Marcelo Bonfá: "As pessoas têm que tirar a bunda da cadeira e fazer as coisas pra melhorar o mundo"

Marcelo Bonfá: "As pessoas têm que tirar a bunda da cadeira e fazer as coisas pra melhorar o mundo"

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fotoooo Legião Urbana se apresenta sexta-feira em Porto Alegre. Foto: Divulgação


Baterista da Legião Urbana, produtor de cachaça orgânica e, agora também, Embaixador da Boa Vontade das Nações Unidas. Em 2015, Marcelo Bonfá se reuniu ao antigo companheiro musical Dado Villa-Lobos para uma turnê em comemoração dos 30 anos do lançamento do primeiro álbum da icônica banda brasileira. A série de shows intitulada “Legião Urbana XXX anos” reproduz na íntegra o disco que deu o pontapé inicial na carreira do grupo e conta com André Frateschi nos vocais. Em ritmo de celebração, eles se apresentam em Porto Alegre nesta sexta-feira, a partir das 22h, no Pepsi on Stage. Como de praxe na turnê, a Legião recebe convidados no palco - aqui, Paula Toller, Jonnata Doll e Marina Franco farão participação especial. Em uma conversa por telefone, Bonfá, com um sotaque carioquíssimo (apesar dele ser paulista, mora no Rio) e com bom humor, fala sobre os ensinamentos da Legião Urbana, a atemporalidade das músicas da banda, vida pessoal e ainda palpita sobre o momento político do país.

CP: Correio do Povo: Qual é a sensação de subir ao palco 30 anos depois do primeiro álbum e ver que as músicas da Legião têm um aspecto atemporal?

Marcelo Bonfá: É sempre muito bom ver o impacto do nosso trabalho. Eu acho que a música e arte em geral sempre têm esse aspecto atemporal, essa característica marcante. No caso da Legião, as letras, da forma que foram escritas, todas pelo Renato, envolvem coisas que vão além da consciência. Por várias razões, elas me parecem oráculos, abordando uma imensa variedade de temas, desde a política até o amor, duas coisas que geralmente andam afastadas. O amor é respeito, uma atitude de paz, e a nossa política está envolvida nos mais baixos aspectos do amor. Tem essa questão de intolerância que nos remete há 30 anos, quando passamos por um momento de turbulência no país, parecido com o que tá agora. E as músicas da Legião nunca estiveram fora desses contextos, aliás, tem muita coisa nítida, como a letra de “Que País é Esse?”. Hoje em dia temos também as redes sociais, que acabam difundindo e divulgando o nosso trabalho em razão dessas semelhanças com o passado. 

CP: A atual turnê é uma apresentação em dois atos. No primeiro, as canções do CD de 1985, no segundo, interpretações de clássicos com a participação de convidados. Como esse formato foi pensado?

Marcelo Bonfá: Como você disse, estamos celebrando 30 anos do nosso primeiro disco, então a ideia é de festa. O projeto foi pensado a partir da ideia da nossa gravadora, que propôs um relançamento do “Legião Urbana” para essa comemoração. Daí eu pensei em fazer uma coisa diferente. Comecei a desenhar um projeto com as fotos todas em negativo, e com as cores invertidas. A gente teve a ideia de lançar junto um segundo disco, que mostrasse o momento de transformação das músicas no estúdio, de uma coisa de garagem a algo grande. Inevitavelmente, pensamos na turnê e tocar não só o primeiro disco como também as músicas que estamos a fim. Trazer os amigos pro palco, com o objetivo de passar uma carga energética pro pessoal foi uma ideia conjunta. No palco, cada convidado tem feito uma música. Acabamos de sair da décima quarta apresentação e a vontade é sempre de voltar, porque tem sido uma verdadeira celebração.

CP: A partir da amizade, da intimidade que vocês tinham com o Renato, ele ainda exerce alguma “influência” nas escolhas e definições de vocês enquanto Legião Urbana?

Marcelo Bonfá: A gente não pensa sobre isso porque é tudo tão natural, a perda do Renato foi muito triste e ele tem uma grande relevância no que a gente faz. É como se estivesse presente sempre. Então, não tem nada que a gente possa fazer que não vá de encontro àquilo que o grupo faria. Além disso, não é um complô!

CP: Há um conflito entre você e o Dado com o Giuliano Manfredini, filho do Renato. Isso influencia de alguma maneira o andamento dos shows?

Marcelo Bonfá: De forma alguma, chegamos a um consenso sobre a questão do lançamento desse box que eu falei. Eu me abstenho de me preocupar com isso, porque já esteve no âmbito judicial, e ele [Giuliano já perdeu, então é hora de andar pra frente. Claro que atrapalhou alguns projetos, mas daqui pra frente calhou de ser um momento de festa. Então está tudo tranquilo.

