Kiko Loureiro: “A adaptação ao Megadeth está sendo ótima”

Kiko Loureiro: “A adaptação ao Megadeth está sendo ótima”

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Kiko Loureiro foi anunciado pelo Megadeth em 2015. Foto: Alex Solca / Divulgação / CP Kiko Loureiro foi anunciado pelo Megadeth em 2015. Foto: Alex Solca / Divulgação / CP

Kiko Loureiro vive um momento especial na carreira: neste mês, faz sua estreia no Brasil tocando com o Megadeth, um dos principais nomes do heavy metal no mundo inteiro. A passagem pelo país permitirá que o músico carioca de 44 anos reencontre o público que acompanhou sua trajetória com o Angra, grupo brasileiro com o qual lançou mais de dez discos. Anunciado por Dave Mustaine como guitarrista do Megadeth em abril de 2015, Kiko ocupou o posto deixado por Chris Broderick e já chegou pronto para colaborar em “Dystopia”, 15º álbum de estúdio da banda norte-americana. Depois do lançamento, ele embarcou na turnê mundial e tem cumprido uma agenda extensa - tanto que respondeu ao Correio do Povo dentro do tour bus “superconfortável”, como fez questão de destacar, durante uma viagem para França logo após tocar em um festival para 80 mil pessoas na Bélgica. Além da relação com Mustaine e do processo de adaptação ao Megadeth, o guitarrista também falou das apresentações no país, que incluem um show em Porto Alegre no dia 16, às 21h, no Pepsi on Stage (Severo Dullius, 1995).


Correio do Povo: Como tem sido a adaptação ao Megadeth neste ano e meio de banda?


Kiko Loureiro: A adaptação ao Megadeth está sendo ótima. É uma banda com uma história muito grande, então tem várias coisas para você ir se adaptando. Não só à banda nova, mas aos novos colegas de banda, equipe, um novo país, uma língua diferente, uma responsabilidade grande, outros fãs. O principal, que é a relação pessoal com todos da banda, com todos da equipe, está ótimo, não tem problema nenhum. E eu já faço isso há tanto tempo, já sei me colocar, me posicionar da forma correta para que a coisa aconteça, flua bem.


CP: O estilo da banda é mais agressivo do que o Angra, que faz um som mais melódico. Como é esta mudança?


Kiko Loureiro: O estilo da banda é mais agressivo, sim. Mas em termos de solo, em termos de guitarra, tem várias coisas semelhantes. Muda o estilo de vocal, mudam várias coisas, claro, mas a adaptação musical é bem tranquila, bem tranquila mesmo.


CP: Dave Mustaine tem a fama de ser um cara de difícil convivência. Como é o Dave no dia a dia? Do que ele gosta de falar? De fazer?


Kiko Loureiro: Eu acho que é tranquilo. Tem caras com quem eu toquei que são mais difíceis que o Mustaine, mas o Mustaine pegou a fama. Mas eu me dou superbem com ele, não tenho problema algum. E, como eu disse, eu tenho experiência, eu consigo entender as horas certas de falar as coisas, o que fazer, como me comportar. Sobre o dia a dia, durante a turnê a gente fica em hotel, então ele sempre gosta de chamar para tomar café da manhã, para almoçar, ele gosta de manter esse convívio e isso é interessante. Ele fala “vamos sair para comer”, “vamos tomar um café da manhã no hotel”. Gosta de ter essa companhia, bater papo sobre qualquer coisa. E ele gosta de falar, pode ser sobre o que melhorar na banda ou sobre qualquer assunto do dia – como uma pessoa normal –, mas, muitas vezes, fala sobre planos. Ele está sempre imaginando o que pode fazer para a banda, que música nova tocar, ou alguma ideia para a equipe, alguma coisa para corrigir no show, algum comentário. Isso é bem normal em turnê. E o nosso dia a dia na turnê é o seguinte: no fim da tarde vamos para o lugar do show, passamos o som, fazemos o meet&greet e jantamos no local. Depois temos um momento de espera – e, como temos uma sala de ensaio no backstage, geralmente tocamos um pouco por lá -, fazemos o show e logo já nos preparamos para ir para o ônibus e voltar ao hotel.


CP: Com quem você se dá melhor na banda?


Kiko Loureiro: Me dou bem com todos. É diferente, né?! Com o Mustaine a gente pode conversar sobre tudo, mas ele é um pouco mais focado no que a gente pode melhorar no show, é uma pessoa que aproveita as conversas para o trabalho. E o David (Ellefson), por exemplo, também faz isso, mas ele tem várias histórias e adora contar essas histórias. Ele é amigo de um monte de caras, lembra bem os “causos” todos - e tem muitos “causos”. Então, ele fica sempre contando histórias e é bem legal ouvir as histórias dele.


CP: Como está sendo tocar as músicas antigas do Megadeth, os clássicos como “Peace Sells”, “Holy Wars” e “Symphony Of Destruction”? Quanto tempo demorou para aprender estas músicas?


