Tim Bernardes: "Neste disco, aflorou algo mais universal nas nossas músicas"

Tim Bernardes: "Neste disco, aflorou algo mais universal nas nossas músicas"

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À direita, o guitarrista, vocalista e pianista de O Terno, Tim Bernardes. TernoFoto: Felipe Poroger À direita, o guitarrista, vocalista e pianista de O Terno, Tim Bernardes. Foto: Felipe Poroger


O trio paulista O Terno, apontado como um dos melhores nomes do cenário indie brasileiro, volta ao palco do Opinião, nesta quinta-feira, às 22h, para lançar o seu terceiro álbum: “Melhor do que Parece”, que marca a estreia da banda no selo Natura Musical. O grupo formado por Tim Bernardes, de 25 anos (guitarra, vocal, piano), Guilherme D’Almeida, de 26 anos (baixo), e Gabriel Basile, de 27 anos (bateria), vem evoluindo em progressão geométrica, pois desde o início em 2009, até o tresloucado, independente e mirabolante “66”, de 2012 e o mais contido e roqueiro “O Terno”, de 2014, chegando a este disco de 2016, a banda – que sempre encarou a sonoridade típica do rock dos anos 1960 e 70, de Beatles, The Kinks e Beach Boys, aliada à psicodelia e ao pop e indie – foi mais além obtendo uma sonoridade e letras mais universais como é o caso da faixa-título “Melhor do que Parece”: “Eu tenho achado tudo chato, tudo ruim / Será que o chato aqui sou eu? / Será que fiquei viciado em novidade / E agora o tédio me enlouqueceu?”.

O disco chegou chegou às lojas e aos serviços de streaming no final de agosto, tendo belas faixas como “Deixa Fugir”, “Volta” e “Vamos Assumir” e tem videoclipe circulando pela web, de “Culpa”. Além das faixas inéditas, o repertório do show passar pelos melhores momentos de “66” e de “O Terno”, como “Ai, Ai, Como Eu Me Iludo”, “Eu Confesso”, “66”, “Zé, o Assassino Compulsivo” e “Morto”. A banda foi um dos destaques nacionais do Lollapalooza Brasil, em março. Ingressos para o show podem ser encontrados na Youcom Bourbon Wallig (sem taxas), além das demais lojas Youcom e da Multisom (Andradas, 1001 e Bourbon São Leopoldo) e online. Nesta entrevista ao Correio do Povo, Tim Bernardes conta como foi este processo de amadurecimento da banda, a sua admiração pela capacidade de serem fãs de música dos gaúchos e sobre a influência do seu pai, Maurício Pereira (Mulheres Negras) e como a banda se posiciona em relação ao mercado.

Correio do Povo: O que representa o disco “Melhor do que Parece” na carreira da banda?
Tim Bernardes: Ele representa este momento mais maduro e planejado da banda. No primeiro disco, “66”, a gente foi fazendo meio que tateando, como moleque; o segundo foi mais consciente, já sabíamos que era isto que a gente ia fazer da vida. Sem tirar a leveza, agora nós tivemos um planejamento longo, rolou o Natura Musical, um cronograma de três meses de estúdio. O músico independente tem que ser empreendedor.

CP: As letras deste disco estão carregadas de uma universalidade maior do que os outros dois. Como que o processo de criação se desenrolou?
Tim Bernardes: Não sei o quanto foi consciente esta universalidade. Foi um apanhado do que estávamos fazendo. No final do ano passado, eu mostrei as músicas que eu tinha e vimos as que estávamos com vontade de tocar. Não tinha uma unidade temática. Nos dois outros discos, as letras eram mirabolantes, específicas e malucas. Neste álbum, acabou aflorando um lado mais universal. Era a gente falando pouco e falando bastante. Decidimos fazer mais simples, porém mais lapidado, trabalhado. Ninguém ouve Dorival Caimmy ou Paul McCartney só em busca do complexo. Tínhamos estas músicas óbvias que ninguém tinha feito, como “Melhor do que Parece”, por exemplo. Conseguimos dar espaço para demonstrar a letra e a música, para ser mais lento, para criar climas que impulsionam algo maior.

CP: E o Rio Grande do Sul? Quais são as trocas que estão rolando com bandas, músicos e público do Estado?
Tim Bernardes: Desde adolescente eu conheci caras que eram amigos do meu pai, Maurício Pereira, como o Arthur de Faria, por exemplo. Eu sempre achei o Sul e Porto Alegre muito intensos. Aos 16, 17 anos, eu estava ouvindo Cachorro Grande e pensando: que coisa curiosa e particular são estes caras e me dando conta de como o Sul tem uma constelação de coisas diferentes. Cara, vocês são fãs de música de verdade, não de um gênero ou de algumas bandas. Quando gravei a bateria do novo disco do Mustache e os Apaches, uma banda paulista com um gaúcho como líder de novo me dei conta que como é bom ter pares para conversar. Pessoas que entendem o que tu fala e que te propõem coisas novas. O público gaúcho tem uma reação muito boa em relação ao disco. Eles estão curtindo o disco e pedindo direto para a gente voltar, o que vai acontecer nesta quinta. O nosso retorno pelas mídias socais. Quando finalizamos o disco, pensamos se o pessoal do Sul ia gostar, mas todo mundo gosta de música, aí a sensação é que pega por osmose, por paixão o que a gente faz. Diria que no RS a gente encontra mais nerds da música, no melhor sentido da palavra. Eu perdi o show dos Stones, em São Paulo. Assisti aí em Porto Alegre. Cara, que público, todos estavam envolvidos com aquilo. Não era modismo. Era paixão.

CP: O que significou o teu pai, Maurício Pereira, na tua carreira musical e no impulso para O Terno?
Tim Bernardes: Foi uma influência inconsciente, mas desde pequeno eu tinha acesso a todos os discos legais que podiam existir, coisas do Clube da Esquina, dos Beatles, Stones, Tim Maia. Isto mexeu numa predisposição para a música. Comecei aula de música aos 6 anos de idade. A sensação de estar sempre musical começou a virar certeza. Aí começamos a banda quando eu tinha 17 anos. Meu pai sempre foi uma baita dum cantor e letrista. Assim, o compromisso de não fazer qualquer música, de não me contentar com pouco também me moveu e entrei para valer na música.

CP: A relação de O Terno com o mercado, com o suporte, com a distribuição é diferente. Conte-nos um pouco sobre esta relação de vocês com este outro lado de ser uma banda.
Tim Bernardes: Tem o selo coletivo RISCO. Tudo parte da música, de pensar como a gente vai chegar ao público. Aí pensamos qual a melhor maneira de tornar a nossa música possível, acessível. É o trabalho pós-finalização, para que as pessoas descubram ou se familiarizem, se identifiquem com a banda. O que a gente tenta é sempre ter bem claro os nossos objetivos. Sabemos delegar, dividir bem cada atividade. Temos nossas produtoras, assessoria, boa penetração nas mídias sociais, fazendo ponte direta com os fãs e com quem ainda não conhece a banda. Todas as ferramentas são utilizadas, snapchat, instagram, sabemos quais cidades nos querem mais do que as outras. A RISCO está se firmando como uma empresa, com loja online, com outros produtos da banda. No segundo disco, “O Terno”, de 2014, lançamos um vinil numa parceria da RISCO com o selo 180 aí do Sul. Agora lançamos “O Melhor do que Parece” em CD, vamos ter um vinil e ainda uma fita cassete, mais para o fim do ano.


Por Luiz Gonzaga Lopes

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