Novas ações de segurança no RS

Novas ações de segurança no RS

Por Paulo Tavares

Paulo Tavares

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Vanius Cesar Santarosa tomou posse oficialmente em 4 de abril, no Palácio Piratini, como o novo Secretário de Segurança Pública do RS. depois de 35 anos de serviço pela Brigada Militar. Natural de Bento Gonçalves, é coronel da reserva da BM, tem 53 anos e ingressou na carreira de oficiais em 1987. Em 2019, passou ao posto de chefe de Operações da BM, quando foi responsável pelo planejamento de policiamento da Copa América, uma das sedes da competição naquele ano. O secretário ocupou o posto de subcomandante-geral, no qual permaneceu até abril de 2021. No mês seguinte, Santarosa assumiu o comando-geral da corporação, permanecendo até fevereiro de 2022.

O senhor assume em um momento em que duas facções estão em conflito aberto em Porto Alegre. Qual o seu plano para coibir mais mortes?

Desde o início da segunda quinzena de março, quando o monitoramento intensivo realizado pela Gestão de Estatística em Segurança (GESeg) detectou o acirramento desse conflito pontual e muito localizado na zona Sul de Porto Alegre, as forças de segurança já vêm empreendendo uma série de ações na área para coibir os delitos. O policiamento ostensivo foi reforçado com a ampliação de presença das forças táticas de batalhões da Brigada Militar (BM) na Capital e o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) intensificou o foco nas investigações para identificação de autoria dos homicídios. Já tivemos, nesse período, mais de 15 prisões e apreensão de dois adolescentes. Além disso, estamos reforçando a região também com a atuação de policiais do Batalhão de Polícia de Choque e do Batalhão de Operações Especiais, equipes altamente preparadas para fazer frente a esse cenário pontual. Não tenho dúvida de que a manutenção do trabalho integrado, com inteligência policial e investimento qualificado, premissas do RS Seguro as quais daremos continuidade, vamos retomar rapidamente as reduções nos indicadores que observamos ao longo dos últimos três anos.

As gangues, sabidamente, costumam arregimentar integrantes no sistema prisional. Existe alguma estratégia para evitar que isto ocorra?

Temos estreitado cada vez mais os laços de interação com a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), vinculada da Secretaria da Justiça e dos Sistemas Penal e Socioeducativo (SJSPS), que é a responsável pela administração do nosso sistema penal e tem feito uma série de ações, com abertura de vagas e investimentos importantes em tecnologia. Só o Avançar da SJSPS anunciou R$ 465 milhões em investimentos para implementar novas tecnologias de qualificação do sistema prisional, fortalecer serviços de inteligência, qualificar a assistência aos apenados nas áreas de saúde, educação e trabalho, modernizar o monitoramento eletrônico, além de ampliar e construir unidades prisionais e centros de atendimento socioeducativo. Vale destacar também, que dentro desse norte de integração por meio do RS Seguro, uma ação importante com relação direta das instituições da SSP, é a transferência de lideranças criminosas para penitenciárias federais, por meio das Operações Império da Lei. Nas três edições já realizadas, foram 34 transferidos, e estamos agora com trabalhos bastante avançados para desencadear a quarta edição da Império da Lei, só não posso adiantar detalhes para não prejudicar a estratégia. Essas ações são de grande importância por promoverem a neutralização da cadeia de comando do crime no RS com impacto imediato na redução de crimes e agregam ainda o efeito inibidor, ao reafirmar a intolerância do Estado com a prática de organizações criminosas em seguir ordenando delitos desde o sistema prisional.

A sua experiência como policial militar, acostumado a enfrentar conflitos, será usada como?

Dediquei 35 anos da minha vida ao serviço da Brigada Militar, onde tive a oportunidade de exercer diversas funções até chegar ao subcomando e, depois, ao comando-geral da corporação, que exerci até fevereiro desse ano. Ao meu lado, tenho como secretário adjunto o delegado Heraldo Guerreiro, também muito experiente, com 41 anos de Polícia Civil e que até assumir o cargo atual era o diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI), o maior daquela instituição. Tenho confiança de que essa experiência e a integração desses dois perfis será um fator muito positivo para que possamos avaliar com sabedoria os desafios que se apresentam, buscar os melhores entendimentos em benefício da sociedade e ajudar a construir um Estado mais seguro.

O senhor destacou que haverá continuidade no trabalho que vem sendo feito. Mas, com a violência que eclodiu na periferia de Porto Alegre e em Rio Grande, o projeto não terá que sofrer algumas mudanças?

