Max Cavalera: "Meu dia a dia é rock'n'roll 24 horas. Não é hobby, é um estilo de vida"

Max Cavalera: "Meu dia a dia é rock'n'roll 24 horas. Não é hobby, é um estilo de vida"

Em entrevista ao Correio do Povo, artista falou carreira e show em Porto Alegre

Chico Izidro

Max deixou o Sepultura em 1996, e no ano seguinte formou o Soulfly

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Após passar por Recife, Belo Horizonte e São Paulo, a turnê "Max & Iggor Cavalera 89/91 Era Special Set List", chega neste domingo a Porto Alegre, onde os irmãos mostrarão um repertório focado nos discos clássicos da banda Sepultura, "Beneath the Remains", de 1989, e "Arise", de 1991, obras-primas do thrash metal brasileiro. Os dois são os fundadores do grupo, surgido em 1984, em Belo Horizonte, sendo que o guitarrista e vocalista Max deixou o Sepultura em 1996, e no ano seguinte formou o Soulfly. Já o baterista Iggor saiu da banda em 2006. Juntos, em 2007, eles formaram o Cavalera Conspiracy. O show na Capital gaúcha acontece no Bar Opinião (José do Patrocínio, 824), a partir das 21h. Em entrevista ao Correio do Povo, Max Cavalera falou sobre esta apresentação.

Correio do Povo: Como está sendo tocar este dois discos clássicos do Sepultura?
Max Cavalera: Estão sendo shows muito legais, diria mesmo superlegais. São apresentações animadas, carregando uma grande dose de nostalgia. O "Beneath the Remains" e o "Arise" são os sucessores do "Schizophrenia", de 1987, e são muito parecidos, a gente chama de discos irmãos. Pela agressividade das músicas, pela técnica apresentada neles. Não vejo a hora em tocar aí (Porto Alegre). Mas garanto que vamos detonar tudo, vai ser legal. Ainda mais com este repertório clássico, como por exemplo "Inner Self", "Mass Hypnosis", "Desperate Cry", "Arise", "Infected Voice".

O que você recorda da época do lançamento destes clássicos?
O nome da banda começou a aparecer de forma mais forte na imprensa internacional na época do "Beneath the Remains", em 1989. E começamos a derrubar nas paradas inglesas bandas como The Jesus and Mary Chain e New Order. E nos comparavam a Slayer e Metallica. E foi um período dourado do thrash metal. Muita coisa boa foi lançada naquela época, e que hoje são vistos como clássicos.
 
Como é revisitar as músicas dos discos? Qual a faixa que mais curte tocar de novo?
Primeiro eu tive de reaprender a tocar muitas músicas que não executava havia anos. Mas o processo de aprendizagem foi legal, tentando reproduzir o original depois de tantos anos. E tenho de ser ágil, pois o Iggor tem muita energia, ele toca muito rápido. Mas no show não apresentamos todas as músicas. Optamos por deixar algumas fora, porém garanto que vai rolar uma surpresa, que não vou te adiantar qual será...

Mas rola "Orgasmatron", cover de um clássico do Motörhead, e que está no "Arise"?
Claro! Mas a gente faz um mix com "Ace of Spade". Afinal o Motörhead é uma de nossas grandes influências.

A expectativa de tocar em Porto Alegre?
Eu sempre curti tocar no Sul. O público aí é f...bem legal, diferente do resto do país. É uma galera mais pacífica, que vai curtir o espetáculo mesmo.Tu sente o sangue no olho do pessoal. Já em São Paulo, por exemplo, o público é mais nervoso, bem neurótico.

Você mora nos Estados Unidos com a esposa e empresária Gloria, e os filhos. E esta estadia no Brasil agora?
O Brasil está em um momento conturbado, mas foco na música. E durante a turnê fiz coisas legais. Teve um dia que tirei folga, chamei a minha mãe, e fomos de carro até Congonhas (MG), a cidade do Aleijadinho. E foi fantástico visitar aquele local histórico. Deu para sentir um clima místico no ar. Apesar de ser mineiro não conhecia a cidade. Também fizemos com a banda uma viagem de ônibus, saindo de Belo Horizonte, indo a São Paulo e regressando.


CP: Como é o teu dia a dia? O que escuta além do metal?
Gosto muito do Rock Brasil dos anos 1980, Legião Urbana, Plebe Rude, Titãs. Ainda hoje recordo quando fomos elogiados pelo Renato Russo. Já o meu dia a dia é rock"n"roll 24 horas. Não é um hobby, é um estilo de vida. Sempre estou de camiseta preta, de banda. Tenho uma família unida. Eu, a Gloria (esposa) e os garotos fazemos tudo junto, visitas a museus, passeios, escutar música. E estou com 49 anos, mas me sinto como se estivesse com 15 anos.

CP: E as bandas novas, o que tu escuta?
Sou meso um grande fã de metal desde sempre. Tem muita coisa nova que venho escutando e curtindo, como como o All Pigs Must Die, que tem o baterista do Converge. Também curti os trabalhos novos do Dying Fetus e Belphegor, e achei muito legal o novo disco do Satyricon. Estou sempre ligado no que está rolando. Tem vezes que só ouço porradaria, como Dead Congregation e Blood Red Throne. Escuto também coisas como Bölzer, da Suíça.

Vou ter de tocar em um tema espinhoso para você, que é a relação com seus antigos parceiros do Sepultura. Você e o Iggor são membros fundadores do grupo, surgido em 1984, em Belo Horizonte. Você deixou o Sepultura em 1996, e no ano seguinte formou o Soulfly. Já o Iggor saiu da banda em 2006.  Será que no futuro poderia haver uma reaproximação com o Andreas Kisser e o resto do Sepultura, depois de mais de 20 anos de ter deixado a banda e de forma nada amigável, diria mesmo brigado?
No momento eles estão fazendo o lance deles e eu fazendo os meus. Nem tenho tempo de pensar neles, em nada negativo, pois foco no meu trabalho, em coisas positivas. Acredito que pensar em coisas negativas faz a vida regredir. E eu avanço sempre. Mas nunca diria que não existe a possibilidade de uma reunião. Quem sabe o futuro? Olha o pessoal do Black Sabbath que se juntou depois de vários anos e saiu por aí fazendo turnê, o Ozzy, o Tony Iommi... Eles chegaram a uma idade onde verificaram que não valia a pena guardar ressentimentos. E olha o modo como o Ozzy foi expulso do grupo no final dos anos 1970. Hoje em dia fazem apresentações matadoras. Vou ser sincero contigo, a esperança existe. Talvez um dia aconteça. Mas infelizmente por enquanto isso não rola com a gente.

 


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