Dennis Drew e Mary Ramsey: "Estas músicas significam o nosso orgulho como banda”

Dennis Drew e Mary Ramsey: "Estas músicas significam o nosso orgulho como banda”

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Dennis Drew e Mary Ramsey tocam em Porto Alegre neste sábado Dennis Drew e Mary Ramsey tocam em Porto Alegre neste sábado


A banda de pop rock 10.000 Maniacs mostrará ao vivo no Auditório Araújo Vianna (Osvaldo Aranha, 685), neste sábado, às 21h, uma reunião dos 14 maiores clássicos já gravados pelo grupo, reunidas no disco Playing Favorites, de 2016. A apresentação faz parte da programação da Top Cat Series, sequência de shows das produtoras Top Cat Estúdio, Opus Promoções e Branco Produções. Os ingressos estão à venda no site, Call Center 4003-1212, na bilheteria do Teatro do Bourbon Country e no local, no dia do espetáculo. “Playing Favorites” foi lançado em junho de 2016. Gravado ao vivo em Jamestown, Nova Iorque, nos EUA, réune coleção com 14 clássicos como “These Are Days”, “Because The Night”, “Hey Jack Kerouac”, “Trouble Me”, “What"s The Matter Here” e “Like The Weather” interpretadas pela formação atual da banda que tem Mary Ramsey (voz e viola), Jerome Augustyniak (bateria), Dennis Drew (teclados e vocais), Jeff Erickson (guitarra e vocais), Steven Gustafson (baixo) e John Lombardo (guitarra e vocais).

Fundada em 1981, em Jamestown, Nova Iorque, a 10.000 Maniacs vendeu cerca de 10 milhões de discos nestes 36 anos, fazendo seu “rock alternativo” com pop consciente, inteligente e estética exuberante. O primeiro show teve Natalie Merchant, John Lombardo, Richard Buck, Dennis Drew, Gustafson e Tim Edborg. Em agosto de 1993, Merchant saiu da banda após gravar o "MTV Unplugged". No final de 1993, os remanescentes da banda (Augustyniak, Buck, Drew, e Gustafson) chamaram John Lombardo e Mary Ramsey (que formavam o duo John & Mary) para se juntar a eles. Em 2000, Buck morreu de insuficiência hepática, com 42 anos. Após essa perda, o grupo deu uma pausa, retornando em 2004. Em 2015, voltaram ao estúdio para produzir “Twice Told Tales”, uma coletânea de canções folclóricas das ilhas britânicas. 

Nesta entrevista ao Diálogos do Correio do Povo, Dennis Drew e Mary Ramsey falam do show, dos momentos difíceis da banda, de suas paixões, da vida fora da música, da perda de Richard “Rob” Buck em 2000 e do ativismo político, entre outros temas:

Correio do Povo: O que as 14 músicas de "Playing Favorites" significam para a trajetória da banda?
Mary Ramsey: Estas 14 músicas do disco “Playing Favorites” ajudam a banda a continuar a gravar e vender CDs. Nosso objetivo é gravar nossas próprias composições ou então as músicas favoritas em cada um destes anos.
Dennis Drew: Elas significam que estamos orgulhosos de nós mesmos e da qualidade do trabalho que fazemos, mas também significa que este pode ser o fim de um capítulo e que está na hora de trabalhar algum material novo. Eu acredito que o sucesso que tivemos nos últimos anos (2017 é o nosso ano mais movimentado desde 2000) está nos inspirando a criar música nova. Fique ligado!

CP: Num mundo de artificialidade e de músicas descartáveis, por que a 10.000 Maniacs se mantém intacta em 36 anos?
Dennis Drew: Percebemos há muito tempo que não conseguimos perseguir as últimas tendências. Eu acho que nossa durabilidade está diretamente relacionada à nossa honestidade. Pelo menos, alguma forma de honestidade artística que mantemos dentro de nós, musicalmente, e nos esforçamos para tocar melhor e trabalhar para contar as histórias que têm significado para nós. Só podemos esperar que essa abordagem atinja um público. Entendemos que as pessoas se preocupam umas com as outras como seres humanos e veem músicos reais no palco, que vivem o momento, trabalham a música e criam algo absolutamente novo a cada noite, o que pode ser emocionante, independentemente do estilo, gênero ou tendência.