Não podemos fazer a leitura de momento da última quinzena, que ocorre de forma muito pontual e localizada, de forma desconectada de todo o contexto e dos avanços que conquistamos nos últimos três anos, com reduções recorde de indicadores que nos levaram aos menores índices da década. Nesse período, se tivéssemos mantido o nível de crimes contra vida que se apresentava em 2018, seriam 2.056 mortes a mais, ou seja, preservamos mais de 2 mil vidas. Nos roubos de veículos, a queda nesses últimos três anos é de 69%. Nos ataques a banco, praticamente erradicamos as ações de novo cangaço e a redução, comparado com o número de ocorrências de 2018, chega a 79%. Ou seja, os números falam por si. Viramos o jogo na Segurança. Esse é o cenário macro da Segurança Pública no Estado atualmente. O acirramento de conflitos na Zona Sul de Porto Alegre e no município de Rio Grande é momentâneo e já está recebendo uma série de ações de pronta resposta pelas forças de Segurança. Alguns veículos de comunicação usaram nos últimos dias, inclusive, o termo “guerra” para se referir a esses conflitos pontuais. Com todo o respeito, e sem de forma alguma minimizar as dificuldades que essas comunidades têm enfrentado, guerra nós temos acompanhado pela TV, com as centenas de mortes e bombardeios na Ucrânia. Por aqui, já temos investigações avançadas, mais de uma dezena de prisões e reforço no policiamento ostensivo, que nos permitirão retomar a tranquilidade nessas comunidades o mais rápido possível.

A qualificação da Brigada Militar e da Polícia Civil é indiscutível, o senhor acredita que seja necessário ir além para fazer frente aos grupos criminosos?

Tanto a Brigada Militar quanto a Polícia Civil, bem como todas as instituições vinculadas da SSP, estão em permanente busca por aprimoramento e evolução. Os investimentos do Avançar na Segurança são a prova disso. Já estamos muito além do trabalho corriqueiro com a Gestão de Estatística em Segurança (GESeg) dentro do RS Seguro, também com o Sistema GESeg, ferramenta que ampliou o uso de ciência de dados para análise os indicadores de forma que possamos otimizar cada vez mais o emprego de efetivos e recursos materiais. A ampliação do uso de videomonitoramento e cercamento eletrônico, a digitalização da radiocomunicação da BM, da PC e do IGP, compra de equipamentos inéditos para o Corpo de Bombeiros, com a primeira aeronave da corporação, um helicóptero cuja aquisição já está em andamento, o indexador balístico do IGP para acelerar e qualificar as perícias de arma de fogo, enfim. Sobram exemplos do nosso compromisso, que renovo aqui, de estar em permanente busca por avanços no trabalho das forças de segurança.

Existe a possibilidade, como já foi feito no passado, em as autoridades ocuparem certas áreas, em especial da vila Cruzeiro, a exemplo do que foi feito na antiga vila dos Papeleiros, em 2008/9?

Estamos falando de um contexto de 14 anos atrás. Hoje, a realidade da Segurança Pública é um salto de eficiência e capilaridade. Já estamos presente em todas as comunidades, em todo o Rio Grande do Sul. Na grande Cruzeiro, como já mencionado, temos uma série de ações com reforço do policiamento ostensivo, de forma a ampliar a presença que já existe das forças de segurança.

No caso específico de Rio Grande, o senhor pensa em pedir apoio da Polícia Federal? Pois, existe a possibilidade de o PCC estar envolvido no tráfico de drogas via porto?

Qualquer afirmação nesse sentido seria prematura, pois investigações estão em andamento. A situação em Rio Grande está ligada ao contexto de criminalidade local e já temos, também, uma série de ações adotadas. O 5º Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), que tem sede em Pelotas, transferiu temporariamente 65 homens, somados a um reforço de 25 homens de efetivos da região, para intensificar o policiamento ostensivo. De igual forma, a Delegacia de Homicídios recebeu reforço de cinco agentes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Capital para intensificar as investigações de autorias. Na última sexta-feira (1º/4), a Polícia Civil desencadeou uma grande operação contra uma organização criminosa de tráfico de drogas e também relacionada aos homicídios ocorridos. Foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão e prisão, além de bloqueios de contas bancárias. Entre fevereiro e março, foram remetidos 22 inquéritos policiais, dos quais 18 com autoria identificada, e realizadas 39 prisões entre duas operações e medidas cautelares da força-tarefa contra homicídios na cidade.

Quais seus planos para o Interior? Alguma ação específica fora do eixo Região Metropolitana/Porto Alegre?

Seguiremos encaminhando o trabalho com base nas evidências e estatísticas que nos apontam o monitoramento realizado pela GESeg e o foco territorial nos 23 municípios priorizados, por serem as localidades onde os crimes mais acontecem, mas atentos também a eventuais movimentos em outras localidades do Interior que sejam à curva de reduções da criminalidade que temos observado de maneira geral. De outro lado, seguiremos com as diretrizes de manutenção de efetivo ostensivo, com no mínimo cinco PMs em cada cidade, e também temos agora seis Batalhões de Polícia de Choque, com a sexta unidade inaugurada no ano passado em Uruguaiana, que nos permite estar com efetivo altamente especializado em qualquer local do Estado em, no máximo, uma hora.

Qual a sua mensagem para a sociedade?

Confie na Segurança Pública. Estamos aqui 24 horas por dia para servir a sociedade. Temos uma equipe técnica, altamente qualificada, e pronta para enfrentar os desafios e os problemas que ainda temos pela frente. Utilize nossos canais de denúncia anônima, como o Disque Denúncia 181, o Denúncia Digital no site da SSP, o WhatsApp da Polícia Civil (51) 9.8444.0606, e nossos telefones de emergência. Não hesite em nos acionar e trazer informações. O anonimato é garantido e os cidadãos estarão, assim, colaborando para construção de um Rio Grande cada vez mais seguro.


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