Paulo Gustavo: "Limite do politicamente incorreto é a educação"

Paulo Gustavo: "Limite do politicamente incorreto é a educação"

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PapricaFotografia_00015 Paulo Gustavo interpreta cinco personagens em "220 Volts". Foto: Páprica Fotografia / Divulgação / CP


O ator-humorista-roteirista-diretor Paulo Gustavo está rodando o Brasil com seu espetáculo "220 Volts". Digo "seu", porque além de interpretar todas as personagens - só femininas para facilitar a logística - ele ainda assina o texto e a direção da peça, em parceria com Fil Braz. No breve bate-papo (as respostas foram enviadas por áudio no WhatsApp, que denunciava o bom humor e o sotaque carioca carregado do humorista), Paulo Gustavo fala sobre o espetáculo, que ergue sua megaprodução em Porto Alegre nesta sexta e sábado, incluindo sessão extra, lá no Teatro do Sesi.

Correio do Povo: O programa saiu da TV e foi para o teatro, ambiente completamente diferente, onde você tem o feedback do público na hora. Qual a principal diferença de fazer piada nesse momento? Rola muito mais improvisação?

Paulo Gustavo: Tem sido uma experiência ótima transformar os personagens que eram do seriado pra personagens do teatro. Claro que ali é uma linguagem diferente, né?! No “220 Volts” na TV eu interpretava pra câmera, e ali eu interpreto pro público. Abre a cortina, começa o espetáculo e a gente tem o feedback da plateia na hora. É um lugar em que me sinto muito à vontade porque já faço “Minha mãe é uma peça” há dez anos, estamos caminhando para 11 agora. O “Hiperativo” também já faço há sete anos. É um lugar que eu meio que domino. E as personagens já eram conhecidas tanto no programa quanto na internet.

As esquetes não são muito longas. Entre uma esquete e outra tem bailarinos, dança, coreografia, e o Marquinho Magela também, abrilhantando o espetáculo. Tem o Márcio Kieling, tem o Daniel Bouzas e a produção que é maravilhosa, são seis cenários diferentes. Fizemos esse espetáculo com o maior carinho e estamos tendo uma experiência maravilhosa!

CP: Por ter um tipo de humor bem "espontâneo", você já chegou a ser questionado ou criticado por alguma piada/brincadeira que fez. E isso fez você parar pra avaliar a brincadeira?

Paulo Gustavo: Rapidinho, só fazendo um adendo da primeira pergunta: Eu não sou um cara de improvisar muito não. Tanto no “Minha mãe é uma peça”, quanto no “Hiperativo” e agora no “220”, eu gosto de fazer o que eu decorei. Pode parecer espontâneo, que a gente já tá partindo pra segunda resposta, mas é tudo meio que decorado, meio pensado. Eu não sou um cara muito expert na improvisação – pelo menos, não me considero assim.

Agora, essa coisa do politicamente incorreto é uma coisa que, sempre que eu vou fazer uma piada, eu penso nisso. E acho que o limite é a educação mesmo, né?! É o bom senso. Quando quero falar uma coisa muito crítica ou criticar algo muito preconceituoso, já sei que posso usar a Senhora dos Absurdos. Quando quero debochar, por exemplo, tem a Maria Alice, e através dessa personagem eu consigo debochar desses programas de televisão que são meio caça-níquel. A Rainha da Bateria consegue criticar essa injustiça que as pessoas brincam e consideram de as rainhas da bateria não serem realmente as rainhas da comunidade e sim as atrizes de novela.  Através dessas personagens consigo fazer várias críticas. Mas sempre penso muito no que vou dizer porque a minha intenção nunca é agredir, ou magoar ou ferir alguém. Meus espetáculos são muito para família. Tudo que é trabalho que faço hoje sei que vai ter criança, pessoal da terceira idade. Gosto de fazer as coisas com muito carinho, muita educação. E eu acho que é isso só conta positivamente pra mim.

CP: Cada personagem desse espetáculo é muito peculiar e são perfis de fácil identificação. Você tem alguma pessoa ou alguma situação pontual que inspirou você a criar cada uma delas?

Paulo Gustavo: Eu tenho algumas inspirações, né?! Pra Senhora dos Absurdos, vi um vídeo anos atrás na internet de uma senhora agredindo um rapaz de rua, que estava em cima de um skate, ele não tinha uma perna e ela falava pra polícia, pra uma PM em São Paulo, pedindo pra tirar aquele “lixo” da calçada. Uma situação muito absurda, constrangedora e preconceituosa. Eu acho que a Senhora dos Absurdos, por mais absurda que ela possa ser, ela é muito real, a gente vê essas personagens na vida. A Dona Hermínia eu me inspirei na minha mãe, e eu acho que acabei me inspirando em todas. Tanto que todas as mães  se identificam. A Periquita, que é aquela apaixonada, sempre fala de amor, tá sempre com uma florzinha na cabeça, me inspirei numa amiga. Os personagens que eu faço, eu encontro eles na rua, na vida real. Até por isso eu gosto de passear bastante, sou super observador! Eu gosto de ir no supermercado, no shopping, na padaria. Gosto de viver a minha vida da forma mais natural possível porque é nela que eu encontro inspiração pros meus personagens.

CP: Das cinco personagens que você encarna, qual dá mais "trabalho", digamos assim. A mais difícil de fazer/interpretar e que carece de maior caracterização?

Paulo Gustavo: Olha, dos personagens que já faço, o que eu menos domino um pouco é o sociólogo no “220”. O nerd, às vezes, é um pouco difícil de compor. Mas os outros eu já tô meio que acostumado a fazer. O Sem Noção, o Playboy, a Senhora dos Absurdos, a Ivonete, a Vagaba, a Mulher Feia, a Dona Hermínia. Acho que todos esses outros, que já viralizaram na internet, tenho dentro de mim, não tenho tanta dificuldade de fazer. Na caracterização, os personagens masculinos não demoram muito, mas os femininos demoram à beça. O que precisa de mais tempo é a maquiagem, né?! Depois que maquia, é só a peruca e o dente, ou uma cor de olho, ou uma mudança de cílio que vai dizer se é uma personagem ou se é outra. Basicamente, o que muda mesmo é a peruca. Para caracterizar demoro um pouco mais, entre uma hora e uma hora e meia, mas é um barato, né?! Eu me divirto!

Por Susi Borges 

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