CP: Como foi a escolha das músicas para incluir no disco? Sei que duas têm participação de Mary na composição.
Mary Ramsey: “Love Among the Ruins” e “Rainy Day” vieram do nosso álbum de 1997, “Love Among the Ruins”. John e eu escrevemos a música “Rainy Day” em um dia chuvoso em Buffalo. Nós estivemos escrevendo muitas músicas juntos como a dupla John & Mary. “Love Among the Ruins” foi simbólica do nosso retorno à banda após a saída de Natalie.
Dennis Drew: Havia muitas músicas a escolher. Estas pareciam ser as melhores. É um registro de performance ao vivo. Além disso, queríamos colocar algumas dessas músicas antigas para fazer a cama sonora. Nós certamente tocamos músicas de todos os discos que já lançamos, de 1981 a 2017. Não são as mesmas todas as noites, mas há um amplo espectro.

CP: Explique-nos a simbiose da relação musical com John Lombardo e como ela contribuiu para fazer sua entrada como vocalista da banda?
Mary Ramsey: John Lombardo e eu (Mary Ramsey) escrevemos música por muito tempo. Nos conhecemos em 1988, então temos muita experiência em trabalhar e trabalhar juntos. Quando os caras em 10.000 Maniacs pediram a John e eu para participar da banda, foi um ajuste natural. Compreendi a natureza do som da banda. Minha viola e violão eram uma adição instrumental natural ao som da banda.

CP: A banda teve alguns acidentes de percurso, como a saída de Natalie Merchant, mas você poderia falar do duro golpe da morte de Richard "Rob" Buck?
Dennis Drew: John Lombardo deixou a banda em 1986 após o fracasso comercial do álbum “Wishing Chair”, naquele que foi um tempo de muitas dificuldades. Nós realmente tínhamos tentado nos reagrupar, relaxar e fazer um grande disco que nós pensávamos ter feito (“In My Tribe”, de 1987). Natalie nos deixou quando era muito difícil nós estarmos preparados para aquilo. Outro fracasso comercial com “Love Among the Ruins” (1997) poderia fazer a vida muito infeliz, mas nada se compararia a devastação que foi uma perda como a de Rob em 2000. Aquilo quebrou nosso espírito e nós paramos de tocar durante três anos. Eu certamente não podia aceitar porque Rob havia morrido e eu não. Eu acreditava que os sobreviventes eram culpados. Eu estava triste, muito triste por um tempo longo. Felizmente, eu tinha uma esposa amada e duas crianças (tinha naquela época) e foquei na família, o que me deu força para que a minha vida se voltasse à tona. Você nunca esquece uma perda como aquela, mas pode tentar viver melhor com aquilo. Nós passamos a tocar por ele todas as noites.

CP: Como você define o 10.000 Maniacs?
Dennis Drew: Um organismo vivo e respiratório. Vivemos com admiração e chegar a todos em todos os lugares. Realmente, somos apenas pessoas que são abençoadas com a capacidade de tocar instrumentos e usar essa habilidade para expressar nossas observações pessoais da condição humana. De alguma forma, essa combinação de música e letras torna-se universal. Uma linguagem universal. Eu sou um grande fã de Caetano Veloso e Jorge Ben Jor e não entendo uma palavra que eles estão dizendo. É só uma música bonita. É o bastante.

CP: Como está a carreira-solo de cada um e outros projetos?
Mary Ramsey: Eu trabalhei com muitos grupos diferentes. Eu toco viola e violão clássico nas orquestras. Eu trabalhei com o teatro clássico irlandês em Buffalo compondo música e tocando em Theatre Productions. Estou trabalhando em colocar música para a poesia de William Butler Yeats. Também estou trabalhando em um projeto solo de minha própria música.
Dennis Drew: Eu fiz alguns shows sozinhos e com outros membros da banda. O repertório é com canções escritas fora da banda. Mas não tenho muito tempo para esse trabalho. Estou extremamente feliz tocando com meus melhores amigos. É gratificante. Também sou o gerente-geral de uma estação de rádio comunitária não comercial na minha cidade natal (wrfalp.com). Eu também ensino Broadcasting, além de Governo e Economia numa Escola Secundária local todos os dias. Então, estou completamente envolvido em educação, música, discurso político e serviço público.

