada época implica uma maneira própria de ver e fazer as coisas, mas afortunadamente a arte tem sido privilegiada e protegida por todas as formas de governo em nosso país, desde os Czares na época do império até os dias de hoje.

CP: Eu estive na Rússia em 2012 e percebi que diferentemente do Brasil, no qual uma pequena parte da população entende algo sobre ballet, uma boa parte da população russa tem entendimento do ballet, música clássica, ópera. A que se deve este grande conhecimento destes gêneros artísticos?
Alexander Volchkov: Afortunadamente em nosso país, como tu bem dizes, uma boa parte da população, desde criança, recebe ensino em artes e praticamos esportes, mas temos notícia que na América Latina, incluindo o Brasil, cresce o interesse da população pela arte e pela cultura. Vocês têm grandes cidades com milhares de amantes do ballet e da ópera, no Brasil. Sediam alguns dos maiores festivais de dança do mundo, o que nos deixa muito felizes, porque entendemos que a arte é um patrimônio universal que deve crescer em todos os lugares.

CP: A Escola de Dança do Teatro Bolshoi, em Joinville (sede de um grande festival de dança), é a única filial no mundo e é um orgulho para Santa Catarina e para o Brasil. O que você acha deste tipo de iniciativa?
Alexander Volchkov: Como disse anteriormente, esta é a mostra de como está se estendendo a arte pela América Latina. Esta filial de nosso teatro é a única no mundo, fora de nossas fronteiras e também nos enche de orgulho poder prover com nossa experiência o ballet e a formação de novos artistas no Brasil

CP: Você conhece algo sobre a dança no Brasil. Tem amigos ou parceiros brasileiros de trabalhos no ballet?
Alexander Volchkov: Infelizmente amigos diretos, pessoais, eu não tenho, mas temos muito intercâmbio com alguns colegas e professores que estiveram no Brasil. Muitos de meus colegas se apresentaram para o público brasileiro. A relação com o querido público brasileiro sempre é de admiração, de catarse. Amo o Brasil. Me sinto em casa neste país.

CP: Conte-nos um pouco mais sobre os solistas deste espetáculo “Joias do Ballet Russo”.
Alexander Volchkov: Todos os meus companheiros nesta gala estão comprometidos como o ballet desde a infância. Cada um dos solistas teve a oportunidade de mostrar a sua arte por muitos cantos deste planeta. Para dar-te um exemplo, do Ballet Mariisnky, de São Petersburgo, recém chega ao Brasil após dançar 30 vezes “O Lago dos Cisnes”, na Ópera de Sidney, Austrália, a minha companheira de dança nesta gala e primeira bailarina do Teatro Michailovsky, de São Petersburgo, Anastasia Marchenkova, que é uma grande bailarina e tem uma capacidade de transformar-se em minutos da cigana Carmem ao débil cisne que interpreta a Morte do Cisne, de Fokine. São expoentes da pura arte do ballet russo. Todos eles e cada um deles individualmente.

por Luiz Gonzaga Lopes

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