Dunga: “Paciência do torcedor com a Seleção é de 10 ou 15 minutos”

Dunga: “Paciência do torcedor com a Seleção é de 10 ou 15 minutos”

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Brazil Dunga destacou a falta de tempo para treinamentos para as Eliminatórias da Copa do Mundo 2018 - Foto: Nelson Almeida / AFP / CP Memória


O técnico Dunga concedeu entrevista para o apresentador Nando Gross, nesta quinta-feira, no programa Repórter Esportivo, da Rádio Guaíba, e falou sobre o momento da Seleção e a relação com o torcedor brasileiro. Entre outros assuntos, explicou a ausência de Marcelo Grohe na convocação para os jogos das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018 contra a Argentina, no dia 12, e contra o Peru, no dia 17. O treinador comentou também sobre a importância do retorno de Neymar e se Alisson será o titular nos próximos jogos. Dunga falou ainda sobre as dificuldades no período desde que voltou a Seleção e se as acusações contra a Confederação Brasileira de Futebol atrapalham o seu trabalho. Confira a entrevista na íntegra:

Rádio Guaíba: O próximo compromisso é uma encrenca danada, mas teremos o Neymar. Temos boas lembranças dos confrontos contra a Argentina nas Eliminatórias?

Dunga: Falaste bem, temos boas lembranças. Agora é outro campeonato. Outra situação. A Agentina está em dificuldade, pois a Eliminatória é dura para todo mundo. Basta ver que a maioria dos jogos são decididos aos 30 ou 35 do segundo tempo. A competição será bem disputada. O Neymar está voltando e vai nos ajudar bastante. Mas vai ser um jogo bem complicado também.

Rádio Guaíba: Qual a maior dificuldade desde que assumiu a Seleção depois do episódio dos 7 a 1?

Dunga: A maior dificuldade, sem dúvida nenhuma, é a desconfiança e o grande clamor por mudanças. Queremos que as mudanças aconteçam do dia para a noite e que tudo vai se resolva em um segundo. É uma construção. Faz um ano que estamos na Seleção Brasileira. Tem uma grande cobrança sobre os jogadores. O equilíbrio entre as seleções é grande. Queremos tudo urgente. Achamos que o problema da Seleção é isso e amanhã passamos para outro. Temos dificuldade para treinamentos. Na outra Eliminatória, nós nos apresentamos na segunda e jogávamos no sábado. Hoje nos apresentamos na segunda à noite ou terça ao meio-dia para jogar na quinta-feira. Cada um vindo de um local diferente. Isso tudo aumenta o grau de dificuldade, mas é uma grande oportunidade para todos nós.

Rádio Guaíba: O retorno de Neymar agrega bastante?

Dunga: Sem dúvida nenhuma. É um jogador de qualidade e que faz a diferença, mas o grupo já vinha se comportando bem. A tendência, com o Neymar, é subirmos de produção

Rádio Guaíba: O Marcelo Grohe não foi chamado por lesão?

Dunga: O Marcelo teve duas ou três lesões seguidas. Na última convocação, teve uma lesão também. Está retornando. Temos outros jogadores que estão em fase de recuperação, então, decidimos optar por chamar outro jogador para ele se recuperar bem. Também temos que ver a parte do clube. As vezes, o jogador tem desgaste maior e acaba não se recuperando bem. Pensamos nisso tudo e no bem da Seleção também.

Rádio Guaíba: Alisson é o titular da Seleção?

Dunga: A Seleção é diferente de um clube. Não tem titular. Os 23 têm que estar prontos para atuar. Colocamos o Alisson porque confiamos em todos os jogadores que convocamos. Quanto a iniciar nos 11, vai depender sempre dos treinamentos. Rstamos acompanhando diariamente a performance dos jogadores e não temos problema nenhum para colocar para jogar. Queremos que tenha renovação, mas quando colocamos um novo, reclamam. “É muito novo”, então é complicado, mas temos confiança em todos os jogadores convocados.

