O setor químico na pandemia

O setor químico na pandemia

Christian Bueller

Newton Battastini, Conselheiro federal do Conselho Federal de Química (CFQ)

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Conselheiro federal do Conselho Federal de Química (CFQ), Newton Battastini é presidente do Sindicato das Indústrias Químicas no Estado do Rio Grande do Sul (Sindiquim) e está à frente do Grupo Tecpon. Em entrevista ao Correio do Povo, ele fala sobre o papel do profissional do setor no combate à pandemia da Covid-19 e dos problemas que a área química sofre no país, entre eles, a possibilidade de extinção do Regime Especial da Indústria Química (Reiq).

Quais as principais atividades em que os químicos foram relevantes no combate à Covid-19?

Nas indústrias onde são fabricados os desinfetantes, detergentes, álcool gel, cosméticos, embalagem plásticas, máscaras, equipamentos médico hospitalares, a química está presente em nossas vidas de forma permanente e necessária. 

O Brasil está importando Insumo Farmacêutico Ativo (IFA). Qual o papel dos profissionais da química neste processo? 

O Brasil depende dos insumos farmacêuticos principalmente da Índia e da China, 98% destes insumos são importados. Somos praticamente dependentes. Com isso, as empresas produtoras de ativo no exterior não empregam químicos brasileiros e enviamos lucros para outros países. Precisamos urgentemente voltar a investir nesta indústria química como em outras, mas isso acontecerá somente com a reforma administrativa e tributária. 

Sabão e álcool em gel são os principais produtos citados como eficientes no combate ao vírus. Como e por que estes agentes se tornaram aliados da saúde na higienização, tanto pessoal quanto de objetos? 

Eles são eficientes, mas são somente uma parte. Precisamos ter a higienização de todas as superfícies e desinfecção das superfícies fixas com produtos eficazes e regularizados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e, para isso, a presença dos químicos é de fundamental importância. 

O senhor acredita que, com a pandemia de Covid–19, o campo de trabalho para as pesquisas na área será ampliado? De que forma? 

Pesquisa e inovação já fazem parte do nosso dia a dia. Os químicos estão permanentemente pesquisando novas moléculas para ter ações cada vez eficientes contra vírus, bactérias e fungos, porque os microrganismos são muito mutáveis. Vejamos o exemplo da gripe, cada ano é uma vacina diferente. Os antibióticos também devem sempre ser desenvolvidos para as novas cepas. Logo, a pesquisa é permanente e hoje, graças à inteligência artificial e a rastreabilidade do RNA e do DNA, em pouco espaço de tempo, definimos possíveis soluções. 

Faltam investimentos em ciência, saúde e na indústria farmacêutica, com a pandemia isso ficou claro. É possível que o cenário mude? 

O que faltam são investidores, porque o governo federal, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e os governos estaduais, por meio das suas fundações, têm condições de financiar, e os bancos de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), têm crédito. Mas devido à insegurança jurídica em diversas áreas, sem reforma tributária e administrativa, não iremos trazer investidores. 

O que aprendemos com a pandemia a respeito do setor químico? 

Que devemos cada vez mais estar atentos à Pesquisa e Desenvolvimento e as nossas escolas de química devem se atualizar, pensando para os próximos cem anos e não olhando o retrovisor, melhorando suas disciplinas para que os profissionais que virão a se formar vejam a indústria como o futuro deles e do país. 

Quais os riscos que o setor corre com a possibilidade de extinção do Regime Especial da Indústria Química (Reiq). Qual a importância dele e o que está sendo feito? 

O fim do Reiq representará aumento de impostos para a cadeia química, que pode gerar retração de demanda na ordem de R$ 2,2 bilhões, com consequentes recuos de R$ 7,5 bilhões de produção, de R$ 2,5 bilhões de valor adicionado e de 60 mil empregos. A indústria química opera com baixo nível de utilização da capacidade instalada, que foi de apenas 72% em 2020, os produtos importados representam 46% do mercado nacional e a situação pode ser agravada. 

Em termos práticos, existe o risco de fechamento de muitas fábricas? 

Desestímulo à continuidade das operações das empresas e impacto direto na manutenção de empregos e na competitividade da indústria. Não é possível falar em extinção do Reiq e desconsiderar que ainda temos carência de medidas que promovam a redução do Custo Brasil, estimado pelo próprio governo em R$ 1,3 trilhão.


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