Kiko Loureiro: É tranquilo! É legal porque você toca desde o “Peace Sells”, vai passando pelas músicas ao longo da história deles, e percebe que o tipo de composição foi mudando, o tipo de melodia… Não demorei muito para aprender, não. As músicas não são tão complicadas assim para tocar. Tem alguns solos que são difíceis, algumas coisinhas que são difíceis de interpretar. Tem algumas coisas de cantar e tocar, já que às vezes eu faço backing vocal também, que eu tive que dar uma treinada, prestar a atenção no inglês para cantar certo. Então, são alguns detalhes com que eu tive um preocupaçãozinha maior. Claro, dá certo trabalho para memorizar, mas o grande lance é entrar no palco e tocar as músicas junto com os caras que tocam essas músicas há 20, 30 anos - e tocar com eles como se eu também tivesse tocando há 20, 30 anos essas músicas. Eu acabei de aprender, mas eu tenho que entrar no palco e passar uma tranquilidade, passar um conhecimento para quem estiver assistindo como se eu fosse dono daquela música também. Ou seja, ter essa propriedade da música, de que eu me sinto muito à vontade com ela. Esse é o principal. Não é se é difícil de tocar ou não, mas sim conseguir passar isso.


CP: Está sentindo falta do convívio com o pessoal do Angra? Acha que ainda voltará para a banda ou se dedicará mais agora, digamos integralmente, ao Megadeth?


Kiko Loureiro: Claro, sinto falta, são todos meus amigos. Mas eu falo com eles constantemente via Whatsapp, e-mail, mando uns áudios. Encontrei com eles no Brasil quando eu fui em maio, vou encontrar agora em agosto de novo. Claro que dá saudades de várias coisas, do Rafa (Bittencourt), do Felipe (Andreoli), do Bruno (Valverde), do (Paulo) Baron, que é o empresário. A gente tenta manter o contato, mas essa falta de contato próximo já vem de antes do Megadeth, porque eu já estou morando fora do Brasil basicamente desde 2010, mais ou menos. Com o Megadeth acentuou essa falta. E, por eles serem meus amigos, eu tenho muita vontade de contar o que eu estou vivendo, as coisas legais, os festivais em que estou tocando, revendo pessoas com que a gente já tocou junto em outras situações. Eu falo com eles direto e participo das decisões da banda ainda, estou como se fosse um cara da banda mesmo. Eu estou dando as minhas opiniões, ajudando que a banda siga seu caminho e não fique esperando por mim.


CP: Que contribuições você conseguiu fazer no disco “Dystopia”? Como foi a aceitação de Mustaine? Ele aceitou os palpites na boa?


Kiko Loureiro: Eu tenho participação em três músicas do disco. E eu fui tentando entender eles. Fui dando alguns palpites e algumas outras ideais, que não são exatamente composições de arranjo, que foram usadas. Outras ideias não foram usadas, o que também é uma coisa normal nesse período de composição. Mas eu acho que foi muito generoso o Mustaine já deixar eu participar com duas, três semanas de banda. Para mim, foi o comportamento, o jeito com que eu trouxe as ideias que ajudou bastante na interação com ele.


CP: De todos os momentos vividos no Megadeth até agora, você destaca algum que tenha sido mais marcante? E por quê?


Kiko Loureiro: Obviamente esses dias no estúdio de gravação foram marcantes. Também o primeiro show com o Megadeth em Quebec, que foi ano passado e era um festival gigante, a gente era o headliner daquela noite e tinha umas 70, 80 mil pessoas lá. Naquele dia, tive que tocar uma hora e meia ou mais de música pela primeira vez naquele palco gigantesco, com televisão canadense, uma pressão forte, uma “responsa” forte. Então, esse é um momento marcante. Mas todos os shows são. É realmente viver um sonho de moleque estar nesses shows grandes, estar nesse sistema, sendo superbem tratado. E os caras que são da nossa equipe são muito bons, já tocaram e trabalharam com os maiores nomes da indústria, como, por exemplo, Kiss e AC/DC. Então, é muito aprendizado e também a possibilidade de eu aprender cada vez mais por estar nesse ambiente.


CP: Qual a sua expectativa para a turnê pelo Brasil e para esse primeiro encontro com os fãs brasileiros? E o que o público brasileiro pode esperar dos shows por aqui e desta turnê do Megadeth?


Kiko Loureiro: A expectativa é muito grande, estou contando os dias para esses shows no Brasil. Com certeza vai ser fantástico, poder tocar em casa, em cidades que já toquei tantas vezes. E ver o povo brasileiro, estar com os amigos, mostrar o Brasil para os caras do Megadeth por outro prisma. Não sei nem como vai ser, mas a expectativa é gigante da minha parte. Tô muito ansioso. E a gente vai levar esse show que está bem ensaiado, está superlegal, superbem falado. É um disco que chegou em posições incríveis nas paradas dos Estados Unidos e na Europa, com números que se assemelham aos números da época áurea dos anos 90. Então, com certeza a galera pode ir no show que é inesquecível.



Por Chico Izidro e Júlia Endress


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