CP: Uma das questões é que ele [Giuliano disse que não há Legião Urbana sem Renato. Mas você e o Dado deixaram claro que a banda não voltou e que a ideia não é que o André Frateschi seja uma interpretação do Renato ou tente imitá-lo. Como vocês chegaram até o nome dele para ser o vocal nessa reunião do grupo?

Marcelo Bonfá: O André tem uma ligação muito especial conosco e é uma pessoa super do bem. Eu o conheci quando ele tinha 10 anos, porque a mãe dele trabalhava numa peça do Marcelo Rubens Paiva em 1985 que a gente fazia parte. O moleque estava sempre no camarim. Eu lembro que uma vez ele se esgueirou da mãe e ficou trancado no corredor. Eu vi ela lá fora e perguntei “o que você tá fazendo aqui moleque?” e o levei pra dentro. Ele sempre acompanhou a Legião. Então foi uma escolha bastante natural, porque o André é especial. O cara tem uma puta voz, uma puta presença e um puta carisma. Resumindo, ele tem feito uma participação de forma emblemática e tem me chamado muito a atenção pelo carinho e profissionalismo que tem com todos. Isso é muito importante e eu tenho me surpreendido com essa pessoa. É uma coisa que vai além das expectativas e vai de encontro com o nosso objetivo, de celebrar, fazer uma grande festa. A banda tá revigorada de novos músicos,  vários amigos, uma equipe alto astral que tem muita afinidade. As pessoas saem do show muito felizes.

CP: Aqui em Porto Alegre teremos a participação de Paula Toler, Jonnata Doll e Marina Franco. Como foi a escolha?

Marcelo Bonfá: As pessoas que a gente convida são sempre nossos amigos, pessoas que a gente admira de alguma forma. O Jonnata tem contato direto com a banda, e assim como a Marina, que é uma menina do bem, está direto falando com a nossa equipe. Já a Paula é uma convidada especial. A gente é amigo desde criança e sempre tentamos fazer algo juntos e, desta vez, nossas agendas bateram. Ela é uma mulher muito bonita, com uma voz e presença de palco incríveis e que tem uma relação com nossa banda de cumplicidade muito grande. O público daí vai ter muitas energias positivas.

CP: Qual é o maior ensinamento que ser parte da Legião deixou na sua vida?

Marcelo Bonfá: Ah, difícil essa pergunta. (pausa) Mas eu acho que foi que a gente deve sempre preservar  e cuidar das boas amizades. Há vários ensinamentos, mas o principal é esse.

CP: E o que as pessoas podem aprender com as músicas da banda?

Marcelo Bonfá: A nossa principal mensagem é que as pessoas têm que tirar a bunda da cadeira e fazer as coisas pra melhorar o mundo. Nos éramos três garotos que tinham um ideal em comum que era principalmente fazer música, mas afinidade ia muito além do que só essa parte aparente. Nós juntamos a força dos três para questionar as coisas que achávamos que estavam erradas na nossa época e conseguimos referências legais para isso. Então quando eu vejo um protesto que alguém cita uma letra nossa, me faz pensar que fizemos o certo e, que bom que estamos sendo mencionados pra coisas positivas.

CP: Você citou esse momento conturbado do cenário político, mas há algo positivo?

Marcelo Bonfá: O fato das pessoas irem pra pra rua lutar pelo que é melhor pra elas e pra cidadania. Ver essas crianças e jovens indo para os colégios, e dizendo que as escolas são delas, que eles querem estudar, é sensacional! No meio de tudo isso, as pessoas mostraram que querem ter respeito, afinal, o país é nosso!

CP: O que o Bonfá anda fazendo paralelamente à turnê de 30 anos??

Marcelo Bonfá: Eu tô lançando agora uma cachaça orgânica, a “Perfeição”, e estou divulgando aos poucos nas mídias sociais um projeto de música de Alambique, que são músicas que envolvem uma ideia do que é qualidade de vida pra mim. E isso diz respeito a tomar uma cachacinha de vez em quando, né? (risos). Então eu tô numa campanha de crowdfunding para levantar dinheiro pra finalizar esse CD que vai ficar bem legal. Ah, e semana passada abriu uma brecha na agenda e eu fui para Nova Iorque ser nomeado Embaixador da Boa Vontade pela Organização dsa Nações Unidas. Então eu tô super importante, porque é uma faixa que a Angelina Jolie e o Brad Pitt também carregam! (risos). Brincadeiras à parte, eu estou muito feliz com esse reconhecimento de trazer uma organização que mexe com música e por ajudar na inclusão social através da arte. É um momento muito especial na minha vida, porque eu sempre defendi as causas sustentáveis e agora tenho um engajamento direto pra ajudar a cumprir com os 17 objetivos para o desenvolvimento sustentável. Isso só valida meu engajamento, então foi um grande prazer.

Por Eric Raupp

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