CP: Vocês têm uma música preferida da banda? Quais as histórias desta preferência?
Mary Ramsey: Duas das minhas canções favoritas são “More Than This” e “Rainy Day”. Essas duas músicas marcam minha entrada no mundo como a nova voz e novo rosto da banda. Também adoro tocar uma música chamada “Whippoorwill”, que escrevi a partir do CD “Music from the Motion Picture’.
Dennis Drew: É gratificante tocar as músicas que recebem mais respostas positivas quando estamos no palco. Então “These Are Days” é uma das favoritas. Mas eu realmente adorei criar tantas músicas para os nossos discos, que é difícil escoher uma favorita. “Death of Queen Jane” e “She Moves Through the Fair” do nosso álbum de 2014, “Twice Told Tales”, foram especialmente divertidas para gravar e ficaram excelentes. Eu concebi o arranjo da “Queen Jane”. “Tension Make a Tangle” foi uma das primeiras músicas que nós escrevemos em 1981, Nossa versão de “Who Knows Where The Time Goes” é realmente bonita. “Trouble Me” é uma canção muito querida para mim. Eu amo “Big Star”, do disco “Love Among the Ruins” (1997). Tenho muito orgulho de “Gold” e Downhill” do álbum de 2013, “Music From The Motion Picture”. Eu escrevi e cantei “Downhill” e escrevi a música para “Gold”. Para “Gold”, Jeff e eu tínhamos acabado de visitar Rob no hospital e Jeff e eu voltamos para o meu estúdio no porão, onde em uma onda catártica de palavras e música, nós escrevemos um tributo para ele. Ainda assim, talvez seja a melhor coisa que já fiz. A lista é infinita.

CP: Qual a sua relação com Natalie Merchant?
Dennis Drew: Natalie deixou a banda porque John estava de volta. Eu estou bem com a Natalie. Entendi sua decisão de sair. Isso fazia sentido para ela. Eu teria feito algo parecido, embora provavelmente não teria quebrado pontes. Ainda nos comunicamos para fins comerciais e sempre é um prazer trabalhar com ela.

CP: Sobre o Brasil, vocês conhecem bem a música produzida aqui e o público brasileiro?
Mary Ramsey: Eu amo a música do Brasil! Esta será nossa quarta ou quinta visita ao seu maravilhoso país. Adoro a música de Tom Jobim e de outros compositores brasileiros. Eu adoro a gentileza dos ritmos e o belo idioma do povo brasileiro. Espero gravar alguma música brasileira logo. John Lombardo e eu escrevemos uma música chamada “Autumn in Rio”. Nós planejamos tocá-la no Brasil quando fizermos nossos concertos neste país.
Dennis Drew: Todos nós adoramos ir ao Brasil. Adoro a música brasileira (veja a resposta anterior). A comida, as praias e as pessoas são ótimas. Eu também vi alguns belos trajes de banho.

CP: O que vocês têm ouvido ultimamente?
Mary Ramsey: Eu tenho ouvido muita música de meditação, música celta, gente como Belle e Sebastian, uma cantora chamada Mia Doi Todd e também Marketa Irolova... Eu ouço sempre nossa estação de rádio clássica em minha casa, muito porque eu moro a uma curta distância do Canadá, assim eu escuto a CBC Radio 1 + 2.
Dennis Drew: Kendrick Lamar, Chance the Rapper, Beyoncé. Mas isso é por causa dos meus filhos. É realmente bom. É completamente diferente da nossa música ou da música com a qual cresci. Eu costumo ouvir música o dia inteiro na estação de rádio. O novo álbum do Ray Davies ("Americana") , Willie Nelson, o disco deste ano dos Magnetic Fields chamado "50 Song Memoir". Sempre amei Ryan Adams, Grateful Dead, Miles Davis, African Highlife, Sounds of Soweto e Flaming Lips.

CP: Fora da música, vocês trabalham com algumas campanha ou ativismo? Quais as causas de vocês?
Mary Ramsey: Tenho contribuído e apoiado a organização Heifer International. Também toco músicas nos centros de para tratamento de doentes mentais. Eu acredito que toda vez que uma música é tocada pode ajudar a curar o mundo. Na música, existe um lugar potencial de paz e harmonia para todas as pessoas. Eu me sinto tão abençoada por poder ter a música na minha vida – por poder tocar a viola e violino – por compor músicas e poder usar minha voz e cantar.
Dennis Drew: Pense globalmente e aja localmente. Como eu disse anteriormente, sou muito ativo tentando fazer com que as pessoas se engajem nas causas e assumam o controle de suas próprias vidas. Ambas as ações são cívicas e pessoais. Eu trabalho em mídia pública e educação pública todos os dias. Nossa política está decadente e acredito que a chave para uma democracia vibrante e bem-sucedida é uma cidadania envolvida e educada. Eu acredito no poder do povo.

Por Luiz Gonzaga Lopes

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