Rádio Guaíba: O que houve com o Romário, que sempre foi teu amigo e de repente passou a disparar contra a Seleção e contra você?

Dunga: Não sei. Para mim é até uma questão estranha, pois o Romário conhece minha postura e das minhas atitudes. Quero ganhar, sem dúvida nenhuma. Agora, não sei o que mudou na situação. O Romário estava sempre na CBF antes de eu chegar e desde que cheguei ele não apareceu mais. Então, é uma incógnita essa situação.

Rádio Guaíba: A suspeita sobre a CBF afeta o trabalho do grupo que cuida da Seleção?

Dunga: Não, de nenhuma forma. O presidente nos dá total apoio. Tudo que solicitamos, conversamos, e ganhamos todas as condições de trabalho. Não é desculpa. Estou muito tranquilo e não afeta o nosso trabalho. A questão da CBF é administrativa. Nós tomamos contas da questão do futebol. Eles nos dão totais condições de trabalhar.

Rádio Guaíba: Como pretende utilizar o Neymar? Como um falso 9, como usou algumas vezes?

Dunga: Ele vai se apresentar e vamos ver as condições. Ele teve um problema no início da temporada e já voltou a jogar bem. Vamos treinar duas ou três opções e depois tomar uma decisão de onde colocar o Neymar.

Rádio Guaíba: Argentina chega pressionada no jogo também?

Dunga: Brasil e Argentina estão sempre pressionados. Com resultado ou sem resultado. Quando ganhamos, é normal. Quando perdemos, cai o mundo. É complicado os jogadores sofrerem sempre essa pressão. Mas jogadores de Brasil e Argentina têm que saber conviver com essa situação.

Rádio Guaíba: O Chile é a seleção mais bem acabada do futebol sul-americano?

Dunga: A seleção chilena tem uma forma de jogar desde a época do (treinador Marcelo) Bielsa. Agora com o (Jorge) Sampaoli não mudou muito. O grande diferencial é que eles têm jogadores com 12 anos, com oito anos, e têm poucos com dois ou três anos. No Brasil, estamos reformulando a cada instante. Temos jogadores com dois ou três anos na Seleção. Poucos estão há seis anos na Seleção.

Rádio Guaíba: É possível retomar a ligação da torcida com a Seleção?

Dunga: Lógico. Tem os comentários e tudo, mas o que vimos em Fortaleza foi a torcida gritar olé para a Seleção Brasileira, o que não acontecia há muito tempo. Claro, queremos muito mais. Melhorar muito mais. De uma certa forma, essa situação acaba trazendo uma cobrança a mais para a Seleção Brasileira, aos jogadores e uma desconfiança do treinador. Porque a cada dia a gente lê uma notícia nova em um jornal novo, mas fatos a gente não tem. Não quero defender ninguém, mas tem muito diz que me disse. Eu acho isso. Eu vejo isso. Até agora, comprovadamente, são poucos os fatos apresentados ou nenhum. Isso acaba, de certa forma, atrapalhando. Essa desconfiança, essa cobrança, a paciência do torcedor com a Seleção é de 10 ou 15 minutos, então, temos que trabalhar isso também.

Rádio Guaíba: William mostrou um crescimento impressionante no último jogo?

Dunga: São todos jogadores reconhecidos nos seus clubes e que entenderam a dificuldade da Seleção. Cada um está ocupando o seu espaço. Chamando cada vez mais o a sua responsabilidade. Incentivamos que os jogadores usem as suas características do drible e da velocidade. O William é um desses, que o torcedor lembra dos jogadores mais antigos que tinham essa performance. No último jogo, ele fez exatamente o que o torcedor gosta.

Rádio Guaíba: Quantos dias terá de treinamentos?

Dunga: Se todo mundo se apresentar até terça-feira, treino terça-feira e quarta.

Rádio Guaíba: Dois dias?

Dunga: Dois dias. Sendo que eles chegam na segunda à noite ou terça, então, o treino de terça tem que moderar a intensidade e de quarta é véspera do jogo. Não é fácil.

Por Rádio Guaíba

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